sábado, 11 de maio de 2013

FLOR NO ORIENTE



O solo preto de carvão diante dos olhos atônitos da menina
Que, antes, afável, embalava seus sonhos no jardim da primavera.
A cortina de fumaça trespassa sua alma e sufoca seu grito de agonia
Pela perda incontida das vidas inocentes.

A solidão é perene com a visão dos corpos mutilados nos destroços de cimento.
A menina caminha devagar, olha tudo à sua volta sem compreender a dor
Que, ao longe, se faz presente no clamor dos derrotados.

A paisagem se alarga com a vida quase extinta
Na órbita do olhar infantil e aterrorizado
Que pede socorro num brado mudo e desamparado.

Na ingenuidade, ela olha onde antes era o jardim,
E os folguedos se avivam na neblina poeirenta
Que envolve os soldados que vasculham o nada.

No solo chamuscado uma flor teima ainda viva,
Arrebatada pela pólvora e largada ao acaso no descaso de quem não a viu.
A menina se ajoelha e pega a flor ao lado de um corpo sem vida.
O soldado, de pé, no meio da neblina, olha assustado,
Vira-se, atira.
A menina segura a flor e a oferece ao soldado,
Sem compreender a dor que atravessa seu peito,
Os pequeninos olhos brilhando
Num último lampejo de luz e doçura.

Pedro Paulo de Oliveira – Texto revisado em 11 de maio de 2013.

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