sexta-feira, 3 de abril de 2015

MEMÓRIAS - INAUDITA SAUDADE



"E as vozes perpassavam pela sua alma, como vento que leva a poeira e as folhas secas"

É apenas e nada mais que um ancião...
Ouço sua respiração, 
seus movimentos cadenciados
pisando no assoalho, retumbando no porão,
derrubando o cocô dos cupins 
da madeira envelhecida
sob o peso dos anos contados e rendados na pele,
maracujá de gaveta com o sumo preservado.

Restou-lhe o imenso casarão, sobrado que sobrou...
As paredes, as portas, as janelas, a cortina balançando,
alcovas, salas, corredores, cozinha, fogão a lenha adormecido,
lembranças de café no bule verde esmaltado,
angu borbulhando e espirrando,
A negra bunduda e sorridente fritando carne de porco
e os olhos pequeninos e famintos esperando a comilança.

Nas paredes cheias de vozes,
ele vê desenhos, marcas de pés e costas
e as portas que se abrem e se fecham
são testemunhas das estações
do vai e vem de existências
das permanências, das despedidas... 
e das ausências que ele não consegue mais agarrar.
Vento que passa causando calafrios
emoções, saudades – saudade de cá e de...
essa coisa que incha no peito, que aperta o coração.
O assoalho range, parece chorar pela vida
a vida que vai sempre, indo num se sabe pra onde...
mas indo, com o vento que leva a poeira e as folhas secas. 


Pedro Paulo de Oliveira.
Escritor, Poeta, Acadêmico de Direito, Palestrante e Consultor Parlamentar e Executivo.