segunda-feira, 28 de outubro de 2013

CONGONHAS






Ouço o sino da igreja
que quebra o silêncio
no emaranhado de pedras.

Vejo olhos brilhantes nas frestas,
ouço vozes clamando
sem sossego, sem aconchego,
almas perdidas, sem sono, flutuando.

O sino bate em tom,
lânguido tom
na noite que me envolve em tom.

Piso as pedras onduladas,
subo o morro de capelas
que a lua enceta em sombras,
deparo-me com os vultos,
guardiões do templo,
profetas que não morrem
moldados pelas mãos do artesão,
mãos sem dedos, desejo, paixão.

Texto: Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem de Blog: grupomariacutia.blogspot.com

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O GRANDE ESPÍRITO DAS ÁGUAS - A LENDA DE NARCISO




O céu nublado no início da primavera prenunciava o despertar do colorido da primavera. Narciso, longe da aldeia, sentiu a relva molhada sob os pés descalços, e o cheiro do húmus espalhado no ar emprestava-lhe uma sensação de paz. Olhou à sua volta, com os olhos bem arregalados, querendo sentir cada espaço em torno de si. Estava completo e esplêndido. Seus dois olhos grandes, negros e firmes, fixaram-se na água do lago, e a espuma, sob a chuva de verão, movimentava o seu reflexo de forma intermitente, latente, num brilho inconstante. Mas, aquelas ondulações não o incomodavam, pois a sua imagem era tudo que ele queria ver, colorida, com pinceladas de arte implícita, vontade de um deus, um ser supremo, um artista insatisfeito. Ah, sim. Era como ele via os deuses que criaram tudo quanto havia na terra.

A chuva havia cessado fazia algum tempo e, em meio à natureza, Narciso se sentia estranho naquela manhã, como se uma fúria houvesse passado pelo vale. No entanto, percebia algo novo nascendo. O torpor inesperadamente cessou, mas aproximaram-se os mandarins do desejo, invocando uma fúria contida no seu âmago, saindo do seu corpo e tocando a água mansa e esverdeada, e buscando as sombras que contornavam o lago. Os mandarins diziam-lhe que o sonho era eterno; diziam-lhe, ainda, que a vida nasce a cada instante sem pedir nada, a não ser o amor.

Como que levado por uma torrente, ele caminhou na direção das margens do lago. O mundo todo estava ali no lago: corpos e fantasmas. Do lado de fora, tudo parecia um vazio pastoso, escorregadio que ele não conseguia compreender ou mesmo associar. Real, apenas seu corpo nu e perfeito, e ele o desejava como nunca desejou nada na vida. Queria tocar aquela imagem no fundo do lago, por que ela era só sua e ninguém mais deveria desejá-la ou tocá-la. Seu desejo se aprofundava, esganiçando-o, e o hálito do lago o envolveu num longo suspiro até que um frio trespassou seu ser, dando-lhe uma sensação de medo e dúvida. Dúvida sobre toda a sua vida. Será que ela tinha sido real, ou seria, apenas, uma brincadeiras dos deuses?

Contudo, Narciso sabia que o seu destino só se completaria quando se integrasse com a sua imagem, quando pudesse transpô-la do etéreo para a solidez do corpo. Lá estava ela: embalando-se no frescor da água, dançando como num palco iluminado e decorado, esperando os aplausos, muitos deles, incautos e, outros poucos, atentos.

Narciso meditou por um longo tempo, como o poeta que busca palavras para o seu poema ou filósofo para suas conclusões. Olhou, novamente, tudo em volta: a chuva havia deixado o cheiro do húmus e, com ele, a sensação de que tudo iria se transformar; o céu, em branco e cinza, ganhava contornos azulados; e feixes de luzes desciam sobre o lago, procurando suas profundezas. Ele se abraçou, sentindo um leve arrepio.

