Certa
manhã o fazendeiro foi até o galinheiro e verificou que as galinhas haviam diminuído a produção de ovos, e pensou: “Esse galo ficou velho.
Está na hora de colocar um galo novo no galinheiro e sacrificar o
velhote. O danado num tá dando no couro mais.” Pensando assim,
selou o cavalo e seguiu até a fazenda do seu compadre que distava a poucas léguas
da sua fazenda. Sabia que lá encontraria galos novos.
No
final da tarde, voltou carregando um galo novo dentro de um saco.
Apeou, abriu o saco onde o novo galo esperneava sufocado e cagando de
medo, achando que ia ser a mistura do jantar. Mas, logo percebeu que
o seu destino era outro, ao ser jogado no meio de dezenas de galinhas
gordas e cacarejando feito loucas ao ver o novo galináceo de penas
emplumadas e coloridas pousando na terra após um curto voo.
O
galo velho, ao ver o novo morador do galinheiro, entendeu de imediato que ele
estava ali para tomar o seu lugar, e pensou: “Que merda! Tô
ferrado. Amanhã mesmo viro almoço! Preciso pensar num jeito de me
safar desta.”
O
Galo novo, com o peito estufado, logo soltou a voz num canto possante
para mostrar para as emplumadas que era ele quem mandaria no pedaço
a partir daquele dia. As galinhas se arrepiaram e começaram a rodear
o novo rei do galinheiro. Emproado, ele levantou a cabeça, deu uma
volta para destacar as cores vermelhas e pretas das suas penas; a
robustez do seu corpo; e olhou com desdém para velho galo.
Num
canto, quieto, o galo velho ruminava um plano para não ir parar na
panela. Depois de um tempo, saiu de onde estava, aproximou-se do galo
novo e perguntou: “E ai, como vão as coisas?” Orgulhoso e senhor
de si, o galo novo respondeu com sarcasmo: “ Bem, velhote, muito
bem. Mas, com você as coisas não estão bem. Sou o novo rei do
pedaço e, amanhã, você vai pra panela.” O galo velho, em tom
conformado e melancólico, respondeu: “É... É a lei da vida. Mas
tudo bem. Já que você está tão senhor de si, quero te propor um
desafio....” O galo novo interrompeu-o com uma risada e emendou:
“Um desafio...hum... Tá bom. Diga lá” O galo velho, sem perder a calma,
propôs: “Olha... Vamos apostar uma corrida. Aquele que perder sai
do galinheiro.” O galo novo riu sem parar e aceitou o desafio:
“Ta feito. Mas você vai passar vergonha. Como vai ser?” O Galo
velho olhou para as galinhas, pediu que elas saíssem do meio do
galinheiro e respondeu: “ Duas voltas no galinheiro. O que vencer,
fica com o reinado. Mas... aqui... Eu to velho. Me dá, pelo menos,
uma dianteira de dois metros. O galo novo pensou, calculou o tamanho
do galinheiro, olhou o estado de velhice do seu oponente e concordou.
Acertadas
as distâncias, galinhas alvoraçadas e nenhuma acreditando que o
galo velho pudesse vencer, os dois se posicionaram para a contenda. O
Galo velho disse: “Quando eu contar até três, começamos a
corrida.” As galinhas iniciaram uma gritaria sem fim e a corrida
começou com o galo velho na dianteira.
O
fazendeiro, ouvindo a baderna no galinheiro, pensou que tivesse
ladrão na fazenda, pegou a espingarda e saiu da casa em louca
carreira. Chegando no galinheiro, presenciou a cena inusitada: o galo
velho correndo feito louco e o galo novo atrás dele quase o
alcançando. Sem hesitar, engatilhou a espingarda, mirou e atirou.
Acertou em cheio o galo novo, e exclamou, em tom de desânimo: “O
raio do galo era viado! É melhor ficar com um o galo velho e
pouco ovo do que um viado com ovo nenhum!
MORAL
DA ESTÓRIA: MAIS VALE A EXPERIÊNCIA E A ASTÚCIA DO QUE A FORÇA E
A OUSADIA.
Pedro Paulo de Oliveira
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