domingo, 20 de janeiro de 2008

AFRODITE, A DEUSA DO AMOR E DA TRAIÇÃO




A chuva se fora deixando um clarão escarlate que irrompia do Monte Olimpo e cobria as fachadas das casas caiadas de branco. A cidade de Olímpia, em festa, rendia tributos ao supremo deus dos deuses: Zeus. Mas, Dionísio era, também, reverenciado nas casas em tonéis de vinho e nas alcovas dos amantes insaciáveis. Musas de cabelos encaracolados, de peles alvas e seios fartos imitavam as ninfas das florestas cobertas apenas com nesgas de seda que desciam do pescoço e se enrolavam nas nádegas carnudas. Jovens guerreiros, másculos e orgulhosos, se misturavam nas tendas coloridas sob os olhares sedentos das belas jovens.

A noite chegou e as tochas foram acesas emprestando tons fortes aos viventes e uma orgia, mesclada de vinho e incenso, se espalhou pela cidade: sem pudor, jovens virgens se entregavam aos poderosos guerreiros que as carregavam nos braços para uma tenda e, selvagens, seguravam seus seios, arrancavam-lhes beijos ardentes e as possuíam pelo tempo que as forças lhes permitiam.

Zeus, do Olimpo, assistia à orgia ao lado de Hera e mostrava a Dionísio que ele também era responsável pelo delírio dos mortais. Dionísio, com um sorriso, apenas dizia: “Os mortais, neste instante de prazer, sentem-se deuses. Deixem-nos”.

Zeus, contudo, estava abatido: Afrodite, a deusa do amor, a mais bela entre as deusas e mortais, desobedecia-o. Entregara-a para o mais infeliz de seus filhos – Hefesto – que nascera coxo, mas tornara-se um artista. Afrodite aceitou a imposição e casou-se com Hefesto, mas traia-o com Ares, o Deus da Guerra, o seu grande amor.

Nos corredores do palácio Afrodite caminhava devagar, espalhando perfume de flores por onde passava. Seus cabelos loiros, sua pele alva e seus olhos azuis brilhavam e extasiavam os jovens deuses, e causava fúria e inveja nas outras deusas, principalmente em Eris, a deusa da discórdia - que sabia que Afrodite era filha de Zeus com Perséfone, a deusa das flores.

Mais uma vez Afrodite deixou seu palácio e dirigiu-se para os braços de Ares que a esperava no leito; mais uma vez Ares sentiu seu corpo estremecer-se diante da estonteante mulher se despindo diante dele – tudo nela era perfeito e sua pele reluzia, rija de desejo.

Enquanto isso, Eris incutia na mente de Hera que uma desgraça adviria daquele amor proibido se Zeus não o impedisse de continuar, pois Hefesto, filho legítimo de Zeus, já não era mais capaz de ser um grande artista. Hera exigiu de Zeus que terminasse com amor de Afrodite e Ares, pela paz do Olimpo e da terra, ou ela convenceria Plutão, o deus da morte, a enviar uma praga que acometeria todos os mortais. Zeus suspirou e, não querendo discórdia com a esposa, dirigiu-se para o palácio de Ares e encontrou os dois amantes se deleitando sobre o leito em beijos apaixonados. Ordenou-lhes que se separassem daquele dia em diante e que Afrodite fosse plenamente fiel a Hefesto. Ela se levantou completamente nua e, em silêncio, deixou o aposento. Naquele mesmo dia ela anunciou a Hefesto que descansaria na Ilha de Chipre. Colocou sua túnica branca, seu cinto de ouro e partiu. Na terra ganhou forma humana, enlouqueceu muitos homens e incutiu nas mentes de todos os mortais que amor não é apenas encanto, devoção e prazer, mas crueldade, vingança e ciúme.

Enquanto chorava o amor perdido, Afrodite banhava-se nas águas do lago e da sua essência nasceu uma linda ave de pescoço longo e olhar lânguido a que os homens batizaram de cisne; e nas suas margens brotaram esplêndidas flores brancas, rosas, vermelhas e amarelas que foram batizadas de rosas e mirtos.

Ares, contudo, inconformado com a imposição de Zeus, desceu até a terra e foi à procura da sua amada, encontrando-a nua e reluzente a banhar-se no lago. A saudade de ambos era tamanha que não proferiram palavras. Entregaram-se à volúpia e os seus gemidos foram ouvidos por toda a terra e no Olimpo. Eris, que vigiava os passos de Ares, correu e contou para Zeus a desobediência dos amantes. Zeus, furioso, enviou um raio à terra que estremeceu os mares e as montanhas. Deixou o Olimpo, foi ao encontro dos amantes e achando-os sobre a relva macia de um bosque, sentenciou: “deste instante e para sempre vocês estarão separados, ficarão no firmamento a olhar um para o outro, brilhando para os mortais”.

