sábado, 15 de dezembro de 2007

A PRAÇA

“A PRAÇA”

Todos são anônimos,
todos sonham no praça,
até os velhos -silenciosos e estáticos -
estão sonhando no praça.

Um imenso jardim, um oásis
 onde todos se misturam:
os mendigos, os jovens,
os casais, as crianças
 e os pássaros.
A brisa e a sombra diferenciam-se
das sombras das casas e dos prédios,
que suspiram sufocados.


Na praça todos estão desocupados
e o trânsito passa despercebido.
A praça se abre e finda na rua,
e a Igreja, no meio, olha, impávida,
com a certeza de que só ela é eterna.

A mesa de cimento
os jogadores de baralho
fazendo algazarra,
o perdedor diz que não perdeu...
o velho aposentado namora...
um cartão de loteria,
enquanto os pombos sem vergonha
circulam em volta dos seus pés;

A mulher de vermelho
mostra as pernas grossas
e senta-se no banco
segurando uma rosa;
A cigarra canta
cheia de desejos
e a folhagem se dobra com o vento.

Na calçada, homens e mulheres se misturam
e nas esquinas encontram amigos,
colocam as fofocas em dia
e criam teorias
sobre futebol e política.

Quando a noite chega,
a praça se ilumina.
como se fosse Natal
luzes multicolore
dão vida aos enfeites reciclados
que os estudantes construíram:
a árvore no meio da praça,
as botas e a casinha do Papai Noel...
os querubins na fachada da Prefeitura e da Igreja,
os bonecos de neve, as estrelas envolvendo as palmeiras,
as bolas verdes pendendo das árvores
e os anjos com trombetas
anunciam a chegada do Menino Jesus.

Os casarões seculares,
com os seus fantasmas,
olham atentos a profusão de cores e brilhos.
Uma criança também olha,
misturando o brilho dos seus olhos
ao colorido do praça,
e os seus cabelos castanhos
pendem sobre suas bochechas rosadas.
Seu pequeno corpo se movimenta
em cadência e sua boca se abre
 num misto de alegria e êxtase
quando dela se aproxima o Papai Noel -
Tudo na Praça então se transforma... O mundo é só a Praça.

Pedro Paulo de Oliveira.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

SENTIMENTOS

SENTIMENTOS



Vivi a ilusão, na ilusão encontrei o medo e no medo eu o vi o desespero, a decepção e a amargura.

Quando nasci, era o momento do signo de câncer e, segundo os astrólogos, destinado ao romantismo e ao sofrimento.

Meus sonhos são heróicos, dos heróis que não mais existem e estão sob a terra, homenageados pela história.

Mas que bom seria se os heróis românticos, exaltados, corajosos e defensores da justiça e da liberdade ainda existissem!

Não se forja mais homens sobre alazões, empunhando espadas, gritando para exércitos, defendendo um povo!

Vivi o sonho de buscar o inusitado e caminhei por muitos campos, subi montanhas, atravessei rios, singrei por mares e voei sobre as nuvens.

Quando amei, sei que fui amado e jamais odiei, pois não acho justo odiar.

Quando desejei, sei que fui desejado e abracei muitas vezes e muitas vezes fui abraçado.

Não peço justiça para mim, peço justiça para o mundo – e nele estou incluído - pois o mundo precisa de justiça e paz e paz só se tem com justiça.

Meus sentimentos são iguais aos de todos os outros seres e o que eu busco é a minha satisfação.

O medo que tenho é o medo de todos: o de não ser amado.


Pedro Paullo.





quinta-feira, 25 de outubro de 2007

SOLDADO DO ORIENTE



Era uma vez um ser humano que, como os demais, caminhava pela terra, respirava, se alimentava, tinha sede, tinha necessidades fisiológicas, dormia. Era um ser que, como eu ou você, sentia o vento na pele e o aroma da vida; era um ser que olhava as estrelas e, como todos, não entendia a imensidão do universo e a nossa pequinês; era um ser que nasceu do encontro de um homem com uma mulher, foi amado pela sua mãe, teve infância e sonhou, certamente, com um mundo justo para si.

Em algum lugar, algum dia, ele amou e foi amado, se entregou e a ele se entregaram de corpo e alma, conheceu a felicidade, sorriu e, como filho, pretendeu ter filhos.

