segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

MEMÓRIAS II




E havia algo de singelo naquela paisagem,
um desejo profundo de paz,
e o poder olhar a vida
sem pressa, sem medo - Naquele espaço moravam, sossegadas, todas as almas que nos precederam.

No final do dia sentávamos na varanda esperando que o sol pincelasse o horizonte com as cores do sangue e nossa mãe apontava a chegada dos pássaros nos galhos da árvore desfolhada pelo inverno rigoroso. Aquele gesto cadenciado do braço se movendo, como se regesse uma sonata, tinha toda uma simbologia, carregado de sentimentos e de vivências guardados no peito de mulher que gerou muitas vidas. Ao fixar a paisagem sombreada pelo dia que esmorecia, seus olhos verdes brilhavam ainda mais. As perguntas - e eram tantas a fazer - ficavam no ar, no emaranhado da vida e do tempo que fluía sem pressa.

Era assim, quase todos os dias, até que Ana gritasse nos chamando para jantar. Íamos para a cozinha, levados pelo aroma do tempero explodido no fogão a lenha.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Imagem: getimagens

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

MEMÓRIAS




Mas quando era noite,
ouvia as vozes
da minha memória...
do acalanto,
do seu cheiro
no travesseiro...

da sua mão
no meu cabelo
embalando
meu coração.

Mas quando era noite,
ouvia uma canção...
que canção era?
Era sua respiração.

Mas quando era noite,
vinha o frio,
o vento zumbia,
A chama ardia...

Mas quando era noite,
tinha o fogão...
o seu sopro,
o brilho do seu rosto,
as sombras na parede.

Mas quando era noite,
o medo ia embora
no aconchego do quarto,
no colchão de capim,
no travesseiro de paina,
na cama de mola,
sob a colcha de retalhos,
sob as telhas de barro
e o forro de taquara.

Mas quando era noite,
Tinha a lamparina,
o cheiro de querosene,
a fumaça preta
desenhando caminho...
O assobio do vento,
os passos lentos
vigiando meu sono
que chegava de mansinho
levando o medo
pra longe, muito longe
pra onde estou agora.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: guiadasemana

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

NA SOMBRA DO LAGO




Na sombra do lago
vi seus olhos
brilhando, verdes
como duas esmeraldas...

Na sombra do lago
descobri sua boca
vermelha, ardente,
como morangos maduros...

Na sombra do lago
vi seus seios
arrebitados, impudicos
como dois montes brilhando...

Na sombra do lago,
nas suas águas mansas,
descobri seu corpo de curvas...
Era tudo uma coisa só:
a água, a vida, seu corpo.

Mergulhei sem saber nadar...
Perdido, eu me afoguei
nas curvas do seu corpo,
na sombra do lago.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: sensualissimo

LASCÍVIA





Abri meus olhos e vi teu sorriso...
belo... voluptuoso!
Dádiva divina de um novo dia...

Na alcova o cheiro da paixão,
fluido do teu corpo
impregnado nos lençóis
d'uma noite que não se foi...

Então...não vás... Continua a olhar-me,
que meu corpo nu ainda lateja,
meu sêmen ainda está impregnado
entre tuas pernas, com gosto de querer.

Vem, novamente, senta-te no meu colo,
deixa-me entrar no teu invólucro molhado,
fecha os olhos, geme...
Inunda meus peitos com os teus seios
e afoga-me com a tua boca e tua língua.

Grita, tomada pelo êxtase divino,
retesada em puro delírio.

Deixa a luz entrar agora
reverberando nas tuas curvas...
Que o dia seja testemunha
deste instante,
da plenitude da vida,
do teu gozo...
do meu renascimento.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: tuppan

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A DESCOBERTA DO NATAL



TEXTO DE PEDRO PAULO DE OLIVEIRA PARA O NATAL QUE SÓ EXISTE DE VERDADE NOS SONHOS DAS CRIANÇAS.




Eu descobri o Natal...
nos meus primeiros sonhos,
inocentes sonhos
de menino olhando a luz dia.

Não havia sol, chovia.
Que importava
se o o meu sonho estava ali
acordado ao meu lado
levado pelo Papai Noel
enquanto, na noite, eu dormia?

E o sino badalou,
a cidade toda acordou
e os sonhos embalou...

Mas, sonhos de verdade,
sonhos de Natal,
somente os dos meninos e meninas,
que, como eu, sonharam
com a visita do Papai Noel.


IMAGEM: FLIRT

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

SIMBIOSE




Hoje faz frio... arrepio.
Que bom... ainda é primavera,
chove... vontade da vida,
do dia e do céu condensado
de vapores...

Escuto sons... é a água
chocando-se na pedra,
escorrendo para a terra,
sendo engolida pela sede
de vida adormecida,
respirando latente
na semente.

A terra sob meus pés
Fria, molhada, cheia de vida...
Sou parte: semente, alimento, adubo...

sinto o frio úmido sob meus pés,
a vida na chuva, no húmus,
na folha que a enxurrada leva
e meu corpo, então, é parte de tudo,
levado pela chuva
se abrindo no tronco e no verde da vida.


Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: Vislumbre.

sábado, 21 de dezembro de 2013

O CIRCO DAS SOMBRAS




Sou minha própria sombra
dos dia que se foram,
das horas passadas sem fazer nada
tentando reter a vida
apenas nos deleites.

A sombra se alarga e se fecha...

Quando olho para trás, o que vejo?
Vejo meus sonhos, vocês todos...
Ouço as vozes intermitentes, latentes, gritos...
risos se fechando no meu aconchego.

Meu corpo está impregnado de presenças...
- Minha sombra -
que formam essa imensa tenda à minha volta.

No final das contas, tudo é um circo
de picadeiro e respeitável público,
onde cada um tenta mostrar seu dom:
O equilibrista... O trapezista... O domador de feras...
O palhaço... O mágico... O apresentador...
Os que aplaudem.

E eu abarco esse todo em meus braços.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: funarte

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

FRAGMENTOS





Lúdico instante perene de êxtase!

O dia se abre em fagulhas de luz,
teimoso, arrastado depois da chuva,
cobrindo as montanhas de cores,
onde o verde da primavera se impõe
e as úlitmas gotas de orvalho se esvaem.

A pedreira, ao longe, brilha como um espelho, minando a água cristalina que desce para a terra.
Sei que devo ir. Sinto a aragem entrar no meus pulmões e ouço o gado berrando amontoado no curral com as tetas cheias de vida, de sabor e calor. Sinto o aroma da broa assada vindo da cozinha onde a negra Tiana sopra o fogo para aquecer o forno: é broa feita com coalhada, cascuda por fora e molhada por dentro.

Os escravos se reunem na varanda para receberem as ordens do dia: corpos negros, rijos; sorriem e fazem burburinho. A negrinha passa cantarolando, provocante, com os seios balançando debaixo do vestido de linho e ri na direção da janelaopnde estou, mostrando os dentes muito brancos. Sinto vontade de não ir embora. Este mundo é bem melhor que o de lá, cheio e caruagens, homens usando cartolas e mulheres com vestidos sobre armações de arame: imitação tosca de Paris.


Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagens: fazendasantigas

sábado, 14 de dezembro de 2013

A LEI DOS SONHOS E O NATAL




É PRECISO SEMPRE SONHAR...
E DEIXAR FLORESCER OS SONHOS.
ROUBAR SONHOS É CRIME INAFIANÇÁVEL,
PREVISTO NO CÓDIGO DOS SONHOS.
O SONHO DEVE SER COMO A ÁGUA QUE BROTA DA TERRA,
BORBULHANDO PURA E CRISTALINA.