Assim, a primeira estrela a reluzir prateada no céu é Afrodite – que os romanos batizaram de Vênus - e, logo depois, deslumbrado com a sua beleza, surge o brilho vermelho de Ares – que os romanos batizaram de Marte – Os dois amantes condenados pela eternidade a se admirarem, distantes e infelizes.

Pedro Paullo.

sábado, 19 de janeiro de 2008

TRIBUTO A JOÃO

TRIBUTO A JOÃO

Meu caro irmão. Estive pensando que poderíamos ter nos falado mais, contado mais casos, termos ficado mais juntos e, no final, eu ter impedido seu coração de parar de bater.
Sei o quanto você sonhou, sei o quanto sonhava até poucos instantes antes de partir. Queria poder agarrar seus sonhos, levá-los, entrega-los às suas filhas e à sua esposa, faze-los reais.
Naquele Natal você se foi. Logo no Natal, meu irmão? No Natal em que falamos de realizar desejos, de renovar esperanças e de sermos felizes? Mas neste Natal de 1.997 despedimo-nos de você, meu caro irmão.
Ora, lembro-me que a vida nos separou tão cedo, pelas agruras e decepções e perdemos parte de nós pelo tempo afora. Mas com o tempo colhemos pedaços e, na distância, nos reencontramos.
É... Esse Natal com certeza levou seus sonhos, deu-nos sua imagem serena e a certeza de que você nunca deixou ser aquele adolescente com sonhos impossíveis, realizados nos filmes assistidos nas madrugadas. Você não conseguiu envelhecer e deu ao mundo suas filhas e lutou como ninguém por elas – Tatiana e Ana Carolina.
Você era o João...; o Bosquinho dos anos setenta que penteava os cabelos com brilhantina, fazia serestas pelas ruas de Andrelândia com o Baiano e o Wilson e dançava bailes no clubinho.
Um dia você subiu no Trenzinho Mineiro – o Misto – galgou a serra, desceu-a pelo outro lado e desembarcou na cidade grande – Barra Mansa – que não tão grande era - no Estado do Rio de Janeiro, e só voltou às terras mineiras um pouco de cada vez.
Quando você se casou estávamos todos lá, a igreja repleta. Você usava um terno azul-marinho e a sua esposa, a Rosângela, estava toda de branco. Nasceu Tatiana. Eu estava lá para batizá-la, assim como você veio batizar o meu filho Augusto.
Seus sonhos tornaram-se, então, grandes: abriu, em Barra Mansa, sua própria farmácia. Mas as coisas não deram certas e ela foi fechada e você voltou a trabalhar de empregado, pois tinha uma família para manter. Mas surgiu uma oportunidade de ter outra farmácia na cidade de Cruzília, pertinho de Andrelândia, e você foi e levou sua família. Lá, todos o respeitavam, gostavam mesmo de você. Até que um dia apareceu um pilantra e convenceu-o a aceitá-lo como sócio e levou embora mais uma parte dos seus sonhos. Novamente você voltou com a sua família para Barra Mansa e tornou-se escravo do trabalho.
Um sonho sempre o perseguia: acertar na loteria. “Vou acertar, meu irmão! Aí todos nós vamos sair do sufoco.” Dizia-me você sempre.
Nossas conversas eram longas através do telefone e seus sonhos sempre estavam presentes nas suas frases entrecortadas pelas perguntas que me fazia sobre nossos irmãos e nossos pais. Contudo, apesar de seu grande amor, seu coração pedia socorro e você não lhe dava atenção. Ele estava dilacerado, cansado.
Quando sua filha Ana Carolina nasceu ninguém acreditou. Depois de praticamente 16 anos!...A Rosângela, mesmo com mais de 40 anos, suportou e lhe deu a linda Ana Carolina. Você era o homem mais feliz da terra. “Agora preciso trabalhar dobrado.” Afirmou, olhando aquela criaturinha no berço.
Os anos se passaram e lembro-me de você com os olhos brilhando sobre a Tatiana e a Ana Carolina. Mas seu coração continuava a pedir socorro e você não lhe dava ouvidos.
No final de novembro de l997 falamo-nos muito, estivemos juntos aí na sua casa e no seu trabalho e os seus sonhos continuavam todos aflorados. Voltei para Andrelândia e ouvi-o, novamente, naquele domingo, 21 de dezembro de 1.997, e senti que uma sombra rondava sua vida. Sua voz estava embargada, suas perguntas eram para saber da nossa mãe, do nosso pai, dos nossos irmãos; falou-me, com muito carinho, das suas filhas; do novo apartamento; e pediu-me que convencesse a nossa mãe a passar o Natal com em Barra Mansa. Não pude fazer isso, mas enviei-lhe o meu filho Augusto para que ficassem juntos. Você ainda reclamou que o seu peito ardia e supliquei-lhe que procurasse ajuda médica. Foi em vão. Você não percebeu, mas seu coração lhe dizia que estava cansado, que precisava de mais oxigênio, emoções boas: olhar os campos, as flores, o mar, os jardins, o céu azul.
Aquele era o último aviso. Então você foi embora sem dizer-nos adeus, sem dar-nos um abraço, sem um aceno. Acho que pensou: “Uma hora eu volto”.
Andei pensando nos seus sonhos, andei pensando no amor que você sempre nutriu pelas pessoas. Acreditei que eles haviam se acabado. Depois compreendi que estava errado, ao fixar suas filhas: ali estava vivo todos os seus sonhos, tudo pelo qual você sempre lutou. Seu sonho continuava vivo e latente. Sua voz e o brilho dos seus olhos continuariam naquelas daquelas duas meninas. É... você está vivo meu caro irmão.

