terça-feira, 30 de julho de 2013

POEIRA DO TEMPO



Almas que se arrastam por ruas e becos,
Levantando poeira, seguindo no tempo,
Trôpegas malabaristas bêbadas de vida,
Levam ossos eternos,
A carne que se esvai em flacidez implacável
E o tempo que não é tempo, que tempo não existe,
Fica estático esperando, sem pressa.

Do alto da igreja com o seu orgulho
Abre-se o Beco dos Defuntos,
Beco estreito por onde andam os vivos
Regado de lágrimas, coberto de pedras,
Ecoando lamúrias e medos,
Desenhando momentos, sentimentos...

Os avantesmas silentes flutuam indecisos
Se estão mortos ou vivos
E entram pelos adobes
Procurando seus amores perdidos,
Sussurrando paixões nos ouvidos,
Suplicas eternas, paixões petrificadas.

Vai a procissão levando os ossos,
Seguindo seu caminho permanente, renitente,
Segue levando volições findadas,
Construindo lápides por onde crescerão as heras
Esverdeadas sobre o lodo liso da vida que persiste.

Não há morte, morte que coisa nenhuma,
Os fantasmas teimam em ficar nas pedras,
Nas portas, nas paredes...
Fantasmas não dormem nunca,
Povoam os sonhos,
Vivem nos sonhos,
Poeira nos móveis,
Miríade de vidas,
Espectros.


Pedro Paulo de Oliveira
Direitos Autorais

Imagem:
Cássia Oliveira

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