CÓDIGO DOS SONHOS.

ART. 1º - TODO SER HUMANO NASCE COM DIREITO A SONHAR.

§ 1º - OS PAIS SÃO OS RESPONSÁVEIS PARA DESPERTAR OS PRIMEIROS SONHOS NOS SEUS FILHOS.

§ 2º - OS PRIMEIROS SONHOS DEVERÃO SER APENAS SOBRE O AMOR E, PRINCIPALMENTE, SOBRE A SOLIDARIEDADE.

(...)


O NATAL É APENAS UMA DATA, UMA COMEMORAÇÃO COMO TANTAS OUTRAS. NO ENTANTO, CONVENCIONAMOS TRANSFORMAR O NATAL NUM DIA DE SONHOS. SONHOS QUE, PARA MUITOS, NÃO SE REALIZARÃO, TOMADOS PELA MISÉRIA, PELA FOME, PELA GUERRA, E PELO DESAMOR. É ASSIM O MUNDO. CERTAMENTE, QUASE TODOS QUE ESTIVEREM LENDO ESTE TEXTO PODERÃO SONHAR E REALIZARÃO PARTE DOS SEUS SONHOS NESTE NATAL. AO REDOR DO MUNDO, MUITOS NEM SABERÃO QUE EXISTE O NATAL.

QUE NESTE NATAL OS NOSSOS SONHOS POSSAM RETORNAR AOS MOMENTOS DE INOCÊNCIA E QUE POSSAMOS OLHAR PARA TRÁS E PARA O LADO, PARA DESCOBRIRMOS QUE A VIDA É MUITO MAIS DO QUE O NOSSO MUNDO, A NOSSA CASA, O NOSSO CORPO.

"EU VI O OLHAR DA CRIANÇA SUPLICANDO APENAS UM PRATO DE COMIDA NO NATAL! ESSE ERA O SEU SONHO DE NATAL!"

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: engeplus




sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O VALE DA VIDA




Olhai o vale. Ele está lá. Esteve sempre.

Lírios que brotam da água lodosa
na paisagem serena do vale,
onde a vida segue em frente
em um tempo eterno.

Sinto a terra, sinto o ar, a luz...
Nada está por vir,
tudo já foi cuidadosamente tramado,
desenhado, costurado, moldado.

Neste vale imenso o universo está
na água flutuante,
na luz ondulante,
nos seres errantes.

A luz se reflete na água coberta de lodo
esverdeado de vida,
e os seres se debatem
sem que os meus olhos os vejam...

O vale é o mundo
coberto de cores
para os meus olhos que olham,
para o meu corpo que sente
a vida presente.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: Blog trilhas e buscas

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

CORPO EM DECOMPOSIÇÃO.





Agora, te moves lentamente,
não podes mais te acanalhar,
perseguir, humilhar, roubar...

A solidão te apavoras,
o silências te devoras
como uma serpente
lentamente.

Roubar era teu lema:
roubastes a alma alheia
em cada parte da tua vida,
em cada casa que dissestes tua,
em cada pedaço de terra que possuístes.

Cheiras mal, o fedor da amônia,
o odor maldito dos dejetos.
Não podes mais gritar,
nem correr.... Correr?
Sim. Os passos te faltam. O tempo os roubou.

O tempo é a ave de rapina
sobre o resto da tua carcaça
que se arrasta para o túmulo
onde ficarão teus ossos.

Te pareces com os vermes,
que causam asco,
arrastando-te no meio do lodo.

Tuas mãos tateiam os restos,
não alcançam, suplicam... Em vão.

Só te restas migalhas, solidão.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira

Imagem: Noturno

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

LEMBRANÇAS DA ALCOVA




Por que te fostes e tantas eram,
deixando cálidas lembranças,
imagens que não se apagam,
insônia e delírios?

Suas sombras me olham,
caminham ao meu lado,
flutuando sem asas...
sombras de imagens cândidas,
de curvas vadias,
de bocas em fogo
queimando meu corpo.

Não quero a sombra,
que sombras assombram,
é pura solidão,
certeza das partidas,
no vazio das minhas mãos,
no transcurso do meu tempo
que se arrasta em procuras
por becos e bordéis,
em bocas e pernas abertas...

São vidas partidas, perdidas
em gozos e nojos,
em gritos e silêncios,
longes do perdão.

No final, ilusão...


Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: Adamastor

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A ÚLTIMA PÁGINA.




Vejo-te no silêncio dos meus sonhos,
não quero acordar do meio dessa bruma
de onde, envolta em mistérios,
o mistério da vida,
tu voltas teimosamente, intensamente,
sempre como da primeira vez
Olhando-me encantada,
encantando-me.
Seguravas um livro, fingias-ler,
decodificavas meu corpo...
Seduzias-me, enlaçavas-me,
enredavas-me na tua teia
iniciando a minha morte,
lenta, consciente, venturosa...
Morte em fogo, fim ditoso de todo ser apaixonado.

Agora, apenas sonho, pois que, um dia,
ao ver-te abrolho reverberando o sol,
eu nasci, eu vivi...
Despertar para que, se o sonho me consola?
Não era eu o que padecia o instante fútil
E tu, parecendo desatenta, me olhastes?
Teu parecer nada mais era do que pura sedução!
Meu despertar - meu nascer - foi naquele instante
e tu fizestes meu parto...
Fui parido pelo teu olhar.

Mantenho meus olhos cerrados,
meu corpo adormecido
para ver-te sempre,
repetindo o mesmo gesto,
acariciando meu rosto,
tocando meus lábios
sobre a espuma macia,
na alcova, sorrindo,
rindo do meu tremer.
Lembro-me e relembro:
entrei dentro do teu corpo
Com a fúria de um titã
e tuas pernas roliças, retesadas,
fecharam-se em mim.
Teu gemido vazou a vidraça,
Por onde a lua chegava,
Ínvida e redonda.

Dançarinos?... Sim.
Dançamos para o mundo
num palco colorido,
de mãos dadas,
mariposas deslumbradas,
depois da torrente,
ofuscados pela luz,
em meio à floresta,
a madeira úmida,
a vida brotando da terra
passado o vendaval.

Um dia, sorrindo ainda, te fostes:
insinuavas, não percebi.
Lias o livro no último capítulo.
Dissestes-me, naquela partida,
Que nunca me deixarias,
Impregnada que estavas em mim...
Súbito, senti uma dor, um vazio.
Mentias.
Desaparecestes na multidão,
voastes para longe...
olhei para o céu,
senti que o ser nascido esmorecia
em tênue morte
e tu vivias em meus sonhos,
Num crescendo sutil e perene,
Resto de paixão,
que para isto serve a paixão:
para matar e sonhar.
Tormento?
Não... Apenas o momento estático
na alcova, entrelaçados,
em êxtase.


Texto e imagem de Pedro Paulo de Oliveira.

Todos os direitos reservados.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

SONHOS DE MENINO




Quero a neve a congelar meu tempo
os flocos descendo, dançando em noites,
bailarinas flutuando...
A paisagem estática da água congelada
simbiose da vida diante dos meus olhos...

