quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A IGREJA, GUARDIÃ DO TEMPO.





Estou diante da velha igreja, velando meus desejos, meus sentimentos mais profundos. Olho os detalhes das pedras sobrepostas, guardiãs do tempo, dos segredos e dos mistérios da vida, do vento. Ouço o sino lamurioso anunciando as horas, a morte, a missa, a festa...Meu espírito veleja e atraca em portos turvos de uma infância intermitente, latente. Sou novamente menino, pois que os meninos nunca morrem, são eternos nos nossos sonhos.

A porta da igreja sempre range, como rodas de carro de boi, para a chegada da multidão contrita. Na chegada, muitas entradas com homens e mulheres trajando vestes vermelhas e fitas cruzadas nos peitos carregando medalhões coloridos, guardiões da fé. A Igreja não cai, tem idade de tataravô e, se cai, levanta.

Toca a banda na frente da igreja, banda de crianças e velhos, de dois maestros, o velho e o moço, para a chegada da procissão que carrega a imagem do santo, da santa, conforme a fé, conforme o dia.

Noutro dia, o auto-falante anuncia o morto e a igreja abre suas portas, range a madeira, chorando a vida, pois que morte não se chora. O padre paramentado encomenda o corpo, mas a alma já se despregou, já foi embora, livre pelo espaço. Depois, vai a procissão levando o corpo pela rua dos defuntos. Vai embora o menino; vai embora o moço; vai embora o velho; vai embora a menina; vai embora a moca; vai embora a velha.

A igreja fecha suas portas. Nos seus altares dourados, imagens estáticas olham as paredes pesadas, os corredores frios, vazios, silenciosos.

Do lado de fora as torres de duas cores, silentes, olham para o céu e para a sua gente, no frio do inverno, pessoas em vestes lanosas, com os seus medos, seus desejos, seus amores e a infância navegando suave pelas águas do rio que corre lá embaixo, no fim do vale.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.
Todos os direitos autorais reservados

Imagem: Cássia Oliveira.

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