segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

MEMÓRIAS II




E havia algo de singelo naquela paisagem,
um desejo profundo de paz,
e o poder olhar a vida
sem pressa, sem medo - Naquele espaço moravam, sossegadas, todas as almas que nos precederam.

No final do dia sentávamos na varanda esperando que o sol pincelasse o horizonte com as cores do sangue e nossa mãe apontava a chegada dos pássaros nos galhos da árvore desfolhada pelo inverno rigoroso. Aquele gesto cadenciado do braço se movendo, como se regesse uma sonata, tinha toda uma simbologia, carregado de sentimentos e de vivências guardados no peito de mulher que gerou muitas vidas. Ao fixar a paisagem sombreada pelo dia que esmorecia, seus olhos verdes brilhavam ainda mais. As perguntas - e eram tantas a fazer - ficavam no ar, no emaranhado da vida e do tempo que fluía sem pressa.

Era assim, quase todos os dias, até que Ana gritasse nos chamando para jantar. Íamos para a cozinha, levados pelo aroma do tempero explodido no fogão a lenha.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Imagem: getimagens

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

MEMÓRIAS




Mas quando era noite,
ouvia as vozes
da minha memória...
do acalanto,
do seu cheiro
no travesseiro...

da sua mão
no meu cabelo
embalando
meu coração.

Mas quando era noite,
ouvia uma canção...
que canção era?
Era sua respiração.

Mas quando era noite,
vinha o frio,
o vento zumbia,
A chama ardia...

Mas quando era noite,
tinha o fogão...
o seu sopro,
o brilho do seu rosto,
as sombras na parede.

Mas quando era noite,
o medo ia embora
no aconchego do quarto,
no colchão de capim,
no travesseiro de paina,
na cama de mola,
sob a colcha de retalhos,
sob as telhas de barro
e o forro de taquara.

Mas quando era noite,
Tinha a lamparina,
o cheiro de querosene,
a fumaça preta
desenhando caminho...
O assobio do vento,
os passos lentos
vigiando meu sono
que chegava de mansinho
levando o medo
pra longe, muito longe
pra onde estou agora.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: guiadasemana

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

NA SOMBRA DO LAGO




Na sombra do lago
vi seus olhos
brilhando, verdes
como duas esmeraldas...

Na sombra do lago
descobri sua boca
vermelha, ardente,
como morangos maduros...

Na sombra do lago
vi seus seios
arrebitados, impudicos
como dois montes brilhando...

Na sombra do lago,
nas suas águas mansas,
descobri seu corpo de curvas...
Era tudo uma coisa só:
a água, a vida, seu corpo.

Mergulhei sem saber nadar...
Perdido, eu me afoguei
nas curvas do seu corpo,
na sombra do lago.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: sensualissimo

LASCÍVIA





Abri meus olhos e vi teu sorriso...
belo... voluptuoso!
Dádiva divina de um novo dia...

Na alcova o cheiro da paixão,
fluido do teu corpo
impregnado nos lençóis
d'uma noite que não se foi...

Então...não vás... Continua a olhar-me,
que meu corpo nu ainda lateja,
meu sêmen ainda está impregnado
entre tuas pernas, com gosto de querer.

Vem, novamente, senta-te no meu colo,
deixa-me entrar no teu invólucro molhado,
fecha os olhos, geme...
Inunda meus peitos com os teus seios
e afoga-me com a tua boca e tua língua.

Grita, tomada pelo êxtase divino,
retesada em puro delírio.

Deixa a luz entrar agora
reverberando nas tuas curvas...
Que o dia seja testemunha
deste instante,
da plenitude da vida,
do teu gozo...
do meu renascimento.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: tuppan

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A DESCOBERTA DO NATAL



TEXTO DE PEDRO PAULO DE OLIVEIRA PARA O NATAL QUE SÓ EXISTE DE VERDADE NOS SONHOS DAS CRIANÇAS.




Eu descobri o Natal...
nos meus primeiros sonhos,
inocentes sonhos
de menino olhando a luz dia.

Não havia sol, chovia.
Que importava
se o o meu sonho estava ali
acordado ao meu lado
levado pelo Papai Noel
enquanto, na noite, eu dormia?

E o sino badalou,
a cidade toda acordou
e os sonhos embalou...

Mas, sonhos de verdade,
sonhos de Natal,
somente os dos meninos e meninas,
que, como eu, sonharam
com a visita do Papai Noel.


IMAGEM: FLIRT

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

SIMBIOSE




Hoje faz frio... arrepio.
Que bom... ainda é primavera,
chove... vontade da vida,
do dia e do céu condensado
de vapores...

Escuto sons... é a água
chocando-se na pedra,
escorrendo para a terra,
sendo engolida pela sede
de vida adormecida,
respirando latente
na semente.