Meus olhos, meu sentido, olhando através do vidro
mundo adormecido, entumescido, gelado
buscando imagens no branco do gelo
do outro lado do morro
atras do muro
onde mora o menino
que não morre de jeito nenhum...

Vem inverno
vem nevasca
cobre tudo
guarda os sonhos
do menino atrás da vidraça.

Sonhos são assim
iguaizinhos
os meus guardo-os debaixo da neve
branca neve, congelados para não morrerem.

Texto: Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: kibong.com.br

O SINO




Ouço o sino
lânguido badalar
de horas e demoras
do tempo de contrição
daquela gente piedosa.

O sino anuncia a missa
chama para o enterro
repica para a festa...

As ruas e ladeiras
ecoam o sino
a gente sem pressa
subindo pelas pedras
de tantas pegadas
alisadas pelos séculos.

Sino bate... vem
rezar
sino bate... tem
missa
o sino rebate... para quem?
para o padre paramentado.

O sino silenciou
guardado em pedrarias
a gente rezou
junto, em romaria.

A cidade no morro
guarda pedras
e musgos
O sino guarda
os segredos
e anuncia:
"Deus não dorme,
não dorme, não dorme, não dorme...
Deus é para os vivos".

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Direitos reservados

Imagem: LUZDEGAIA

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

PENÚLTIMA PALAVRA





O Espaço?
– A vida
Ida
Sem traço.

O amor?
– Seu preço:
Desprezo
E dor.

O sonho?
– Infindo,
É lindo
(Suponho).

Que vou
Fazer
Do ser
Que sou?

Isto,
Aquilo,
Aqui,
Ali.

LAFORGUE, Jules( 1860 - 1887), In: ABC da literatura/ Ezra Pound. Org. e apresentação da ed. brasileira por Augusto de Campos; tradução de Augusto de Campos e José Paulo Paes. São Paulo, CUTRIX, 2006. p. 218.

Leia mais poemas de Jules Laforgue aqui: http://www.erratica.com.br/opus/100/


Texto publicado por Carmem Silvia Presotto na página do Facebook Vidráguas



DESPERTARES

Sonhou paz e amor, teve dor e ásperas esperas.
Buscou a felicidade, aspirou espinhos e fugas étereas.
Pisou fundo, cicatrizou suas entranhas.

Compassou-se no mundo…
desnudou-se das vestes.

Vestiu-se com carne…
sangrou.

Gerou vida, homens e mulheres…
despertou.

Encaixou pesadelos e pedestais…
caiu da Deusa mulher.

Carmen Silvia Presotto - Vidráguas, em Coletânea da Associação Artística e Literária: “A Palavra do Século XXI", Cruz Alta, 2009. p. 24.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

CORPOS, DELÍRIO, ÊXTASE




Por trás do teu ombro
vejo os montes trêmulos
por onde vicejam ramos
e escorre a água do mar...
Púlpito que se eleva
formando o caminho
por onde minha mãos
deslisam contritas
quase perdidas...

Sinto o abraço
o laço que me prende
o gemido sem dor
o púlpito se abrindo
meus olhos embaçados
meu grito mudo
instinto puro
entro, fecho os olhos
quero a escuridão
sem pensamentos
sem perdão.

Sinto o cheiro, o gosto do sal
o hálito envolvendo meu pescoço
dois bálsamo macios sobre meu peito...
É o instante, meu ser se esgarça
abro os olhos
vejo dois olhos
arregalados e uma boca sorrindo

Texto: Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: sites.google.com/site/jocelinjoseart/nu-artistico-casal

ORIGEM




Sois o fruto
de um desejo
por vezes fortuito
lampejo...

Filho da terra
pisarás a pedra
verás a guerra
crescerás...
germinarás...

Sois a origem
broto do útero
líquido vermelho...
filho amado.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: Graffite.

À SOMBRA DA LUA




Surpreendente e assustador:

“Mas não é só de terror que se trata o livro. (...) Conhecemos cada sentimento, cada dor e, principalmente, cada mágoa e arrependimento que os quase 300 habitantes de Vila Socorro carregam dentro de seus corações. E esse é o ingrediente principal, que dá vida a história.

Quase podemos sentir como se tudo aquilo fosse real. Mas não é, acredite, eu procurei no google.” (Nicole Bleidorn/Bookeando)

O blog Bookeando leu “À Sombra da Lua”. Confira a resenha na íntegra: http://bit.ly/17PR1Dk

sábado, 23 de novembro de 2013

SEU OLHAR, MINHA VIDA




Revejo seus olhos
pequenos radiantes de luz
verdes como o mar que você nunca viu
matizes de vidas de sonhos
iluminando meus passos
seguindo-me.

Seu sorriso seus olhos
brilhos coloridos
sons de tango e bolero
passos vistos
no olhar de vida.

Seus olhos
viram a vida... plena
brotando do seu corpo
era eu
outros tantos
ficou olhando
com medo
risonha
com lágrimas
gravando...

Depois, seu olhar
seguindo os passos
passos trôpegos
indecisos
banindo o medo
mostrando o caminho
vigiando...


Não se esqueceu
novamente admirou
o tempo se foi
em contemplação
até que se esqueceu
não avistava
sentou-se
não mais se levantou
olhando o passado
num abismo colorido
revendo as crias
com os pequeninos
verdinhos e brilhantes olhos.

Seus olhos se fecharam
cansados
guardados sob as pálpebras
o brilho ficou
na memória
na luz de cada dia
atrás das nuvens
sobre as montanhas
verdinhos como esmeraldas.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Imagem: Fantasy

Para minha mãe, transformada pelo Mal de Alzheimer e que manteve, até o último instante, o brilho nos olhos.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O TEMPO, O VENTO




Caminho,presenças, sorrisos
presente, o futuro que não há
pensamento que se eterniza
palavras.

Mãos entrelaçadas
vidas amordaçadas
presas pelo medo
palavras impressas
soltas no ar
ser querer
sentir
escrever
a esperança
o vento
o tempo
o templo
você.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Imagem: Saturno.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

DESENCANTO




Passos repassos
compassos
vidas sobre pedras
quedas
desejos insanos
profanos
humanos...

Cidades vaidades
nas esquinas
meninas
meninos feitos
meninas
olhares perdidos
vividos
vidas amordaçadas
caladas
veleidades encanto
pranto...

Becos escuros
sussurros
paredes falam
calam
imprimem
reprimem
abre-se entranhas
estranhas
carinhos fugidios
esguios...

O beijo?
não tem desejo
só o lampejo.

e no canto
ficou o pranto
desencanto
na pedra a ferida
sentida
na vida perdida.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: rotunda.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013




ESSÊNCIA... ETERNA?

Não há poesia sem dor
artista sem desilusão
vida sem paixão
paixão e loucura
viagens alucinadas,
desejos homéricos,
anseios utópicos
nos olhos da criança
nos seios da mãe.

Artista... Poeta
Menino, menina
Dançarinos...

Herói em busca de aventura
vê o âmago da vida
retorna ao ventre
viajante perdido
caminhante sem parada...

Nos seus olhos
a vida
na sua face
a paixão
nos seus gestos
a história.

a essência de tudo
pulsando no peito
início de um fim
fim que não vem

dor
paixão
sorriso...
vida.