Um abraço para VOCÊ.

Pedro Paullo.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

UM NOVO ANO SEM SONHOS

Neste novo ano eu não quero sonhos, quero todos os seres humanos com um só pensamento: "A PAZ".
Neste ano eu não quero sonhos, quero encontrar os meus amigos e dizer-lhes que a PAZ é necessária,
Mas que o AMOR deverá prevalecer em todos os corações.
Neste novo ano eu não quero sonhos, quero ver toda a humanidade num só ato solidário de combate à fome e toda espécie de desigualdades.
Neste novo ano eu não quero sonhos, quero olhar o mundo e acreditar que os seres humanos estão cansados de tanta guerra, de tanta corrupção, de tanta miséria.
Neste novo ano eu não quero sonhos, quero todas as crianças felizes, porque têm um lar normal, não são exploradas, seus folguedos são inocentes e receberão presentes juntos com abraços de emoção.
Neste novo ano, eu não quero sonhos, quero sair pelas ruas e sentir que toda a humanidade crê em Deus e comemora o início de um novo tempo.
Neste novo ano eu não quero sonhos, quero ver o sol nascer iluminando a mãe terra e cada ser humano acordando para lutar pela preservação das matas, dos rios, dos animais e de todas as espécies viventes.
Neste novo ano eu quero acordar e ver os seres humanos acreditando que a nossa vida é única, é a perpetuação do AMOR.

Neste novo ano eu quero a vida em toda a sua plenitude.

Pedro Paullo.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

PARTE DO PRONUNCIAMENTO FEITO POR PEDRO PAULLO - E DE SUA AUTORIA - DURANTE A SESSÃO SOLENE DA CÂMARA MUNICIPAL DE ANDRELÂNDIA, NO DIA 28/12/2.007

A CORAGEM DE RESGATAR E PRESERVAR A HISTÓRIA.



Como conhecer a si mesmo e a um povo sem conhecer a própria história? 

 

 

 

 