Iniciou-se uma algazarra de pássaros, e Narciso se levantou, sabendo o que precisava fazer. Sentia medo, mas a paixão era maior. Recordou-se, nostálgico, do seu destino até aquele instante: filho de um deus, destinado a ser um semideus. Mas, na verdade, era vítima de um castigo, pois herdara a beleza dos deuses e o destino cruel dos homens. Amado, admirado e mortal. Ah, destino cruel que dá aos mortais a beleza e, depois, a leva embora sem dó nem piedade!

A mãe de Narciso, a mais bela de todas do povoado, desaparecera-se no tempo, tomada pelo remorso, pela paixão, envelhecida e solitária. Mas, Narciso vivera sua infância, livre, ao lado dela. Somente adolescente, compreendeu o seu destino, diferente dos outros: era o ser mais perfeito da aldeia e tantos o amavam, quanto tantos o odiavam. Soube, então, que era fruto de um amor proibido, que nascera da paixão entre um deus e a jovem mais bela da aldeia. Quando soube do seu trágico destino, caminhou sem rumo por um longo tempo, até que, cansado, parou junto ao lago para saciar a sede e, enquanto sorvia a água, deparou-se com a sua imagem balançando e passou, ali, o resto do dia, admirando-se. Isolou-se de tudo e de todos. Deixava sua casa, todos os dias pela manhã, e só voltava à noite. Passava o dia junto ao lago, alimentava-se de frutas e, nos dias de chuva, escondia-se numa cabana que construíra junto à mata.

As jovens da aldeia se uniam em pequenos grupos e, escondidas entre as folhagens, admiravam-no a banhar-se nas águas do lago. Elas voltavam para casa suspirando e se indagavam sobre qual delas seria, um dia, a escolhida dele. Narciso sabia que elas estavam olhando-o e sentia prazer em se mostrar para elas.

“Todos envelhecem - pensou olhando as pessoas velhas da aldeia - e a beleza desaparece dos seus corpos para sempre”. Novamente seu espírito se conturbou e andou, por um longo tempo, ainda mais taciturno, até o dia em que sua mãe lhe disse que seu pai a visitara e anunciara-lhe que estava a negociar com Zeus a possibilidade de torná-lo imortal. Narciso voltou a sorrir e viveu tempos de glória em que todos à sua volta sentiram a sua felicidade. Ele acreditou firmemente que seu pai conseguiria a imortalidade que ele tanto desejava e, no lago, tinha longas conversas com a sua imagem.

Um dia, numa tarde suave, estava de pé, às margens do lago e sentiu uma presença atrás de si. Virou-se, imaginando que fosse uma das jovens da aldeia. Mas era um ser diferente. Tudo nele era perfeito, transmitia-lhe paz e uma sensação jamais experimentada antes. Compreendeu que ali estava seu pai e sabia que ele viera lhe trazer a notícia da sua imortalidade. Passaram o resto da tarde juntos e Narciso soube como era a vida no Olimpo: entediante, em constante disputa pelo poder, eterna, cansativa. Uma verdadeira vida palaciana. Soube, quando a noite já descia, que continuaria mortal. Seu pai abraçou-o e se foi, dizendo-lhe que aquela era a única vez que estariam juntos, por ordem de Zeus.

Narciso odiou Zeus, como nunca havia odiado nada na vida. Tornou-se quieto, desprezando todos à sua volta. O tempo passou até que a sua mãe, triste e desiludida, suspirou nos seus braços. Ele a levou para a colina, na parte mais alta, cavou uma cova e lá depositou seu corpo em protesto a Zeus.

Durante muitas noites, sonhou com as guerras instigadas pelos habitantes do Olimpo e a imagem de um deus implacável rondou seu sono como uma sombra pesada. Mas, quando a luz do dia despontava, voltava para o lago e deleitava-se com a sua imagem, amiga fiel e indelével.