Poesias Esparsas – Pedro Paullo – 2.009

Foto: Augusto Cabral – Capela do Espírito Santo – São Vicente de Minas - MG

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O ESCRITOR





Cá estou eu preso no tempo e no espaço, envolto pelos meus fantasmas, um pouco sossegado e, às vezes, melancólico. No fundo, sozinho, carrego meus traumas e são eles os meus fantasmas. Por isso, tornei-me um ermitão. Mas, nunca estou sozinho e posso provar isso ao longo do pouco que tenho para expor meus pensamentos neste instante.

Não faz muito tempo que construí esta minha cabana. Desenhei-a, primeiro, em meus pensamentos e ela foi se erguendo, madeira sobre madeira, madeira ao lado de madeira. Foi até fácil. A paisagem que escolhi, já estava, há tempos, guardada em meu âmago e bastou-me fechar os olhos para encontrar as montanhas verdes e úmidas que pareciam inatingíveis olhadas de longe, azuladas.

Encravei os troncos na terra úmida e logo a cabana estava de pé. Uma construção tosca, quente no inverno e amena no verão. O dormitório, a sala, o escritório e a cozinha formavam um único aposento, cheio de luz e cores. Só o banheiro foi construído separado, espaçoso e bem iluminado, com uma banheira próxima da janela. Nunca gostei de banheiros pequenos. Em volta da casa, construí um jardim; mais ao fundo, um pomar; na frente, deixei as árvores nativas. Minha cabana passou a fazer parte da paisagem.

Francisca, esposa de um lavrador da região, mulher simples, de poucas palavras e muita sabedoria, todos os dias caminha durante uma hora, cuida das minhas refeições, da arrumação da casa, das minhas roupas e, logo depois do meio-dia, despede-se e vai embora.

Levanto cedo, gosto do inverno. A natureza adormecida obriga-me a escrever mais e passo o dia sobre a escrivaninha, ao lado da janela e, de vez em quando, levanto os olhos na direção da paisagem. Durante a noite, aqueço-me diante da lareira lendo Graciliano Ramos ou Gabriel Garcia Marques. 

Quando vem a primavera, tudo muda, o mundo à minha volta se transforma. Deixo um pouco o casulo e vou cuidar das plantas. É quando eu a espero. Sei que ela não virá; está além dos meus braços; e dos meus olhos. Mesmo assim eu a espero e sempre vou espera-la, imaginando que, quando ela chegar, o seu perfume vai se confundir com a fragrância das flores e invadir tudo, tomar conta da minha vida e do mundo. Eu estarei adormecido, ela chegará com um vestido longo e transparente. É como eu gosto de vê-la chegando, provocante, sensual. Abrirei os olhos e verei seu corpo sob o tecido, cortado pela luz do sol da manhã. Tomaremos café juntos e ela me falará das suas viagens, das suas alegrias e das suas tristezas. Depois, suavemente, ela deixará seu corpo pender sobre o meu e, com ardor e paixão, se entregará por inteira aos meus desejos.

Mas, ela se vai, como não veio... É apenas uma miragem, daquelas que vislumbramos no meio do deserto, morrendo de sede. Mesmo assim, gosto da primavera, do cheiro que ela trás, das cores que mudam lentamente, do orvalho que escorre por todos os lados e das primeiras chuvas, batendo no telhado, balançando os galhos desfolhados, formando pequenas poças.

No verão faço longas caminhadas e recomponho-me nas águas do lago, por longas horas, completamente nu. Quando vem o outono, algo novo me contagia: meu ser se prepara para uma espécie de hibernação. Volto a escrever freneticamente e, nas vezes que saio, junto madeira para o inverno – fico meio parecido com as formigas. - e caminho sobre as folhas secas. A chuva, que no verão me manteve tantas vezes dentro de casa, está longe, caindo em outras plagas, regando outras plantas, acordando outras vidas.

Pressinto que logo voltará o inverno e terei, talvez, terminado mais um livro. Não sei se o mundo vai aprecia-lo. Espero que sim, pois é o que melhor sei fazer, é o que melhor posso deixar para a posteridade. Vivo com os meus personagens. Eles são gerados e vivem à minha volta, riem, choram, amam, matam, violentam; são pobres, ricos, formam exércitos; e são mortais, tal como eu. Essa é a minha vida, essa é a minha sina... Eu sou o escritor.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: superdowload

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

DESVELO DE UM ADEUS





Quisera eu que não te fosses
entremeado pela multidão inquieta...

Era apenas uma tarde,
de um dia qualquer de verão,
o trem vindo, apitando sobre os trilhos,
as pedras alisadas sob nossos pés
e o sino de bronze da estação.

Lembro-me da janela de madeira cor de vinho
com as suas bandeiras abertas olhando as almas
de tantas vidas passadas em idas e voltas.
Ouço o soluço das despedidas e o gemido da chegada
misturados ao ruido das rodas de ferro arrancando fogo
sobre pedras e madeiras.

O sol se dividia sobre os telhados
criando sombras, imagens fugidias,
seus olhos me olhavam,
seus dedos tateavam o espaço vago,
indecisos, ainda meninos, ainda carentes.

Quisera que ficasses para sempre
acalentando meus sonhos,
preso em meus abraços.

O apito corta o ar, ecoa, retine nos ouvidos.
Última chamada para a despedida,
acalento seu abraço e me afasto.
o trem se move no atrito sobre o ferro,
a janela nos separa,
distancia seus olhos dos meus olhos,
o vagão vai, arrastado pelo trem,
vai subir a montanha,
vai buscar o mar.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: realmazen

sábado, 2 de novembro de 2013

O MATADOR DE SONHOS - PARA ISABELA


Para Isabela Pavani Castilho, 18 anos, que foi baleada na cabeça na rodovia Presidente Dutra, em Guarulhos (SP), na noite de terça-feira (29), e que morreu na madrugada deste sábado. Seus órgãos foram doados para que outros sonhos possam continuar vivos





Meus olhos espreitam...

Quero roubar o sonho,
Quero arrancar o sorriso
Quero levar a vida.

Eu não sonho,
Eu não tenho vida,
Miserável que sou
Nas entranhas das trevas
Que me consome,
que me leva.
Eu bebo, eu cheiro
Eu sorvo,
Eu roubo.

Minha alma se perdeu,
não tenho piedade,
não sou filho, não sou pai...
meus irmão se foram...
Esqueci do amor,
perdi o perdão.

Sou o atroz...
Covarde desgraçado!...
Minhas palavras são poucas

Consumidas pelo ópio.
Meu olhar não gosta do seu olhar.
Não me olhe!
Sou o seu juiz
Sou o seu carrasco.

Por quê?
Não me pergunte.
Aprendi a matar,
Sou o espírito das trevas,
Seu desassossego,
Seu terror,
Seu cadafalso,
Sua pena de morte.

Quero matar seu sonho,
Por que não posso sonhar;
Quero sua vida,
Por que não tenho vida.

Hoje, vou caçar
Destroçado pela alucinação...
Pego a estrada,
Escolho a vítima,
Quero tudo que ela tem...
A vítima?...

Não merece viver.
Escuto suas súplicas...
Que idiota!
Eu sou o senhor da vida.

É uma donzela
Seus olhos brilham,
Ela é bonita,
Ela tem sonhos...
Mas seus sonhos não são meus,
Ela me olha nos olhos,
Não gosto, sou escória.
Decido se ela vai viver.

Tenho o poder nas mãos,
Sinto-me excitado...
Comprimo meus dedos,
Escuto a explosão...
A donzela ainda me olha,
Ela chora.
Lágrimas no brilho do olhar que se apaga.

