segunda-feira, 4 de novembro de 2013

DESVELO DE UM ADEUS





Quisera eu que não te fosses
entremeado pela multidão inquieta...

Era apenas uma tarde,
de um dia qualquer de verão,
o trem vindo, apitando sobre os trilhos,
as pedras alisadas sob nossos pés
e o sino de bronze da estação.

Lembro-me da janela de madeira cor de vinho
com as suas bandeiras abertas olhando as almas
de tantas vidas passadas em idas e voltas.
Ouço o soluço das despedidas e o gemido da chegada
misturados ao ruido das rodas de ferro arrancando fogo
sobre pedras e madeiras.

O sol se dividia sobre os telhados
criando sombras, imagens fugidias,
seus olhos me olhavam,
seus dedos tateavam o espaço vago,
indecisos, ainda meninos, ainda carentes.

Quisera que ficasses para sempre
acalentando meus sonhos,
preso em meus abraços.

O apito corta o ar, ecoa, retine nos ouvidos.
Última chamada para a despedida,
acalento seu abraço e me afasto.
o trem se move no atrito sobre o ferro,
a janela nos separa,
distancia seus olhos dos meus olhos,
o vagão vai, arrastado pelo trem,
vai subir a montanha,
vai buscar o mar.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: realmazen

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