Numa manhã, olhou o povoado, os aldeões saindo para trabalhar, a fumaça fluindo das chaminés, mulheres gordas deixando suas casas com roupas para serem lavadas, os meninos correndo no meio da terra e as jovens com os cabelos trançados e com roupas brancas, falando de coisas fúteis. Foi para o lago e um grupo de moças o seguiu. Ele parou em frente à margem, livrou-se dos trajes e as jovens suspiraram mais uma vez. Ele olhou para trás e encontrou os olhares furtivos que o admiravam. Elas fugiram, envergonhadas. Narciso olhou a água pura e divagou sobre a existência, concluindo que tudo era um sonho, água, emoções e vadios interlocutores perdidos em desejos imunes e secretos. Viu todos os seres humanos vagando na água, incólumes, extasiados. Viu a vida nascendo da água e os seres, sublimes e perfeitos, flutuando, contorcendo-se, gemendo com o prazer que vem das entranhas da terra e penetra as entranhas do ser humano. E a sua imagem era tudo.


As lembranças terminadas, Narciso sentiu que o lago o chamava, pois lá estava a sua imagem, sua maior paixão. Mergulhou. Um mergulho profundo em busca da imortalidade. O lago se fechou, num redemoinho imenso, e um brilho ofuscante desceu do céu. As jovens, que voltavam para casa, viram o céu mudar de cor e ouviram uma espécie de música vinda da direção do lago. Decidiram retornar e lá não mais viram Narciso, somente suas roupas estavam sobre a relva. Mas a estranha melodia continuava, nascendo do meio da água, e elas choraram, pois compreenderam que não mais veriam Narciso. Quando a melodia parou, formou-se um círculo no meio do lago e, do centro dele, brotou uma flor, de incomparável beleza e aquelas jovens batizaram-na de a Flor de Narciso. E essa flor, a partir de então, brotou em todos os lagos do mundo e passou a se chamar, simplesmente, Narciso.



Texto de Pedro Paulo de Oliveira.


A Lenda de Narciso foi escrito em novembro de 1998

Imagem atual: arrakis-melange





ÊXTASE DOS CORPOS




É noite, na penumbra,
seu corpo se abre,
se entrega
em puro delírio,
em gozo sem fim.

É noite, o véu se abre
sinto sua intimidade
roçando minha pele
molhada, ardendo...

Sua pele arrepiada
cola-se no meu suor,
seu gemido fala ao meu ouvido,
entro dentro de você.
Seus braços me apertam
e tudo é um delírio único,
um êxtase profundo.

Nada mais é o que é,
tudo se transforma,
tudo é o corpo desnudo
em busca da paixão
em busca do delírio
eterna conjunção.


Pedro Paulo de Oliveira.
Direitos autorais

Imagem: Busca no Google.

LOUCOS DESEJOS, PERPETUAÇÃO DA VIDA.





Seres voluptuosos em busca de encontros,
Estranho sentir, entre brumas e árvores,
estranho querer que move os sentidos,
busca desesperada pelo outro, além,
doce momento de encontro e fascínio.

Sobre a relva verde de verão,
os dois corpos deslizam impudicos,
em delírio, desfeitos do tempo,
livres dos espaços, entregues
numa só conjuntura, no todo...

O toque dos dedos,
o carinho louco
da boca trêmula que deslisa
e deixa escorrer a saliva
pelas pernas que se abrem
e se dobram para o prazer.

Enfim, na suave neblina,
por onde desce o rocio,
as ancas se movem
sobre o tapete macio
fecundado pelo sêmen,
regado pela vulva latente,
no equilíbrio permanente
das vidas que se buscam,
das vidas que se encontram
perpetuando a própria vida.



Pedro Paulo de Oliveira.
todos os direitos autorais reservados

Imagem: busca no Google.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O DONO DO TEMPO




Eu queria se dono do tempo,
voltaria o tempo
e mudaria com tempo;
pararia o tempo,
para ter tempo;
daria a todos tempo
de me ter com tempo.

