terça-feira, 23 de julho de 2013

AS PEDRAS DO SANTUÁRIO.



O templo, o território, a grandesa, a majestade...
O santuário guardião dos desejos incontidos,
desejos perdidos, sem razão, sem perdão
entre as pedras repletas de confissões e excomunhões,
pedras seculares onde não vicejam musgos, nem lodo.

Nos olhos do homem sobre o altar
a imagem da mulher -que arde, pena em pecado
(sem medo e sem pudor)-está guardado os seus segredos
e os segredos dos outros.

os sinos anunciam o rito do encontro,
os sinos são os sinais do tempo e do momento
e a multidão sobe a avenida, pesarosa, esperançosa
e vai enchendo o templo - o coro canta -
e chega o padre que encanta.

A luz enche de cores a nave,
sobrevoam  andorinhas e imagens
e o ouro brilha nos trajes.

O pregador se levanta:
anuncia a salvação,
prega o perdão,
levanta a multidão
em contrita emoção.

Depois, todo mundo se ajoelha,
para se livrar das culpas
e reza - sem entender a oração de criança.

E Deus escuta e Deus olha,
entre as pedras do templo.
Ele sabe das volições,
ele entende as iniquidades,
Ele compreende que não há é pecado
no acasalamento apaixonado,
que pecado é maltratar a vida,
pecado e mentir para a vida.

"Este é o Meu Corpo e este é o Meu Sangue",
a multidão caminha em busca da ressurreição,
se arrasta com o peso do tempo que não para
diante da Cruz do martírio e da morte,
se ajoelha e espera a bênção
e lava a alma e alivia o corpo,
volta para casa e o coro canta,
o padre encanta,
guardião de segredos
filho de degredos.

As portas do templo se fecham,
Deus adormece... É a hora santa.
É a vez das corujas, é a hora dos morcegos,
momento dos fantasmas que não poem mais medo...
Os fiéis vão embora, vão pecar,
vão para as alcovas, vão fornicar,
Vão dobrar as ancas e sentir o encontro da carne
entre as coxas que se abrem para o gozo profundo.
Vão roubar, mentir e matar,
fugir e, no sétimo dia, descansar,
pois que Deus está em sono profundo
atrás das pesadas portas do santuário,
no frio das pedras que guardam a cobiça e a paixão.
Deus não pode mais escutar... está cansado
Ele não pode mais ver e nem sentir.


Pedro Paulo de Oliveira.

Direitos Autorais


Imagens:
Igrejas de São Francisco em São joão Del Rei
e do Pilar em Ouro Preto.

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