Era um ser que, como a maioria dos seres humanos, queria trabalhar, ser remunerado e respeitado para buscar, na sociedade de consumo, os meios mínimos necessários para a viver com dignidade.

Mas a guerra estava se anunciando vinda do ocidente! Ele, certamente, não queria a guerra, pois sabia que seu povo, massacrado por séculos de incoerências e governos déspotas, lutava apenas para sobreviver. Mas o imperador do ocidente, preparava o dragão da morte, incitava-o a cuspir fogo no seu povo cansado e humilhado. O imperador dizia ao mundo que a sua terra precisava ser libertada do julgo do seu tirano. E certamente ele era um tirano. Mas o seu povo não queria um tirano por outro tirano.

Ele era um ser peculiar, como peculiares são os povos do Oriente, onde o sol castiga a terra, onde as tempestades não são de água, são de areia. Ele era um ser que, por costume, andava descalço e a areia escaldante já não lhe queimava os pés, por anos de caminhada sobre o calor. Acreditava em Deus e sua crença era no Deus do amor e da guerra. E era um ser que amava a sua terra, se exultava com a sua gente e sempre teve esperança em tempos melhores.

O imperador do ocidente, contudo, não relevou os sentimentos do seu povo, alegando que a guerra era necessária para extirpar da terra o tirano que ameaçava a humanidade. Mas aquele ser acreditava que atacar seu país e massacrar seu povo jamais resolveria a crueldade que paira em todos os cantos da terra. Ele sabia que, por trás da intenção do imperador, havia o desejo insano de subjugar toda a humanidade a uma condição de dependência do poder da sua nação. O império do ocidente precisa de colônias subjugadas para saciar a fome dos especuladores espalhados pelo mundo.

Ele compreendeu que tudo estava consumado, o império havia chegado e a guerra começado. No céu, o sibilar dos projéteis e o brilho das chamas surgiram inesperadamente. Ele, então, foi ao quarto, empunhou sua arma, abriu a porta da sala, despediu-se da sua família e embrenhou-se pelas ruelas de Bagdá. Era um ser como muitos e com muitos sonhos, forte e orgulhoso, mas que foi para a guerra... Não voltou para casa e os sonhos ficaram nas ruelas da sua cidade; não tem mais vida; e misturou-se à terra árida e poeirenta de um campo de batalha qualquer do Oriente. Morreu... É, foi apenas mais um que morreu. Apenas mais um... Mais um... Um.

Pedro Paulo de Oliveira

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

ESCREVER...APENAS ESCREVER?

Jamais me propus a escrever o óbvio. O óbvio sempre me causou enfastio. Vejo o cotiadiano das pessoas e não consigo compreender a razão da sordidez de muitos seres humanos que concebem suas existências no prazer único de constatar que o outro, aquele que caminha na calçada, está prestes a se aniquilar. Só o ser humano pode sentir esse prazer; só ele pode se deleitar com a desgraça alheia. Isso é óbvio!
Quero falar da dívida que a vida deixou dentro da alma de cada um de nós quando buscamos encontrar o verdadeiro sentido da nossa existência e nos deparamos com o inusitado: um olhar, um toque, uma estrela cadente;... daquele momento em que abandonamos tudo e vamos em busca do desconhecido e iniciamos uma nova caminhada; daquele instante de coragem em que sabemos que o perigo estará ao nosso lado e mesmo assim teimamos em continuar a lutar por um ideal que descobrimos ser a razão da nossa existência; e, mesmo que custe a nossa vida, vamos até o fim.

Pedro Paullo.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

DEVANEIOS...

SONHO ETERNO

Um lugar onde tudo é possível, um lugar para ser feliz, um lugar só para nós dois;
Bem longe, nas montanhas, construirei uma casa e sairei todos os dias sabendo que você estará me esperando;
Quando eu chegar, ganharei um abraço e um longo beijo.
Você cuidará das flores do jardim e escreverá lindos poemas de amor (você gosta de escrever)
Poderá ler Garcia Lorca, Carlos Drumonnd, Chico Buarque, Manoel Bandeira e tantos outros poetas que fizeram do amor suas vidas.
Escreverei para você tudo de mais belo que brotar de minha alma e a nossa obra percorrerá todo o mundo, fascinando os amantes, eternizando o nosso amor.
E nas tardes quentes de verão acariciarei sua pele embebida pela água que nasce da montanha.
Nas noites, velarei seu sono para que jamais tenhas medo e colarei seu corpo junto ao meu para que sinta que a minha vida é sua.