Mas não tenho tempo,
mesmo filho do tempo,
quem me tem é o tempo.

Venha, então, com tempo
para vivermos com tempo
as coisas do tempo
cada uma a seu tempo,
pois tudo se transforma com o tempo.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: Yahoo

domingo, 20 de outubro de 2013

HOMENAGEM AOS POETAS DO MUNDO INTEIRO.




POETA, FILHO DA DOR E DO AMOR, FEITO SONHADOR.

Poeta, eterno navegante,
só sabe sonhar o amor
vive por aí, errante
e conhece tão bem a dor.

O que seria do poeta sem a dor?
O que seria do artista sem a desilusão?
O que seria da vida sem a paixão?

A paixão leva os espíritos às maiores loucuras;
a paixão nos leva a viagens alucinadas,
viagens homéricas e utópicas;
essa paixão que já explode nos olhos da criança no colo da mãe.

Ah!...sou artista, sou poeta, sou menino;
sou dançarino,
sou herói em busca da eterna aventura;
sou aquele que vê o âmago da vida;
sou aquele que volta para o ventre da mulher;
sou aquele que se perde no meio do caminho;
sou aquele que olha pela janela o dia que esmorece;
e sou aquele que caminha, caminha, caminha e vai...

Duvida?

Olhe nos meus olhos e veja a vida que nasce sempre que acordo;
olhe para a minha face e descubra a paixão de toda a humanidade;
Olhe para meus gestos e encontre a história do universo.
Carrego no meu peito a essência do início e do fim que nunca chega.

Eu sou a dor, eu sou a paixão, o sorriso...
Sou a vida que se transforma e não morre

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: Cássia Oliveira.

sábado, 19 de outubro de 2013

O CHAMADO DO CUCO




O lançamento desse livro está sendo uma das maiores apostas da EDITORA ROCCO no ano de 2013.

O autor, ou a autora, como seria mais correto dize, é Robert Galbraith, pseudônimo usado por J. K. Rowling, autora da série Harry Potter.



O CHAMADO DO CUCO terá o seu lançamento oficial em 1º de novembro, mas já está com a sua pré-venda em várias livrarias.

Lançado em abril, no exterior, recebeu muitas críticas positivas.


Parece instigante, escrito por uma mente tão brilhante quanto a que criou a série Harry Potter.

Abaixo relação de livrarias e outros meios para se garantir a compra do livro:

A pré-venda de “O Chamado do Cuco” já começou!

Para ler em brochura, capa dura ou e-book.



LANÇAMENTO OFICIAL: 1º de novembro. Uma obra de Robert Galbraith, pseudônimo de J.K. Rowling. O romance policial mais aguardado do ano pode ser encontrado nas lojas:

[Brochura e capa dura]

- Submarino: Capa dura (http://bit.ly/GCroyT) e brochura (http://bit.ly/1fOdPMm)...
- Saraiva: Capa dura (http://bit.ly/1bEkmUw) e brochura (http://bit.ly/1gaDooq)
- Fnac: Capa dura (http://bit.ly/19Zcgmi) e brochura (http://bit.ly/176imzy)
- Livrarias Curitiba: Capa dura (http://bit.ly/1aSeLsO) e brochura (http://bit.ly/1a6u6VG)
- Ponto Frio: Capa dura (http://bit.ly/1gaEjW8) e brochura (http://bit.ly/19mVa6I)
- Livraria da Travessa: Capa dura (http://bit.ly/19ETnEn) e Brochura (http://bit.ly/1f5pBkb)
- Livraria Cultura: Capa dura (http://bit.ly/19ZbFRx) e brochura (http://bit.ly/19ZbFRx)

[E-book]

Apple
http://bit.ly/18sCxfE
Livraria Cultura
http://bit.ly/1fIgGW1
Google
http://bit.ly/1bFabyG
Amazon
http://bit.ly/19XwmRl
Kobo
http://bit.ly/1d2AoLn
Livraria Saraiva
http://bit.ly/17y2XZN
Livraria Travessa
http://bit.ly/19Wm3yS


Para oS leitores, bom proveito.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

HERDEIROS DA VIDA.