A terra sob meus pés
Fria, molhada, cheia de vida...
Sou parte: semente, alimento, adubo...

sinto o frio úmido sob meus pés,
a vida na chuva, no húmus,
na folha que a enxurrada leva
e meu corpo, então, é parte de tudo,
levado pela chuva
se abrindo no tronco e no verde da vida.


Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: Vislumbre.

sábado, 21 de dezembro de 2013

O CIRCO DAS SOMBRAS




Sou minha própria sombra
dos dia que se foram,
das horas passadas sem fazer nada
tentando reter a vida
apenas nos deleites.

A sombra se alarga e se fecha...

Quando olho para trás, o que vejo?
Vejo meus sonhos, vocês todos...
Ouço as vozes intermitentes, latentes, gritos...
risos se fechando no meu aconchego.

Meu corpo está impregnado de presenças...
- Minha sombra -
que formam essa imensa tenda à minha volta.

No final das contas, tudo é um circo
de picadeiro e respeitável público,
onde cada um tenta mostrar seu dom:
O equilibrista... O trapezista... O domador de feras...
O palhaço... O mágico... O apresentador...
Os que aplaudem.

E eu abarco esse todo em meus braços.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: funarte

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

FRAGMENTOS





Lúdico instante perene de êxtase!

O dia se abre em fagulhas de luz,
teimoso, arrastado depois da chuva,
cobrindo as montanhas de cores,
onde o verde da primavera se impõe
e as úlitmas gotas de orvalho se esvaem.

A pedreira, ao longe, brilha como um espelho, minando a água cristalina que desce para a terra.
Sei que devo ir. Sinto a aragem entrar no meus pulmões e ouço o gado berrando amontoado no curral com as tetas cheias de vida, de sabor e calor. Sinto o aroma da broa assada vindo da cozinha onde a negra Tiana sopra o fogo para aquecer o forno: é broa feita com coalhada, cascuda por fora e molhada por dentro.

Os escravos se reunem na varanda para receberem as ordens do dia: corpos negros, rijos; sorriem e fazem burburinho. A negrinha passa cantarolando, provocante, com os seios balançando debaixo do vestido de linho e ri na direção da janelaopnde estou, mostrando os dentes muito brancos. Sinto vontade de não ir embora. Este mundo é bem melhor que o de lá, cheio e caruagens, homens usando cartolas e mulheres com vestidos sobre armações de arame: imitação tosca de Paris.


Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagens: fazendasantigas

sábado, 14 de dezembro de 2013

A LEI DOS SONHOS E O NATAL




É PRECISO SEMPRE SONHAR...
E DEIXAR FLORESCER OS SONHOS.
ROUBAR SONHOS É CRIME INAFIANÇÁVEL,
PREVISTO NO CÓDIGO DOS SONHOS.
O SONHO DEVE SER COMO A ÁGUA QUE BROTA DA TERRA,
BORBULHANDO PURA E CRISTALINA.

CÓDIGO DOS SONHOS.

ART. 1º - TODO SER HUMANO NASCE COM DIREITO A SONHAR.

§ 1º - OS PAIS SÃO OS RESPONSÁVEIS PARA DESPERTAR OS PRIMEIROS SONHOS NOS SEUS FILHOS.

§ 2º - OS PRIMEIROS SONHOS DEVERÃO SER APENAS SOBRE O AMOR E, PRINCIPALMENTE, SOBRE A SOLIDARIEDADE.

(...)


O NATAL É APENAS UMA DATA, UMA COMEMORAÇÃO COMO TANTAS OUTRAS. NO ENTANTO, CONVENCIONAMOS TRANSFORMAR O NATAL NUM DIA DE SONHOS. SONHOS QUE, PARA MUITOS, NÃO SE REALIZARÃO, TOMADOS PELA MISÉRIA, PELA FOME, PELA GUERRA, E PELO DESAMOR. É ASSIM O MUNDO. CERTAMENTE, QUASE TODOS QUE ESTIVEREM LENDO ESTE TEXTO PODERÃO SONHAR E REALIZARÃO PARTE DOS SEUS SONHOS NESTE NATAL. AO REDOR DO MUNDO, MUITOS NEM SABERÃO QUE EXISTE O NATAL.

QUE NESTE NATAL OS NOSSOS SONHOS POSSAM RETORNAR AOS MOMENTOS DE INOCÊNCIA E QUE POSSAMOS OLHAR PARA TRÁS E PARA O LADO, PARA DESCOBRIRMOS QUE A VIDA É MUITO MAIS DO QUE O NOSSO MUNDO, A NOSSA CASA, O NOSSO CORPO.

"EU VI O OLHAR DA CRIANÇA SUPLICANDO APENAS UM PRATO DE COMIDA NO NATAL! ESSE ERA O SEU SONHO DE NATAL!"

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: engeplus




sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O VALE DA VIDA




Olhai o vale. Ele está lá. Esteve sempre.