            Desde o início dos tempos a humanidade buscou o autoconhecimento através do resgate das próprias raízes e, ao se deparar com lacunas, experimentou um sentimento de frustração muito grande e homens e mulheres, dotados de sensibilidade, iniciaram uma busca interminável do passado. Nas inscrições das grutas e cavernas - que este pedaço do mundo chamado Andrelândia guarda nas pedras da Serra de Santo Antônio - descobrimos que, a milhares de anos, no nosso íntimo, necessitávamos deixar para a posteridade a base dos nossos costumes, os aprendizados que adquiríamos e, acima de tudo, as provas da nossa existência.
               Nenhum ser humano nasce e se torna adulto para nada. A existência, por si, repleta de nuances, encontros e desencontros, recriações e descendências, tem para um propósito. Contudo, poucos absorvem esse entendimento e, num dado momento, a historia se perde - por descuido de muitos - ou é destruída por ignorância e insensatez de homens públicos, através do abandono, da guerra ou da ganância, que transformam em pó ou cinzas obras de artes, edifícios e livros e relíquias sem preços.Não podemos simplesmente acreditar que seremos uma verdadeira sociedade se não preservarmos a nossa história e, se preciso for, resgatá-la, mesmo a custo de desencontros com interesses financeiros de grupos ou pessoas.
            Já avançamos demais em nossos conhecimentos para não crermos que é a partir da preservação, que pode se dar após a restauração de um bem, que encontraremos um caminho mais justo e fortalecido para vivermos em sociedade, pois saberemos onde erramos – e aprenderemos com esses erros, para não os repetirmos – e perpetuaremos e aperfeiçoaremos os acertos.
              Resgatar a história e preservá-la exige, de quem o faz, uma dose de coragem, pois, certamente, no percurso da busca pela verdade, que muitas vezes é mascarada por interesses escusos, encontramos resistência dos detentores do poder, ou mesmo de pessoas ou grupos poderosos. Por quê? A resposta está no fato de que muitos acontecimentos que se passaram em determinadas épocas não foram corretamente transcritos por conta de que os seus personagens foram membros de enredos vergonhosos. Mas a teimosia de homens e mulheres audazes tornou possível saber que muitos dos nossos heróis, cantados ao longo dos tempos, não passaram de verdadeiros facínoras, presidentes da república corruptos, generais que não participaram de nenhuma guerra e que mandavam para os campos de batalha pobres inocentes, em sua maioria índios e negros, e líderes que só fizeram enganar uma multidão em detrimento dos seus próprios interesses.Mas dentro das nossas veias pulsa a angústia pela verdade e, juntando os pedaços que o tempo nos legou, conseguimos desmascarar as mentiras, somos capazes de resgatar personagens esquecidos e que deveriam, a muito, estar homenageados; podemos recontar a história de forma clara, legando aos nossos contemporâneos a grandeza de um tempo, ou a sua decadência.
              Cidade do Turvo. Quem já ouviu falar? Muitos aqui presentes, com certeza. Outros, não têm nem ideia de onde fica esse lugar. Mas ele existe. Tem uma história densa que poucos outros lugares do mundo têm semelhante. É uma cidade de políticos poderosos, sede de distrito que governa Carrancas, Cianita, Bom Jardim, Arantes, São Vicente... Mas tudo começou em meados do século XVIII, quando dois homens, André da Silveira e Manoel Caetano, olharam as Serras – hoje denominadas da Natureza, do Serrote e do Santo Antônio; uma cachoeira que serpenteava morro abaixo a que chamaram de Cachoeira das Bicas; um rio estreito, de águas agitadas e quase opacas - e denominaram-no de Rio Turvo. - Decidiram, então, instalar suas fazendas nessa região. Mais tarde, conseguiram do Bispo de Mariana ordem para construir uma capela no lugar onde hoje se encontra a nossa Matriz - e entregaram-na à devoção da virgem Maria, com o Título de Nossa Senhora do Porto. Iniciava-se o processo de nascimento da Freguesia de Nossa Senhora do Porto do Turvo que, inicialmente, pertencia à cidade de Aiuruoca. Mais tarde, Antônio Belfort de Arantes, o Barão do Cabo Verde, deixou Aiuruoca e ascendeu para essa recém criada Freguesia e conseguiu sua elevação para Vila Bela do Turvo. Mas foi só no ano de 1868 que o filho do Barão de Cabo Verde, Antônio Belfort Ribeiro de Arantes, conseguiu transformar a Vila em cidade, passando a se chamar simplesmente “Turvo” (em homenagem ao rio de águas turvas que atravessava o município recém-criado) após ter construído, dois anos antes, com seus próprios recursos, o Prédio da Câmara e Cadeia Pública.Muito poderia se falar, didaticamente ou não, do período que se sucedeu ao nascimento da Cidade do Turvo. Mas deixo a todos o privilégio de saborearem a leitura de três livros importantes da nossa história: Andrelândia – Fatos de sua vida político-social, de Álvaro de Azevedo; Andrelândia-Vultos e Fatos, de Paulo César de Almeida; e Aspectos Históricos da Terra de André, de Marcos Paulo de Souza Miranda. Quanto ao último autor aqui cabe destacar sua competência ao resgatar o nome de Manoel Caetano da Costa, - certamente responsável, também, pelo nascimento do Município do Turvo - enviando para o Prefeito da nossa cidade, no ano de 2.005, modelo de Projeto de Lei em comemoração aos 250 da fundação do nosso município. O projeto foi acatado pelo prefeito que, destarte, o enviou à Câmara de Vereadores que o aprovou por unanimidade. No seu art. 5º declara como Unidade de Conservação Ambiental, denominado Parque Ambiental Manoel Caetano da Costa, a porção de terras públicas situadas às margens do Rio Turvo Pequeno, além de tornar o dia 27 de dezembro feriado municipal – o Dia do Fundador – em homenagem a André da Silveira. Colocou, ainda, sob proteção permanente a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Porto da Eterna Salvação, destacando-a como a gênese do nascimento da nossa terra.
                  A Cidade do Turvo, portanto, é a nossa cidade; ainda com o seu rio de águas turvas singrando pelos vales – meio desrespeitado pelos esgotos e entulhos; - com os seus casarões e casas antigas que teimam em ficar de pé – inventariados pelo Município e sob a vigília do Ministério Público; - e com a Serra da Natureza – devastada, mas que ainda se azula quase no oriente. Turvo, que em 1.930 passou a se chamar Andrelândia em homenagem a André da Silveira e que não conseguimos deixar, mesmo quando somos obrigados a navegar em outros portos.

PEDRO PAULO DE OLIVEIRA.