Como será o mundo daqui a cem anos?
Onde estarão meus descendentes no próximo século?
E as casas que construí, estarão ainda de pé?
E os filhos, netos e bisnetos dos meus amigos,
onde estarão e fazendo o que?
E o meus sonhos?

Construímos obras sobre pedras, ferro e barro;
guardamos e gastamos dinheiro por toda vida;
e, por sorte, somos donos de um espaço de terra
de onde brota a árvore, o trigo e o milho.
Não percebemos que para viver
só precisamos da água,
do sol, do ar e dos frutos da terra.

Ao longo da vida, juntamos números,
pedras e terra.
Somos altivos pelo quanto possuímos
e não percebemos a mutação que se opera
de forma implacável em nossos corpos.
No final, só nos resta a alma,
que segue na sua missão eterna de viajar sem rumo.

Tudo que juntamos, então, se esvai
nas mãos dos que ficaram,
na eterna e insípida disputa pela terra,
sobre a terra.

Então, por que não enxergamos que a matéria é una,
feita para decompor-se e logo transformar-se?
Não compreendemos que os nossos corpos são feitos de barro.
Não percebemos que o imortal -invisível como o átomo - é a nossa alma.
O espírito é essência, é parte do todo que é Deus,
não é moldável, não se decompõe, apenas viaja.
O espírito é a própria vida.
O espírito não pode levar nossa ambição,
a matéria que juntamos.

Sentir o espírito é sentir a essência de Deus,
é unir-se ao Todo Poderoso,
despojar-se da louca ambição.

O espírito está no olhos da criança
que deixa o útero, percebe a luz
e procura os braços da mãe.
É nesse instante a criação se torna plena e eterna.



Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Direitos autorais reservados.
Reprodução permitida, desde que citada a autoria.

Imagem: Busca no Google.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

ESSÊNCIA DE DEUS.




Não queiram minhalma
minhalma pertence ao Todo
na busca do infinito
levada pelo vento.

Minhalma nasceu antes da matéria
antes da luz,
primeiro que o tempo
parte do Todo que é Deus.

Vai o barco no rio de águas turvas
levando meu espírito pra longe
em busca do mar, do infinito,
passando por portos,
civilizações, cruzando tempestades.

Meu corpo é o barco
levado pelo vento
mirando o farol
dobrando suas velas,
singrando, seguindo em frente.

A viagem tem um tempo,
o barqueiro me conduz,
ele sabe desse tempo,
os portos se sucedem
sem paradas,
entre acenos e esquecimentos.

Já não me lembro mais de todos os lugares,
de tantos acenos e de todos os sorrisos
em tantos portos e civilizações.
Mas, alguns ficaram e os levarei comigo,
preencheram minhalma com aromas e brilhos,
pediram carona e seguiram comigo por um tempo.
Mas, foi só por um tempo,
pois que a nada pertenço,
espírito concebido, imortal, imutável,
viajando na busca do Todo,
na busca eterna de Deus.



Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Direitos autoriais reservados ao autor
Reprodução permitida, desde que citada a autoria.

Imagem: Busca no Google.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A SERPENTE DA VIDA.




Desejo impudente,
Veneno entre meus dedos,
Chamas ardentes
Sítio dos meus medos.

Neste bosque mora minha alma
Entre musgos e flores,
Folhas que cobrem o caminho,
Dos meus passos apressados.

Meu desejo é tudo,
Latência da vida que me acossa,
Que me faz seguir adiante
Atrás de sonhos e paixões,
Em busca do outro
Que sempre se vai,
Que sempre volta,
Que sempre quer,
Que me desdenha,
Que me adora.

