quinta-feira, 29 de maio de 2014

A ESSÊNCIA DO SER... MORRER, RENASCER



Não quero a flor, desterrada e sem perfume...
Leve-me ao seu jardim povoado de vida
E deixa-me deitar no seu colo trêmulo,
Pois que sua vida tremula em meu peito.

Ouça minhas súplicas silenciosas
Que chega com o rocio das montanhas
E com o farfalhar das folhas dos arvoredos
Quando eu chegar, guerreiro, vencido ou vencedor.

Dê-me suas pétalas perfumadas,
Botão se abrindo em timidez...
Não tema a chuva
Depois vem o sol.

Seus olhos brilham na bruma do alvorecer, eu sei
E seu hálito se mistura às gotas de orvalho,
Seu coração esgarçado de desejo
Explode em descompasso.

Atrás da moita de folhas verdes
Suas mãos finas e sedosas acenam,
Clamam pelo ente amado que ainda não chegou.

Não quero a flor perdida do jardim
Suas pétalas logo estarão murchas e sem vida
Seu caule, sem forças, se dobrará sobre a terra que o sustentou
E o vento das montanhas virá implacável
Levando para longe sua essência, sua matéria decomposta.

Então, não morra, não saia da terra,
Fica no seu jardim,
Fica aí a me esperar
Continua a clamar atrás da moita de folhas
Que chegarei devagar, heroicamente cansado.

Serei seu jardineiro, serei seu protetor
Cuidarei para que não morra
E que do seu ventre floresça a vida.

Ao chegar ao jardim, não quero mais nada
Somente o jardim, o seu jardim, o seu perfume
As suas pétalas, sentir a vida, a sua vida
Deitar, adormecer, replantar e renascer.


Pedro Paulo de Oliveira - 20 de março de 2013

terça-feira, 27 de maio de 2014

PALAVRAS


Escapou uma palavra
palavra ao vento,
não vale - dizem...
sumiu no tempo.
Que nada!
Palavra ecoa,
vibra...
Mesmo surdo,
mesmo mudo
pois que se faz gesto.
Deixa eu lhe falar
de mansinho no ouvido,
sussurrar
palavras melodiosas.
Viu como palavras podem ser carinhos?
Palavras não vão embora, nunca,
ficam presas nas imagens mudas,
no tempo que não termina
na retina que vibra
e desenha o mundo.
Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Imagem: Modern Times - C

CORPO E POESIA.



Sua pele rendada...
guarda caminhos,
verdades,
sonhos.

Guarda segredos,
chegadas
partidas
coragem
e medo.

Seu tempo, agora,
não é mais tempo,
é o instante,
o sorriso,
o afago.

Mãos que desenham
passos lentos,
voz em cadência,
brilho nos olhos.

Seu corpo é a história,
romances, contos, poesia.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: Fotógrafa Anastasia Pottinger.

terça-feira, 20 de maio de 2014

MEUS OSSOS




Sou apenas ossos
coberto de epiderme
nutriente para a terra
e para a continuação a vida.

Meu corpo é apenas granito
pois que, depois, no final,
restarão meu ossos
guardados, escondidos,
esquecidos.

E a vida continuará,
seguirá seu destino
e eu saberei
que estive aqui.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: derly.com.br

quinta-feira, 8 de maio de 2014

VIDAS DE PEDRA



O que é a vida senão o caminhar sobre as pedras?...


Passos latentes, intermitentes, 
num vai e vem alongado
de subidas e descidas...
casas erguidas
e muros em voltas das vidas,
muros cobertos de musgos,
povoações, ruas, vilas, cidades...



Pedras erguidas empilhadas
contra a chuva, contra o vento,
mas não resistem ao tempo
e ao tormento.

As cidades se agigantam
sobre pedras, feitas de pedras
e escondem as vidas que caminham sobre as pedras
espectros entre sombras
e medos petrificados.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: photos.uol.com.br