Lírios que brotam da água lodosa
na paisagem serena do vale,
onde a vida segue em frente
em um tempo eterno.

Sinto a terra, sinto o ar, a luz...
Nada está por vir,
tudo já foi cuidadosamente tramado,
desenhado, costurado, moldado.

Neste vale imenso o universo está
na água flutuante,
na luz ondulante,
nos seres errantes.

A luz se reflete na água coberta de lodo
esverdeado de vida,
e os seres se debatem
sem que os meus olhos os vejam...

O vale é o mundo
coberto de cores
para os meus olhos que olham,
para o meu corpo que sente
a vida presente.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: Blog trilhas e buscas

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

CORPO EM DECOMPOSIÇÃO.





Agora, te moves lentamente,
não podes mais te acanalhar,
perseguir, humilhar, roubar...

A solidão te apavoras,
o silências te devoras
como uma serpente
lentamente.

Roubar era teu lema:
roubastes a alma alheia
em cada parte da tua vida,
em cada casa que dissestes tua,
em cada pedaço de terra que possuístes.

Cheiras mal, o fedor da amônia,
o odor maldito dos dejetos.
Não podes mais gritar,
nem correr.... Correr?
Sim. Os passos te faltam. O tempo os roubou.

O tempo é a ave de rapina
sobre o resto da tua carcaça
que se arrasta para o túmulo
onde ficarão teus ossos.

Te pareces com os vermes,
que causam asco,
arrastando-te no meio do lodo.

Tuas mãos tateiam os restos,
não alcançam, suplicam... Em vão.

Só te restas migalhas, solidão.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira

Imagem: Noturno

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

LEMBRANÇAS DA ALCOVA




Por que te fostes e tantas eram,
deixando cálidas lembranças,
imagens que não se apagam,
insônia e delírios?

Suas sombras me olham,
caminham ao meu lado,
flutuando sem asas...
sombras de imagens cândidas,
de curvas vadias,
de bocas em fogo
queimando meu corpo.

Não quero a sombra,
que sombras assombram,
é pura solidão,
certeza das partidas,
no vazio das minhas mãos,
no transcurso do meu tempo
que se arrasta em procuras
por becos e bordéis,
em bocas e pernas abertas...

São vidas partidas, perdidas
em gozos e nojos,
em gritos e silêncios,
longes do perdão.

No final, ilusão...


Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: Adamastor

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A ÚLTIMA PÁGINA.




Vejo-te no silêncio dos meus sonhos,
não quero acordar do meio dessa bruma
de onde, envolta em mistérios,
o mistério da vida,
tu voltas teimosamente, intensamente,
sempre como da primeira vez
Olhando-me encantada,
encantando-me.
Seguravas um livro, fingias-ler,
decodificavas meu corpo...
Seduzias-me, enlaçavas-me,
enredavas-me na tua teia
iniciando a minha morte,
lenta, consciente, venturosa...
Morte em fogo, fim ditoso de todo ser apaixonado.

Agora, apenas sonho, pois que, um dia,
ao ver-te abrolho reverberando o sol,
eu nasci, eu vivi...
Despertar para que, se o sonho me consola?
Não era eu o que padecia o instante fútil
E tu, parecendo desatenta, me olhastes?
Teu parecer nada mais era do que pura sedução!
Meu despertar - meu nascer - foi naquele instante
e tu fizestes meu parto...
Fui parido pelo teu olhar.

Mantenho meus olhos cerrados,
meu corpo adormecido
para ver-te sempre,
repetindo o mesmo gesto,
acariciando meu rosto,
tocando meus lábios
sobre a espuma macia,
na alcova, sorrindo,
rindo do meu tremer.
Lembro-me e relembro:
entrei dentro do teu corpo
Com a fúria de um titã
e tuas pernas roliças, retesadas,
fecharam-se em mim.
Teu gemido vazou a vidraça,
Por onde a lua chegava,
Ínvida e redonda.

Dançarinos?... Sim.
Dançamos para o mundo
num palco colorido,
de mãos dadas,
mariposas deslumbradas,
depois da torrente,
ofuscados pela luz,
em meio à floresta,
a madeira úmida,
a vida brotando da terra
passado o vendaval.

Um dia, sorrindo ainda, te fostes:
insinuavas, não percebi.
Lias o livro no último capítulo.
Dissestes-me, naquela partida,
Que nunca me deixarias,
Impregnada que estavas em mim...
Súbito, senti uma dor, um vazio.
Mentias.
Desaparecestes na multidão,
voastes para longe...
olhei para o céu,
senti que o ser nascido esmorecia
em tênue morte
e tu vivias em meus sonhos,
Num crescendo sutil e perene,
Resto de paixão,
que para isto serve a paixão:
para matar e sonhar.
Tormento?
Não... Apenas o momento estático
na alcova, entrelaçados,
em êxtase.


Texto e imagem de Pedro Paulo de Oliveira.

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