O veneno destila, não mata,
Veneno da paixão,
Veneno que une os seres,
Serpente da vida,
Peçonha da concepção,
Do início da luz,
Dos olhos que se abrem
Saídos do útero da mulher.

Tudo é desejo,
Tudo é paixão,
Busca desenfreada
Pelo prazer, pela vida,
Sem pecado, sem pudor.

É o que somos:
Homem, mulher,
A serpente que entra
E brota do útero da fêmea.



Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Todos os direitos reservados.
Reprodução permitida, desde que citada a autoria.

Imagem: Google.




sábado, 12 de outubro de 2013

O MENINO NÃO CHORA POR SI





Eu vi o menino, eu vi a menina
soltando pipa, pulando amarelinha...

eu vi a mãe sorrindo, muito longe
num passado distante.
E vi a mãe chorando
e menino que não chora por si,
chora pela mãe,
de corpo cansado,
pele rendada,
mãos marcadas.

Menino, franzino
vivendo sozinho,
sobrevivendo
sem proteção,
sem calor,
sem afago,
sem amor.

Menino que tem medo
ao ver sua infância perdida,
arrancada e trocada pela guerra
que sobe o morro,
que beira o rio,
que anda pelas areias do mar.

A imagem de uma mãe teima,
refletida nos olhos perdidos
do menino das ruas,
nos gestos que pedem
e se perde sem o saber:
perde a inocência, perde o amor,
perde os sonhos, perde a vida.

Só tu, oh, mãe, pode salvar essa criança,
pode lhe dar de volta a infância,
pode devolver-lhe o amor que se foi
e retornar-lhe os sonhos perdidos.

O que fizeram com os seus folguedos,
nas ruas de terra, nos riachos,
nos piques, na lutas, nas amarelinhas?
para onde levaram os sonhos desse menino
e de tantas meninas?
Eram sonhos pobres, sem maldades,
eram sonhos livres
feitos de heróis e de liberdade.

Pobre menino sem terra,
sem córregos, perdido
nos labirintos de barracos...
Pobre menina sem lar,
não embala sua boneca,
esquecida, maltrapilha,
sem sonhos.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira
Todos os direitos reservados
Reprodução permitida, desde que citada a autoria.

Imagem: busca no Google.
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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A CRIANÇA QUE VIVE NA NOSSA ALMA





Que o sonho nunca termine...

O coração que bate e se emociona,
diante do olhar, diante do sorriso,
diante da inocência, diante do amor verdadeiro,
possa salva o mundo.

A criança que um dia fomos,
nunca morre.
Somos pequenos diante da dor,
somos grandes no amor.

Somos tão crianças diante do infortúnio
que clamamos por nossas mães nesses instantes.

Tal como a nossa mãe não morre nunca dentro de nós,
a criança, também, vive em nossos corações,
impulsionando nossos sentimentos, nossas ações
e impedindo que o mal prevaleça, por completo, no mundo.

Abrace seu filho,
abrace seu neto,
abrace seu sobrinho...

Abrace, então, seu pai
abrace sua mãe,
abrace seu avô
abrace sua avó.

Abrace a mãe dos seus filhos,
abrace o pai dos seus filhos.

Seja criança em um instante da sua vida
e o mundo será muito melhor,
sem guerras, sem covardias,
sem rancores, sem mentiras.

É preciso acreditar que o mundo está dentro do nosso âmago.
Esse mundo pode ser bonito e pode ser feio.
É uma escolha simples.
Assim, se a criança morrer dentro de nós,
morrerá, com ela, a humanidade.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Direitos Autoriais reservados.
Reprodução permitida, desde que citada a autoria.

Imagem: Autoria desconhecida.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

EXPRESSÃO E DELÍRIO






Relações humanas, meros decalques
reflexos dos nossos desejos,
desejos puros e selvagens.

Ao nos despirmos das máscaras,
das nossas vestes pudicas
e dos nossos penteados luminosos,
voltamos a ser animais.
Diante da nudez e da visão do púbis
voltamos para a floresta de onde viemos.

