sábado, 8 de agosto de 2015

DO LIVRO "O TURVO E O TEMPO" - Quase pronto. Em fase de revisão.

... e a noite se fez presente trazendo consigo os fantasmas, lembranças, imagens perdidas no espaço, desenhos impalpáveis e flutuantes. O sussurro do Rio Turvo, cortando os barrancos, misturava-se ao som do vento frio vindo do sul, passando pela serra dos índios e tomando conta das casas, murmurando nas frestas dos sobrados. Alexandre olhou fixamente, mais uma vez, a água reverberando a lua de inverno. Aquela lua - a mesma lua - que iluminara o corpo branco e sensual da sua amada. Odiou o rio, odiou a lua, cúmplices do seu amor proibido. Tudo estava amaldiçoado. Desejou o mesmo destino do seu amor: desaparecer nas águas turvas do rio. Seria a vingança perfeita contra aqueles que proibiram seu amor e decretaram o destino trágico da sua amada. Todos eles teriam que conviver com o remorso de os terem sentenciado à morte. O tempo, esse relógio que só anda para frente levando-nos de forma tão cruel, poderia estar nas suas mãos e ele voltaria tudo e, antes que as águas levasse sua amada, ele a abraçaria e a levaria consigo para sempre, até o fim do próprio tempo.

Antônio acordou e ficou paralisado por um momento olhando o breu e escutando o silêncio. Embora o vento zumbisse do lado de fora, suava por todo corpo. Sua boca estava seca, pegajosa e dolorida. Levantou-se e foi até a cozinha tomado pela sede. Bebeu duas canecas de água. Mas não era somente a sede que o havia acordado. Um pressentimento o assaltava e seguiu para o quarto de Alexandre. O lampião tremulava na sua mão formando sombras disformes. A cama vazia deu-lhe a certeza de que seu irmão, tomado pelo desespero, devia estar zanzando pelas margens do Rio Turvo.

Pedro Paulo de Oliveira.

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