quinta-feira, 25 de outubro de 2007

SOLDADO DO ORIENTE



Era uma vez um ser humano que, como os demais, caminhava pela terra, respirava, se alimentava, tinha sede, tinha necessidades fisiológicas, dormia. Era um ser que, como eu ou você, sentia o vento na pele e o aroma da vida; era um ser que olhava as estrelas e, como todos, não entendia a imensidão do universo e a nossa pequinês; era um ser que nasceu do encontro de um homem com uma mulher, foi amado pela sua mãe, teve infância e sonhou, certamente, com um mundo justo para si.

Em algum lugar, algum dia, ele amou e foi amado, se entregou e a ele se entregaram de corpo e alma, conheceu a felicidade, sorriu e, como filho, pretendeu ter filhos.

Era um ser que, como a maioria dos seres humanos, queria trabalhar, ser remunerado e respeitado para buscar, na sociedade de consumo, os meios mínimos necessários para a viver com dignidade.

Mas a guerra estava se anunciando vinda do ocidente! Ele, certamente, não queria a guerra, pois sabia que seu povo, massacrado por séculos de incoerências e governos déspotas, lutava apenas para sobreviver. Mas o imperador do ocidente, preparava o dragão da morte, incitava-o a cuspir fogo no seu povo cansado e humilhado. O imperador dizia ao mundo que a sua terra precisava ser libertada do julgo do seu tirano. E certamente ele era um tirano. Mas o seu povo não queria um tirano por outro tirano.

Ele era um ser peculiar, como peculiares são os povos do Oriente, onde o sol castiga a terra, onde as tempestades não são de água, são de areia. Ele era um ser que, por costume, andava descalço e a areia escaldante já não lhe queimava os pés, por anos de caminhada sobre o calor. Acreditava em Deus e sua crença era no Deus do amor e da guerra. E era um ser que amava a sua terra, se exultava com a sua gente e sempre teve esperança em tempos melhores.

O imperador do ocidente, contudo, não relevou os sentimentos do seu povo, alegando que a guerra era necessária para extirpar da terra o tirano que ameaçava a humanidade. Mas aquele ser acreditava que atacar seu país e massacrar seu povo jamais resolveria a crueldade que paira em todos os cantos da terra. Ele sabia que, por trás da intenção do imperador, havia o desejo insano de subjugar toda a humanidade a uma condição de dependência do poder da sua nação. O império do ocidente precisa de colônias subjugadas para saciar a fome dos especuladores espalhados pelo mundo.

Ele compreendeu que tudo estava consumado, o império havia chegado e a guerra começado. No céu, o sibilar dos projéteis e o brilho das chamas surgiram inesperadamente. Ele, então, foi ao quarto, empunhou sua arma, abriu a porta da sala, despediu-se da sua família e embrenhou-se pelas ruelas de Bagdá. Era um ser como muitos e com muitos sonhos, forte e orgulhoso, mas que foi para a guerra... Não voltou para casa e os sonhos ficaram nas ruelas da sua cidade; não tem mais vida; e misturou-se à terra árida e poeirenta de um campo de batalha qualquer do Oriente. Morreu... É, foi apenas mais um que morreu. Apenas mais um... Mais um... Um.

Pedro Paulo de Oliveira

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

ESCREVER...APENAS ESCREVER?

Jamais me propus a escrever o óbvio. O óbvio sempre me causou enfastio. Vejo o cotiadiano das pessoas e não consigo compreender a razão da sordidez de muitos seres humanos que concebem suas existências no prazer único de constatar que o outro, aquele que caminha na calçada, está prestes a se aniquilar. Só o ser humano pode sentir esse prazer; só ele pode se deleitar com a desgraça alheia. Isso é óbvio!
Quero falar da dívida que a vida deixou dentro da alma de cada um de nós quando buscamos encontrar o verdadeiro sentido da nossa existência e nos deparamos com o inusitado: um olhar, um toque, uma estrela cadente;... daquele momento em que abandonamos tudo e vamos em busca do desconhecido e iniciamos uma nova caminhada; daquele instante de coragem em que sabemos que o perigo estará ao nosso lado e mesmo assim teimamos em continuar a lutar por um ideal que descobrimos ser a razão da nossa existência; e, mesmo que custe a nossa vida, vamos até o fim.

Pedro Paullo.