Seres selvagens, é o que somos,
gostamos de lamber o gozo
que escorre pelas pernas
e de cheirar o sexo
quando acabamos de gozar.
Sentimos prazer em ganir, gemer e urrar
diante do sexo alucinado.
Ansiamos por cada instante de junção,
entrelaçamento com o ser desejado,
cultuado, vencido, entregue.

Depois, à luz do sol,
entre as construções,
agimos como os pavões,
coloridos, dançando para as fêmeas
ou para os machos.
Pois, afinal, é o que somos:
animais machos e fêmeas.



Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: Busca no Google.

LÚDICO E ETERNO






O que escrevo não me pertence...
É parte do universo, vivo e perene,
que não sei se tem início ou fim,
mas que me absorve, me conduz, me transforma.
Sou parte da vida, tal como a ave, a árvore,
a partícula da nuvem, parte da energia que azula o céu.

Penso na eternidade olhando os seres vivos,
sinto a mutação à minha volta
na luta pela sobrevivência de cada ser.
A música me conduz às lutas,
vejo as aves pequeninas açoitando o gavião
e encontro a resposta para a luta dos seres humanos:
é a busca e o encontro com o passado,
o ser selvagem e pleno no meio da natureza.

No céu, as nuvens formam seus contornos,
faixas brancas, acinzentadas, grandes aglomerados,
no alto, no meio do azul, a luz converge para um túnel.
Vejo, novamente, a vida, num eterno vai-e-vem,
nada começando, nada acabando.
Então, sou eterno, porque vou e voltarei
e, quando voltar, serei ainda mais pleno,
pois estarei espalhado por muitos lugares
e minhas vivências não serão mais minhas.

O ser humano só morre quando não nasce,
a vida flui e permanece,
este é o sentido dela:ser perene.
Daqui a milhões de anos estarei vivo,
dentro de um corpo qualquer
e meus sentimentos serão como os de agora.

As águas que brotam da terra,
as águas do rio, as águas do mar, as águas do céu...
Longe, muito longe, os astros, o espaço sideral.
É só olhar com paciência para ver que nada mudou e nada mudará,
as coisas se acomodam, ressurgem, como se fosse do nada,
mesmo quando pensamos estar destruindo um pedaço desta terra que habitamos, pois tudo é absorvido pela luz.

A diferença entre os seres humano são os sentimentos,
o amor: ele se espalha, contagia, impregna
e nos transforma em seres eternos.

Não morre quem ama!



Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
todos os direitos reservados
Reprodução permitida desde que citada a autoria.

Imagem: Cássia Oliveira.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A VIDA





Vida... uma dádiva
dependência mútua.

Solidariedade, talvez... e amor.
Sentimentos que se perpetuam.

Tantas espécies e a proteção...
e o ser humano
continua matando

por nada:
orgulho,
prazer,
ganância,
poder.



Texto de Pedro Paulo de Oliveira

Imagem: Yahoo

domingo, 6 de outubro de 2013

O BARCO




O Barco se foi, perdido no mar
levando a vida, levando sonhos
levando amores, desejos...

Debalde, olhei a distância
No mar de segredos
No infinito de águas
de guerras e canções.

No fim do mar
fim dos meus olhos
o barco se perdeu
com a sua vela branca
branca de paz.

Não vejo mais o barco
mas vejo o mar.
O mar nunca se vai
sempre volta, eterno.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Todos os direitos reservados
Reprodução permitida, desde que citada a autoria

Imagem: Busca no Google.

MEUS OLHOS




O que são os olhos
senão a própria vida?
Não existe cegueira
se posso ver com os olhos da alma.

Meus olhos espelham o espírito
que busca o infinito
que tateia o inusitado
que fenece e renasce.

Meus olhos
não se apagam
mesmo diante da escuridão.



