quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

PARA A PEQUENA MARIA EDUARDA – NÃO HÁ MORTE... SOMENTE VIDA.


MARIA EDUARDA TALVEZ TENHA SIDO UM DESSES ANJOS QUE POVOAM NOSSAS VIDAS E NOSSOS SONHOS. PARA OS SEUS PAIS, AVÓS, IRMÃOS E AMIGOS ELA DEVE TER SIDO UM ANJO COM CERTEZA. 



ELA PARTIU HOJE, DEPOIS DE UMA LONGA BATALHA CONTRA O CÂNCER. SE ELA QUERIA FICAR? CLARO QUE SIM. AQUELES QUE A AMAVAM A QUERIAM JUNTO DE SI AINDA E POR UM LONGO TEMPO? COM CERTEZA, SIM. MAS A VIDA E O "EXISTIR" DIFEREM DA NOSSA VONTADE. 


EU, MERO AINDA VIVENTE, PUDE VISLUMBRAR ESSE PEQUENO ANJO À DISTÂNCIA, POR MUITAS VEZES, SEMPRE QUE DESCIA DA MINHA CASA PARA O CENTRO DA CIDADE, COMO UMA BORBOLETA SOBRE UMA ROSA.


De repente a morte, derradeira constatação para a qual pensamos não estar preparados. É assim: um rompimento instantâneo que nos leva um sorriso, uma lágrima, um abraço, um voz. A morte leva-nos, até mesmo, o perfume, a imagem em movimento, deixando-nos o desenho que se move apenas na memória que costumamos e gostamos de recordar, sozinhos, olhando o longínquo horizonte, ou na companhia dos amigos e parentes que restaram e ficaram por momentos. 


Essa derradeira constatação de rompimento provocado pela morte, ausência de um corpo em animação diante dos nossos olhos e que pode nos tocar e nos fazer suspirar, é o instante sublime de transformação do ser no noutro ser (não pode “ser” de outra “forma” dada a constância do “existir”). A morte também pode ser vida, desde que possamos ver no desabrochar lento da rosa ou da borboleta dentro dos seus casulos que ambas se interagem por toda uma vida em toques quase silentes, numa simbiose única e eterna. Ambas sabem o quanto carecem uma da outra – e para isso vivem: perpetuando uma à outra -. A borboleta e a rosa, e curtos instantes de vida para nós, têm para si uma longa existência, o necessário para eternizar o que lhes foi emprestado pela criação: a existência no universo.

Quando uma criança se vai transformada pela morte – que denominamos de morte natural, aquela provocada pela inevitabilidade das doenças -, levando seus alvoroços, seus sorrisos e sonhos ainda inconscientes, embora nos pareça uma prematura viagem, uma antecipação do existir, nada mais é do que o arranjo da própria existência (existir dentro de um tempo, pois que o tempo não é tempo para o “existir” e é determinado pelas leis naturais que não podemos segurar).

Então, choremos, sim, nossos filhos e filhas (nossas crianças ainda inocentes) que nos são levadas para o seio da terra, entendendo que a terra precisa de nós, tal como necessitamos dela para existir. Choremos, sim, pois o choro rega a terra e lava a alma. O choro é prova de dor, é prova de amor. No entanto, deixemos que a terra cumpra o seu papel, olhando a chuva, sempre que ela vier, regando as plantas para que a rosa e a borboleta cumpram o seu destino eterno de existir - e nós, como anjos que sonhamos um dia, cumpramos essa viagem infinita rumo, sempre, ao desconhecido.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.


Imagem Ateliê Gina

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