segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

MEMÓRIAS II




E havia algo de singelo naquela paisagem,
um desejo profundo de paz,
e o poder olhar a vida
sem pressa, sem medo - Naquele espaço moravam, sossegadas, todas as almas que nos precederam.

No final do dia sentávamos na varanda esperando que o sol pincelasse o horizonte com as cores do sangue e nossa mãe apontava a chegada dos pássaros nos galhos da árvore desfolhada pelo inverno rigoroso. Aquele gesto cadenciado do braço se movendo, como se regesse uma sonata, tinha toda uma simbologia, carregado de sentimentos e de vivências guardados no peito de mulher que gerou muitas vidas. Ao fixar a paisagem sombreada pelo dia que esmorecia, seus olhos verdes brilhavam ainda mais. As perguntas - e eram tantas a fazer - ficavam no ar, no emaranhado da vida e do tempo que fluía sem pressa.

Era assim, quase todos os dias, até que Ana gritasse nos chamando para jantar. Íamos para a cozinha, levados pelo aroma do tempero explodido no fogão a lenha.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Imagem: getimagens

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