sábado, 12 de outubro de 2013

O MENINO NÃO CHORA POR SI





Eu vi o menino, eu vi a menina
soltando pipa, pulando amarelinha...

eu vi a mãe sorrindo, muito longe
num passado distante.
E vi a mãe chorando
e menino que não chora por si,
chora pela mãe,
de corpo cansado,
pele rendada,
mãos marcadas.

Menino, franzino
vivendo sozinho,
sobrevivendo
sem proteção,
sem calor,
sem afago,
sem amor.

Menino que tem medo
ao ver sua infância perdida,
arrancada e trocada pela guerra
que sobe o morro,
que beira o rio,
que anda pelas areias do mar.

A imagem de uma mãe teima,
refletida nos olhos perdidos
do menino das ruas,
nos gestos que pedem
e se perde sem o saber:
perde a inocência, perde o amor,
perde os sonhos, perde a vida.

Só tu, oh, mãe, pode salvar essa criança,
pode lhe dar de volta a infância,
pode devolver-lhe o amor que se foi
e retornar-lhe os sonhos perdidos.

O que fizeram com os seus folguedos,
nas ruas de terra, nos riachos,
nos piques, na lutas, nas amarelinhas?
para onde levaram os sonhos desse menino
e de tantas meninas?
Eram sonhos pobres, sem maldades,
eram sonhos livres
feitos de heróis e de liberdade.

Pobre menino sem terra,
sem córregos, perdido
nos labirintos de barracos...
Pobre menina sem lar,
não embala sua boneca,
esquecida, maltrapilha,
sem sonhos.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira
Todos os direitos reservados
Reprodução permitida, desde que citada a autoria.

Imagem: busca no Google.
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