quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

FRAGMENTOS





Lúdico instante perene de êxtase!

O dia se abre em fagulhas de luz,
teimoso, arrastado depois da chuva,
cobrindo as montanhas de cores,
onde o verde da primavera se impõe
e as úlitmas gotas de orvalho se esvaem.

A pedreira, ao longe, brilha como um espelho, minando a água cristalina que desce para a terra.
Sei que devo ir. Sinto a aragem entrar no meus pulmões e ouço o gado berrando amontoado no curral com as tetas cheias de vida, de sabor e calor. Sinto o aroma da broa assada vindo da cozinha onde a negra Tiana sopra o fogo para aquecer o forno: é broa feita com coalhada, cascuda por fora e molhada por dentro.

Os escravos se reunem na varanda para receberem as ordens do dia: corpos negros, rijos; sorriem e fazem burburinho. A negrinha passa cantarolando, provocante, com os seios balançando debaixo do vestido de linho e ri na direção da janelaopnde estou, mostrando os dentes muito brancos. Sinto vontade de não ir embora. Este mundo é bem melhor que o de lá, cheio e caruagens, homens usando cartolas e mulheres com vestidos sobre armações de arame: imitação tosca de Paris.


Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagens: fazendasantigas

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