Eu sou o mal encarnado,
a sua desventura...
não cruze o meu caminho,
Não me olhe,
Eu não gosto do seu olhar,
se cruzar o meu caminho
eu levo a sua vida,
eu mato os seus sonhos.


COMENTÁRIOS:

Após ponderar sobre tantas tragédias e tomar conhecimento da morte de Isabela, de forma brutal e covarde, tentei, como escritor, transcrever o que sente um assassino mordaz, cruel e implacável diante das vítimas indefesas. Quero, com isso, mostrar para o mundo, do outro lado, do lado do carrasco, que todas essas mortes foram praticadas de forma covarde e que alguma coisa tem que ser feita para mudar a situação de horror que a nossa sociedade está vivendo. Talvez, com um olhar mais profundo sobre os sentimentos desses algozes, as autoridades possam mudar essa realidade brutal e sanguinária vivida pela maioria dos brasileiros.


Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: R7

NO FIM, O ÊXTASE




Parece que tudo já foi dito,
poucos sabem alguma coisa.
muitos têm algo a dizer
poucos dizem alguma coisa

Muitas imagens, muitos desejos
quase nenhuma verdade
Muita procura
Poucos encontros

Toques, retoques
no sibilar das vozes,
no extremo das volições,
nos achados e perdidos
de noites mal dormidas,
Achaques expressos
nos olhares esguios,
promessas esvaídas
nas almas caídas,
nas penumbras vividas.

No fim, enfim...
Nada a dizer.
O que restou? O clamor...

Sentidos abertos... instintos,
pernas abertas...Absinto.
Torpor... Mentira do amor.

Pedro Paulo de Oliveira.

www.escritoresnovos.blogspot.com.

Imagem: portodefatima

DEPOIS, A CASA.





Ato, desato, vivo,
escrevo a ata,
atos em lírios
nos meus olhos,
puros delírios
no côncavo convexo
da minha mão,
do meu plexo,
cansaço do sexo,
momento sem nexo.

Brilho dos bugalhos,
ponte estreita,
travessia de retalhos,
olhos à espreita,
os lírios abertos
escondem desejos
dantes cobertos
por nuvens e lampejos.

Depois da ponte
tem a casa aberta
onde jorra a fonte
da vida incerta.

Atravessar o rio,
para trás a solidão,
noite e frio,
a densa serração,
a casa espera,
lume...
vida... Você está lá...
foi-se a quimera...
Vida... Olhos que espreitam...
Você voltou...
O mundo mudou...

A vida não para,
mas tem a ponte,
o colo que ampara
tem a casa, o calor
tem a fonte...
Tem o amor.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: wallpapers

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

JANELA DA VIDA





Ouço o sussurro das vozes
que me restaram como dádivas
no parapeito da sala
na paisagem eterna...

Não me causa espanto
o cheiro das rosas
que vem do canto
do jardim molhado
bem ali do lado
da janela acortinada
de cetim branco rendado...

Você vem sempre, teimosa,
imagem tão nítida,
não é uma só,
são tantas, de tantos amores,
desejos fugidios,
encontros, despedidas.

Meu cérebro é um álbum
de fotos e filmes,
folheio sem parar
e assisto pela tela
que se abre para o mundo
no espaço da janela,
do eu mais profundo.

Este é o lugar onde estou,
tenho a janela e a avenida
caminho do restou
do tudo, da minha vida,
vida de um tempo,
vida vivida, vida metida,
vida dividida,
a minha vida.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: Busca no Google.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

CONGONHAS






Ouço o sino da igreja
que quebra o silêncio
no emaranhado de pedras.

Vejo olhos brilhantes nas frestas,
ouço vozes clamando
sem sossego, sem aconchego,
almas perdidas, sem sono, flutuando.

O sino bate em tom,
lânguido tom
na noite que me envolve em tom.

Piso as pedras onduladas,
subo o morro de capelas
que a lua enceta em sombras,
deparo-me com os vultos,
guardiões do templo,
profetas que não morrem
moldados pelas mãos do artesão,
mãos sem dedos, desejo, paixão.

Texto: Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem de Blog: grupomariacutia.blogspot.com

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O GRANDE ESPÍRITO DAS ÁGUAS - A LENDA DE NARCISO




O céu nublado no início da primavera prenunciava o despertar do colorido da primavera. Narciso, longe da aldeia, sentiu a relva molhada sob os pés descalços, e o cheiro do húmus espalhado no ar emprestava-lhe uma sensação de paz. Olhou à sua volta, com os olhos bem arregalados, querendo sentir cada espaço em torno de si. Estava completo e esplêndido. Seus dois olhos grandes, negros e firmes, fixaram-se na água do lago, e a espuma, sob a chuva de verão, movimentava o seu reflexo de forma intermitente, latente, num brilho inconstante. Mas, aquelas ondulações não o incomodavam, pois a sua imagem era tudo que ele queria ver, colorida, com pinceladas de arte implícita, vontade de um deus, um ser supremo, um artista insatisfeito. Ah, sim. Era como ele via os deuses que criaram tudo quanto havia na terra.

A chuva havia cessado fazia algum tempo e, em meio à natureza, Narciso se sentia estranho naquela manhã, como se uma fúria houvesse passado pelo vale. No entanto, percebia algo novo nascendo. O torpor inesperadamente cessou, mas aproximaram-se os mandarins do desejo, invocando uma fúria contida no seu âmago, saindo do seu corpo e tocando a água mansa e esverdeada, e buscando as sombras que contornavam o lago. Os mandarins diziam-lhe que o sonho era eterno; diziam-lhe, ainda, que a vida nasce a cada instante sem pedir nada, a não ser o amor.

Como que levado por uma torrente, ele caminhou na direção das margens do lago. O mundo todo estava ali no lago: corpos e fantasmas. Do lado de fora, tudo parecia um vazio pastoso, escorregadio que ele não conseguia compreender ou mesmo associar. Real, apenas seu corpo nu e perfeito, e ele o desejava como nunca desejou nada na vida. Queria tocar aquela imagem no fundo do lago, por que ela era só sua e ninguém mais deveria desejá-la ou tocá-la. Seu desejo se aprofundava, esganiçando-o, e o hálito do lago o envolveu num longo suspiro até que um frio trespassou seu ser, dando-lhe uma sensação de medo e dúvida. Dúvida sobre toda a sua vida. Será que ela tinha sido real, ou seria, apenas, uma brincadeiras dos deuses?

Contudo, Narciso sabia que o seu destino só se completaria quando se integrasse com a sua imagem, quando pudesse transpô-la do etéreo para a solidez do corpo. Lá estava ela: embalando-se no frescor da água, dançando como num palco iluminado e decorado, esperando os aplausos, muitos deles, incautos e, outros poucos, atentos.

Narciso meditou por um longo tempo, como o poeta que busca palavras para o seu poema ou filósofo para suas conclusões. Olhou, novamente, tudo em volta: a chuva havia deixado o cheiro do húmus e, com ele, a sensação de que tudo iria se transformar; o céu, em branco e cinza, ganhava contornos azulados; e feixes de luzes desciam sobre o lago, procurando suas profundezas. Ele se abraçou, sentindo um leve arrepio.