Pedro Paulo de Oliveira.
Todos os direitos reservados
Reprodução permitida, desde que citada a autoria.

Imagem: Google.

MÃOS E VIDA




MÃOS E VIDA

Mãos que guardam a essência,
que nunca cansam,
tateiam no escuro
pedem socorro, suplicam carinho.

Mãos suaves de toques sedutores,
mãos calejadas que acariciam,
mãos que seguram a enxada,
mãos que dedilham a viola.

Carinho nos cabelos
aceno na despedida
abraço na chegada
enlace na amizade
Mãos pequeninas
saindo do útero.

A porta que se abre e se fecha,
a água na face
escorrendo pelo corpo
e na palma entreaberta.

mãos que envelhecem
marcas, alinhavadas
mãos aprisionadas
brancas, negras.

O junco que se junta
formando a vida
as mãos que escrevem
expondo a alma
a poesia.


Texto: Pedro Paulo de Oliveira.
Reprodução permitida, desde que citada a autoria

Imagem: Google.

DEUS




Distante meus olhos veem as montanhas
onde brilha o sol no final do dia
incandescentes chamas no arrebol
tragando as últimas cores da natureza.

O espírito encontra, enfim, seu destino
num voo intenso, ardente, eterno
na louca viagem através da vida
pelo corpo que se desfaz.

Quem é o ser mitológico que abre as mãos
sem medo, sem pudor, poderoso, guerreiro?
É o Deus de todas as vidas,
de todas as batalhas, de todas as paixões.

No fim do mundo, na luz que se vai
vejo Deus, vejo o guerreiro
o mito empunhando sua espada
no dia que finda para os meus olhos.

E a luz que parece ter ido
volta em forma de estrelas
no espelho da lua
e Deus não morre nunca
Ele está lá, infinito,
o Deus da Guerra, o Deus da paixão.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
todos os direitos reservados.

Imagem: Cássia Oliveira.

sábado, 5 de outubro de 2013

O TREM DAS ESTAÇÕES




O apito estremece as pedras
é o trem trazendo vidas,
carregado de sonhos.
Sonhos vindo, sonhos indo
na mesma estação
sonhos de vida, sonhos de amor.
sonhos de menino, sonhos de mulher.

Dentro do trem tem o garçom
carregando prato de almoço,
equilibrista e dançarino
no meio da gente
que vai e volta sempre.

Dentro do trem tem o chefe
que grita Carlos Euler
que grita Falcão
Não grita Ribeirão
nem Barra Mansa
onde tudo começa
onde tudo termina.

Tem café e pastel na estação
gente que corre descendo do trem
na paisagem bonita de serração
e no sorriso que cada um tem.

Montanhas sem fim
de matas e chuvas
rios, córregos, cachoeiras
e caminhos de cavaleiros.

Sorriso de quem vai
sorriso de quem fica
sorriso de quem espera
sorriso de quem nunca foi
é assim a viagem de trem
é assim na estação.

Em cada parada
o olhar sobre os telhados
o desejo do moço
o sonho da menina
o velho de cócora
sem pensamentos
só com as imagens
gravadas no seu passado.


Sai o trem
Deixa Ribeirão Vermelho
chega em Lavras
Sobe a serra até Carrancas
entra em Minduri
faz parada em São Vicente de Minas
e depois em Andrelândia
vai indo até Arantina
depois, Augusto Pestana
Carlos Euler
e Passa Vinte...
Acabou Minas Gerais.

Começa o Rio de Janeiro
chega em Falcão
-Café e pastel-
segue até Quatis
depois, Barra Mansa.

A viagem termina
com gosto de fuligem
e tempero de almoço
o chefe cochila
o garçom olha da janela
os passageiros indo embora
O maquinista dá o último apito
Pra lembrar que a vida é como o trem
cheia de estações, cheia de sonhos
até um destino final.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Reprodução permitida, desde que citada a autoria

IMAGEM: GOOGLE