terça-feira, 18 de junho de 2013

FILHOS DA GUERRA


EM TEMPOS DE PROTESTOS PELO MUNDO, UM PROTESTO CONTRA A GUERRA DA SÍRIA, UMA HOMENAGEM AOS ÓRFÃOS DA CRUELDADE DE UM GOVERNO DÉSPOTA E IMPIEDOSO

Ouço um silêncio profundo depois de tudo.
Foi como descer ao inferno, às profundezas da terra,
Sem luz, sem sombra, tateando o espaço, o vazio.
Mas, eu sabia que havia cinzas no gosto da pólvora,
No cheiro ocre e no meu corpo empastado.

Depois de tudo nada restou
Nem inseto, nenhum bicho sequer
Não restou nem ao menos o amor
Na escuridão dos olhos da mulher
Apenas o infinito desalento e a dor.

O gemido na noite, o desespero no brado insano
Ao ver a cria nascida, cria criada, cria perdida,
Acho que Deus se ausentou para a chegada do profano
Levando a esperança inocente e a própria vida.

Não há tempo, não há complacência
Só o desejo inócuo, a sede pelo poder
Na mão que segura a arma não há decência
E no corpo que tomba não há mais querer.

Agora, ouço os suspiros, os sussurros
Vêm de perto, dos órfãos, meninos perdidos
Escondem-se, esgueiram-se atrás dos muros,
Sentem fome, sentem frio, corpos desmilinguidos...

As meninas não estão lá, foram levadas
As meninas não são mais crianças
Olham para o alto, defloradas,
Buscando no infinito suas lembranças.

Continuo a ouvir os gemidos na escuridão
Vejo o desespero em cada olhar
Levanto-me, ergo o braço, mostro minha mão
Debalde, sou nada, perdido a caminhar.

Eles são Filhos da guerra, filhos da ânsia
Sobras das cinzas, do sangue derramado
Restos de nada, da ganância
Pedaços de vida, do sonho não sonhado.

Pedro Paulo de Oliveira
Direitos autorais.











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