Iniciou-se uma algazarra de pássaros, e Narciso se levantou, sabendo o que precisava fazer. Sentia medo, mas a paixão era maior. Recordou-se, nostálgico, do seu destino até aquele instante: filho de um deus, destinado a ser um semideus. Mas, na verdade, era vítima de um castigo, pois herdara a beleza dos deuses e o destino cruel dos homens. Amado, admirado e mortal. Ah, destino cruel que dá aos mortais a beleza e, depois, a leva embora sem dó nem piedade!

A mãe de Narciso, a mais bela de todas do povoado, desaparecera-se no tempo, tomada pelo remorso, pela paixão, envelhecida e solitária. Mas, Narciso vivera sua infância, livre, ao lado dela. Somente adolescente, compreendeu o seu destino, diferente dos outros: era o ser mais perfeito da aldeia e tantos o amavam, quanto tantos o odiavam. Soube, então, que era fruto de um amor proibido, que nascera da paixão entre um deus e a jovem mais bela da aldeia. Quando soube do seu trágico destino, caminhou sem rumo por um longo tempo, até que, cansado, parou junto ao lago para saciar a sede e, enquanto sorvia a água, deparou-se com a sua imagem balançando e passou, ali, o resto do dia, admirando-se. Isolou-se de tudo e de todos. Deixava sua casa, todos os dias pela manhã, e só voltava à noite. Passava o dia junto ao lago, alimentava-se de frutas e, nos dias de chuva, escondia-se numa cabana que construíra junto à mata.

As jovens da aldeia se uniam em pequenos grupos e, escondidas entre as folhagens, admiravam-no a banhar-se nas águas do lago. Elas voltavam para casa suspirando e se indagavam sobre qual delas seria, um dia, a escolhida dele. Narciso sabia que elas estavam olhando-o e sentia prazer em se mostrar para elas.

“Todos envelhecem - pensou olhando as pessoas velhas da aldeia - e a beleza desaparece dos seus corpos para sempre”. Novamente seu espírito se conturbou e andou, por um longo tempo, ainda mais taciturno, até o dia em que sua mãe lhe disse que seu pai a visitara e anunciara-lhe que estava a negociar com Zeus a possibilidade de torná-lo imortal. Narciso voltou a sorrir e viveu tempos de glória em que todos à sua volta sentiram a sua felicidade. Ele acreditou firmemente que seu pai conseguiria a imortalidade que ele tanto desejava e, no lago, tinha longas conversas com a sua imagem.

Um dia, numa tarde suave, estava de pé, às margens do lago e sentiu uma presença atrás de si. Virou-se, imaginando que fosse uma das jovens da aldeia. Mas era um ser diferente. Tudo nele era perfeito, transmitia-lhe paz e uma sensação jamais experimentada antes. Compreendeu que ali estava seu pai e sabia que ele viera lhe trazer a notícia da sua imortalidade. Passaram o resto da tarde juntos e Narciso soube como era a vida no Olimpo: entediante, em constante disputa pelo poder, eterna, cansativa. Uma verdadeira vida palaciana. Soube, quando a noite já descia, que continuaria mortal. Seu pai abraçou-o e se foi, dizendo-lhe que aquela era a única vez que estariam juntos, por ordem de Zeus.

Narciso odiou Zeus, como nunca havia odiado nada na vida. Tornou-se quieto, desprezando todos à sua volta. O tempo passou até que a sua mãe, triste e desiludida, suspirou nos seus braços. Ele a levou para a colina, na parte mais alta, cavou uma cova e lá depositou seu corpo em protesto a Zeus.

Durante muitas noites, sonhou com as guerras instigadas pelos habitantes do Olimpo e a imagem de um deus implacável rondou seu sono como uma sombra pesada. Mas, quando a luz do dia despontava, voltava para o lago e deleitava-se com a sua imagem, amiga fiel e indelével.

Numa manhã, olhou o povoado, os aldeões saindo para trabalhar, a fumaça fluindo das chaminés, mulheres gordas deixando suas casas com roupas para serem lavadas, os meninos correndo no meio da terra e as jovens com os cabelos trançados e com roupas brancas, falando de coisas fúteis. Foi para o lago e um grupo de moças o seguiu. Ele parou em frente à margem, livrou-se dos trajes e as jovens suspiraram mais uma vez. Ele olhou para trás e encontrou os olhares furtivos que o admiravam. Elas fugiram, envergonhadas. Narciso olhou a água pura e divagou sobre a existência, concluindo que tudo era um sonho, água, emoções e vadios interlocutores perdidos em desejos imunes e secretos. Viu todos os seres humanos vagando na água, incólumes, extasiados. Viu a vida nascendo da água e os seres, sublimes e perfeitos, flutuando, contorcendo-se, gemendo com o prazer que vem das entranhas da terra e penetra as entranhas do ser humano. E a sua imagem era tudo.


As lembranças terminadas, Narciso sentiu que o lago o chamava, pois lá estava a sua imagem, sua maior paixão. Mergulhou. Um mergulho profundo em busca da imortalidade. O lago se fechou, num redemoinho imenso, e um brilho ofuscante desceu do céu. As jovens, que voltavam para casa, viram o céu mudar de cor e ouviram uma espécie de música vinda da direção do lago. Decidiram retornar e lá não mais viram Narciso, somente suas roupas estavam sobre a relva. Mas a estranha melodia continuava, nascendo do meio da água, e elas choraram, pois compreenderam que não mais veriam Narciso. Quando a melodia parou, formou-se um círculo no meio do lago e, do centro dele, brotou uma flor, de incomparável beleza e aquelas jovens batizaram-na de a Flor de Narciso. E essa flor, a partir de então, brotou em todos os lagos do mundo e passou a se chamar, simplesmente, Narciso.



Texto de Pedro Paulo de Oliveira.


A Lenda de Narciso foi escrito em novembro de 1998

Imagem atual: arrakis-melange





ÊXTASE DOS CORPOS




É noite, na penumbra,
seu corpo se abre,
se entrega
em puro delírio,
em gozo sem fim.

É noite, o véu se abre
sinto sua intimidade
roçando minha pele
molhada, ardendo...

Sua pele arrepiada
cola-se no meu suor,
seu gemido fala ao meu ouvido,
entro dentro de você.
Seus braços me apertam
e tudo é um delírio único,
um êxtase profundo.

Nada mais é o que é,
tudo se transforma,
tudo é o corpo desnudo
em busca da paixão
em busca do delírio
eterna conjunção.


Pedro Paulo de Oliveira.
Direitos autorais

Imagem: Busca no Google.

LOUCOS DESEJOS, PERPETUAÇÃO DA VIDA.





Seres voluptuosos em busca de encontros,
Estranho sentir, entre brumas e árvores,
estranho querer que move os sentidos,
busca desesperada pelo outro, além,
doce momento de encontro e fascínio.

Sobre a relva verde de verão,
os dois corpos deslizam impudicos,
em delírio, desfeitos do tempo,
livres dos espaços, entregues
numa só conjuntura, no todo...

O toque dos dedos,
o carinho louco
da boca trêmula que deslisa
e deixa escorrer a saliva
pelas pernas que se abrem
e se dobram para o prazer.

Enfim, na suave neblina,
por onde desce o rocio,
as ancas se movem
sobre o tapete macio
fecundado pelo sêmen,
regado pela vulva latente,
no equilíbrio permanente
das vidas que se buscam,
das vidas que se encontram
perpetuando a própria vida.