Minha alma
Minha alma tem o peso da luz, tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita prestes, quem sabe, a ser dita;
Tem o peso de uma lembrança, tem o peso de uma saudade,
Tem o peso de um olhar.

Minha alma pesa como pesa uma ausência,
É a lágrima que não se chorou.
Minha alma tem o imaterial peso da solidão no meio de outros,
Pois, distante, em cada pensamento que se vai com o vento,
Sua presença, seu sorriso, suas brincadeiras, tudo em você é presente em meu ser,
“Como se tudo fosse uma primeira vez...”

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

LÚDICO

LÚDICO

Meu canto é o universo, vivo e perene, que não sei se tem início ou fim, mas que me absorve, me conduz, me transforma. Sou parte da vida, tal como a ave, a árvore, uma partícula da nuvem, uma parte da energia que azula o céu.
Penso na eternidade olhando os seres vivos, sentindo a mutação à minha volta e analisado a luta pela sobrevivência de cada ser. A música me conduz a vislumbrar os pássaros pequeninos açoitando o gavião que ataca seus ninhos. Encontro a resposta para a luta dos seres humanos para se prevalecerem sobre seus semelhantes: é a busca e o encontro com o passado; o ser selvagem e pleno no meio da natureza.
No céu, as nuvens formam contornos brancos, faixas acinzentadas, grandes aglomerados e, no alto, no meio do azul, a luz converge para um túnel. Sinto que a vida entra e sai dali, num eterno vai-e-vem, nada começando e nada acabando. Então, sou eterno, porque vou e voltarei e, quando voltar, serei ainda mais pleno, pois estarei espalhado por muitos lugares e minhas vivências não serão mais só minhas.
Compreendo que o ser humano só morre quando não nasce e a vida flui e permanece, porque este é o sentido dela:ser perene. Daqui a milhões de anos estarei vivo, dentro de um corpo qualquer e meus sentimentos serão tal como agora.
As águas que brotam da terra, as águas do rio, as águas do mar, as águas do céu... Longe, muito longe, os astros, o espaço sideral. É só olhar com paciência para ver que nada mudou e nada mudará, mesmo quando pensamos estar destruindo um pedaço desta terra que habitamos, pois tudo é absorvido pela luz.
Compreendo que a diferença do ser humano são os sentimentos, principalmente o amor: ele se espalha, contagia, impregna e nos transforma em seres eternos, Não morre quem ama!!


PEDRO PAULLO

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

OS ÚLTIMOS HERÓIS

Fabiana se virou, enquanto o aroma do café se espalhava pela cozinha e indagou:
---“Eles quem? Os radicais que pregam pegar em armas e enfrentar o exército, todo o aparelho de segurança nacional”?
Anselmo olhou-a, pigarreou e disse com ar muito sério:
---“ Você sabe que sou contra a luta armada. Mas nem todos pensam assim. A esquerda está muito dividida em nosso país. A ALN age por conta própria; o nosso movimento sindical está todo infiltrado por gente treinada na Rússia e em Cuba. Aliás, quase todos os recursos que temos vêem desses dois países.Contudo, não acredito que possamos mudar as coisas através das armas. Podemos mudar essa situação através da conscientização, do protesto pacífico e da desmoralização dessa cambada de milicos que vendem nosso país ao capital estrangeiro. Mas as ações radicais acontecem e muitos dos nossos pagam um preço muito alto. Veja, por exemplo, o que acontece em São Paulo, com o carrasco do Fleury promovendo uma caça às bruxas em nome da segurança nacional. O sujeito é um sanguinário impiedoso – Tortura e mata nossos companheiros”.
Fabiana aproximou-se da mesa com a garrafa de café e as xícaras, colocou-as próximas de Anselmo, buscou bolo que estava no armário, sentou-se ao seu lado e desabafou:
---“Tenho muito medo por nós. Sei que a sua decisão foi tomada quando ainda éramos namorados e nos conhecemos no Movimento. Mas...agora...o Atílio...eu e você. Tenho muito medo do que pode acontecer.