Pedro Paulo de Oliveira.
todos os direitos autorais reservados

Imagem: busca no Google.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O DONO DO TEMPO




Eu queria se dono do tempo,
voltaria o tempo
e mudaria com tempo;
pararia o tempo,
para ter tempo;
daria a todos tempo
de me ter com tempo.

Mas não tenho tempo,
mesmo filho do tempo,
quem me tem é o tempo.

Venha, então, com tempo
para vivermos com tempo
as coisas do tempo
cada uma a seu tempo,
pois tudo se transforma com o tempo.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: Yahoo

domingo, 20 de outubro de 2013

HOMENAGEM AOS POETAS DO MUNDO INTEIRO.




POETA, FILHO DA DOR E DO AMOR, FEITO SONHADOR.

Poeta, eterno navegante,
só sabe sonhar o amor
vive por aí, errante
e conhece tão bem a dor.

O que seria do poeta sem a dor?
O que seria do artista sem a desilusão?
O que seria da vida sem a paixão?

A paixão leva os espíritos às maiores loucuras;
a paixão nos leva a viagens alucinadas,
viagens homéricas e utópicas;
essa paixão que já explode nos olhos da criança no colo da mãe.

Ah!...sou artista, sou poeta, sou menino;
sou dançarino,
sou herói em busca da eterna aventura;
sou aquele que vê o âmago da vida;
sou aquele que volta para o ventre da mulher;
sou aquele que se perde no meio do caminho;
sou aquele que olha pela janela o dia que esmorece;
e sou aquele que caminha, caminha, caminha e vai...

Duvida?

Olhe nos meus olhos e veja a vida que nasce sempre que acordo;
olhe para a minha face e descubra a paixão de toda a humanidade;
Olhe para meus gestos e encontre a história do universo.
Carrego no meu peito a essência do início e do fim que nunca chega.

Eu sou a dor, eu sou a paixão, o sorriso...
Sou a vida que se transforma e não morre

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: Cássia Oliveira.

sábado, 19 de outubro de 2013

O CHAMADO DO CUCO




O lançamento desse livro está sendo uma das maiores apostas da EDITORA ROCCO no ano de 2013.

O autor, ou a autora, como seria mais correto dize, é Robert Galbraith, pseudônimo usado por J. K. Rowling, autora da série Harry Potter.



O CHAMADO DO CUCO terá o seu lançamento oficial em 1º de novembro, mas já está com a sua pré-venda em várias livrarias.

Lançado em abril, no exterior, recebeu muitas críticas positivas.


Parece instigante, escrito por uma mente tão brilhante quanto a que criou a série Harry Potter.

Abaixo relação de livrarias e outros meios para se garantir a compra do livro:

A pré-venda de “O Chamado do Cuco” já começou!

Para ler em brochura, capa dura ou e-book.



LANÇAMENTO OFICIAL: 1º de novembro. Uma obra de Robert Galbraith, pseudônimo de J.K. Rowling. O romance policial mais aguardado do ano pode ser encontrado nas lojas:

[Brochura e capa dura]

- Submarino: Capa dura (http://bit.ly/GCroyT) e brochura (http://bit.ly/1fOdPMm)...
- Saraiva: Capa dura (http://bit.ly/1bEkmUw) e brochura (http://bit.ly/1gaDooq)
- Fnac: Capa dura (http://bit.ly/19Zcgmi) e brochura (http://bit.ly/176imzy)
- Livrarias Curitiba: Capa dura (http://bit.ly/1aSeLsO) e brochura (http://bit.ly/1a6u6VG)
- Ponto Frio: Capa dura (http://bit.ly/1gaEjW8) e brochura (http://bit.ly/19mVa6I)
- Livraria da Travessa: Capa dura (http://bit.ly/19ETnEn) e Brochura (http://bit.ly/1f5pBkb)
- Livraria Cultura: Capa dura (http://bit.ly/19ZbFRx) e brochura (http://bit.ly/19ZbFRx)

[E-book]

Apple
http://bit.ly/18sCxfE
Livraria Cultura
http://bit.ly/1fIgGW1
Google
http://bit.ly/1bFabyG
Amazon
http://bit.ly/19XwmRl
Kobo
http://bit.ly/1d2AoLn
Livraria Saraiva
http://bit.ly/17y2XZN
Livraria Travessa
http://bit.ly/19Wm3yS


Para oS leitores, bom proveito.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

HERDEIROS DA VIDA.




Como será o mundo daqui a cem anos?
Onde estarão meus descendentes no próximo século?
E as casas que construí, estarão ainda de pé?
E os filhos, netos e bisnetos dos meus amigos,
onde estarão e fazendo o que?
E o meus sonhos?

Construímos obras sobre pedras, ferro e barro;
guardamos e gastamos dinheiro por toda vida;
e, por sorte, somos donos de um espaço de terra
de onde brota a árvore, o trigo e o milho.
Não percebemos que para viver
só precisamos da água,
do sol, do ar e dos frutos da terra.

Ao longo da vida, juntamos números,
pedras e terra.
Somos altivos pelo quanto possuímos
e não percebemos a mutação que se opera
de forma implacável em nossos corpos.
No final, só nos resta a alma,
que segue na sua missão eterna de viajar sem rumo.

Tudo que juntamos, então, se esvai
nas mãos dos que ficaram,
na eterna e insípida disputa pela terra,
sobre a terra.

Então, por que não enxergamos que a matéria é una,
feita para decompor-se e logo transformar-se?
Não compreendemos que os nossos corpos são feitos de barro.
Não percebemos que o imortal -invisível como o átomo - é a nossa alma.
O espírito é essência, é parte do todo que é Deus,
não é moldável, não se decompõe, apenas viaja.
O espírito é a própria vida.
O espírito não pode levar nossa ambição,
a matéria que juntamos.

Sentir o espírito é sentir a essência de Deus,
é unir-se ao Todo Poderoso,
despojar-se da louca ambição.

O espírito está no olhos da criança
que deixa o útero, percebe a luz
e procura os braços da mãe.
É nesse instante a criação se torna plena e eterna.



Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Direitos autorais reservados.
Reprodução permitida, desde que citada a autoria.

Imagem: Busca no Google.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

ESSÊNCIA DE DEUS.




Não queiram minhalma
minhalma pertence ao Todo
na busca do infinito
levada pelo vento.

Minhalma nasceu antes da matéria
antes da luz,
primeiro que o tempo
parte do Todo que é Deus.

Vai o barco no rio de águas turvas
levando meu espírito pra longe
em busca do mar, do infinito,
passando por portos,
civilizações, cruzando tempestades.

Meu corpo é o barco
levado pelo vento
mirando o farol
dobrando suas velas,
singrando, seguindo em frente.

A viagem tem um tempo,
o barqueiro me conduz,
ele sabe desse tempo,
os portos se sucedem
sem paradas,
entre acenos e esquecimentos.

Já não me lembro mais de todos os lugares,
de tantos acenos e de todos os sorrisos
em tantos portos e civilizações.
Mas, alguns ficaram e os levarei comigo,
preencheram minhalma com aromas e brilhos,
pediram carona e seguiram comigo por um tempo.
Mas, foi só por um tempo,
pois que a nada pertenço,
espírito concebido, imortal, imutável,
viajando na busca do Todo,
na busca eterna de Deus.



Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Direitos autoriais reservados ao autor
Reprodução permitida, desde que citada a autoria.

Imagem: Busca no Google.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A SERPENTE DA VIDA.




Desejo impudente,
Veneno entre meus dedos,
Chamas ardentes
Sítio dos meus medos.

Neste bosque mora minha alma
Entre musgos e flores,
Folhas que cobrem o caminho,
Dos meus passos apressados.

Meu desejo é tudo,
Latência da vida que me acossa,
Que me faz seguir adiante
Atrás de sonhos e paixões,
Em busca do outro
Que sempre se vai,
Que sempre volta,
Que sempre quer,
Que me desdenha,
Que me adora.

O veneno destila, não mata,
Veneno da paixão,
Veneno que une os seres,
Serpente da vida,
Peçonha da concepção,
Do início da luz,
Dos olhos que se abrem
Saídos do útero da mulher.

Tudo é desejo,
Tudo é paixão,
Busca desenfreada
Pelo prazer, pela vida,
Sem pecado, sem pudor.

É o que somos:
Homem, mulher,
A serpente que entra
E brota do útero da fêmea.



Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Todos os direitos reservados.
Reprodução permitida, desde que citada a autoria.

Imagem: Google.




sábado, 12 de outubro de 2013

O MENINO NÃO CHORA POR SI





Eu vi o menino, eu vi a menina
soltando pipa, pulando amarelinha...

eu vi a mãe sorrindo, muito longe
num passado distante.
E vi a mãe chorando
e menino que não chora por si,
chora pela mãe,
de corpo cansado,
pele rendada,
mãos marcadas.

Menino, franzino
vivendo sozinho,
sobrevivendo
sem proteção,
sem calor,
sem afago,
sem amor.

Menino que tem medo
ao ver sua infância perdida,
arrancada e trocada pela guerra
que sobe o morro,
que beira o rio,
que anda pelas areias do mar.

A imagem de uma mãe teima,
refletida nos olhos perdidos
do menino das ruas,
nos gestos que pedem
e se perde sem o saber:
perde a inocência, perde o amor,
perde os sonhos, perde a vida.

Só tu, oh, mãe, pode salvar essa criança,
pode lhe dar de volta a infância,
pode devolver-lhe o amor que se foi
e retornar-lhe os sonhos perdidos.

O que fizeram com os seus folguedos,
nas ruas de terra, nos riachos,
nos piques, na lutas, nas amarelinhas?
para onde levaram os sonhos desse menino
e de tantas meninas?
Eram sonhos pobres, sem maldades,
eram sonhos livres
feitos de heróis e de liberdade.

Pobre menino sem terra,
sem córregos, perdido
nos labirintos de barracos...
Pobre menina sem lar,
não embala sua boneca,
esquecida, maltrapilha,
sem sonhos.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira
Todos os direitos reservados
Reprodução permitida, desde que citada a autoria.

Imagem: busca no Google.
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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A CRIANÇA QUE VIVE NA NOSSA ALMA





Que o sonho nunca termine...

O coração que bate e se emociona,
diante do olhar, diante do sorriso,
diante da inocência, diante do amor verdadeiro,
possa salva o mundo.

A criança que um dia fomos,
nunca morre.
Somos pequenos diante da dor,
somos grandes no amor.

Somos tão crianças diante do infortúnio
que clamamos por nossas mães nesses instantes.

Tal como a nossa mãe não morre nunca dentro de nós,
a criança, também, vive em nossos corações,
impulsionando nossos sentimentos, nossas ações
e impedindo que o mal prevaleça, por completo, no mundo.

Abrace seu filho,
abrace seu neto,
abrace seu sobrinho...

Abrace, então, seu pai
abrace sua mãe,
abrace seu avô
abrace sua avó.

Abrace a mãe dos seus filhos,
abrace o pai dos seus filhos.

Seja criança em um instante da sua vida
e o mundo será muito melhor,
sem guerras, sem covardias,
sem rancores, sem mentiras.

É preciso acreditar que o mundo está dentro do nosso âmago.
Esse mundo pode ser bonito e pode ser feio.
É uma escolha simples.
Assim, se a criança morrer dentro de nós,
morrerá, com ela, a humanidade.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Direitos Autoriais reservados.
Reprodução permitida, desde que citada a autoria.

Imagem: Autoria desconhecida.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

EXPRESSÃO E DELÍRIO






Relações humanas, meros decalques
reflexos dos nossos desejos,
desejos puros e selvagens.

Ao nos despirmos das máscaras,
das nossas vestes pudicas
e dos nossos penteados luminosos,
voltamos a ser animais.
Diante da nudez e da visão do púbis
voltamos para a floresta de onde viemos.

Seres selvagens, é o que somos,
gostamos de lamber o gozo
que escorre pelas pernas
e de cheirar o sexo
quando acabamos de gozar.
Sentimos prazer em ganir, gemer e urrar
diante do sexo alucinado.
Ansiamos por cada instante de junção,
entrelaçamento com o ser desejado,
cultuado, vencido, entregue.

Depois, à luz do sol,
entre as construções,
agimos como os pavões,
coloridos, dançando para as fêmeas
ou para os machos.
Pois, afinal, é o que somos:
animais machos e fêmeas.



Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: Busca no Google.

LÚDICO E ETERNO






O que escrevo não me pertence...
É parte do universo, vivo e perene,
que não sei se tem início ou fim,
mas que me absorve, me conduz, me transforma.
Sou parte da vida, tal como a ave, a árvore,
a partícula da nuvem, parte da energia que azula o céu.

Penso na eternidade olhando os seres vivos,
sinto a mutação à minha volta
na luta pela sobrevivência de cada ser.
A música me conduz às lutas,
vejo as aves pequeninas açoitando o gavião
e encontro a resposta para a luta dos seres humanos:
é a busca e o encontro com o passado,
o ser selvagem e pleno no meio da natureza.

No céu, as nuvens formam seus contornos,
faixas brancas, acinzentadas, grandes aglomerados,
no alto, no meio do azul, a luz converge para um túnel.
Vejo, novamente, a vida, num eterno vai-e-vem,
nada começando, nada acabando.
Então, sou eterno, porque vou e voltarei
e, quando voltar, serei ainda mais pleno,
pois estarei espalhado por muitos lugares
e minhas vivências não serão mais minhas.

O ser humano só morre quando não nasce,
a vida flui e permanece,
este é o sentido dela:ser perene.
Daqui a milhões de anos estarei vivo,
dentro de um corpo qualquer
e meus sentimentos serão como os de agora.

As águas que brotam da terra,
as águas do rio, as águas do mar, as águas do céu...
Longe, muito longe, os astros, o espaço sideral.
É só olhar com paciência para ver que nada mudou e nada mudará,
as coisas se acomodam, ressurgem, como se fosse do nada,
mesmo quando pensamos estar destruindo um pedaço desta terra que habitamos, pois tudo é absorvido pela luz.

A diferença entre os seres humano são os sentimentos,
o amor: ele se espalha, contagia, impregna
e nos transforma em seres eternos.

Não morre quem ama!



Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
todos os direitos reservados
Reprodução permitida desde que citada a autoria.

Imagem: Cássia Oliveira.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A VIDA





Vida... uma dádiva
dependência mútua.

Solidariedade, talvez... e amor.
Sentimentos que se perpetuam.

Tantas espécies e a proteção...
e o ser humano
continua matando

por nada:
orgulho,
prazer,
ganância,
poder.



Texto de Pedro Paulo de Oliveira

Imagem: Yahoo