... e o menino saiu de casa apressado, passinhos retumbando no assoalho áspero, e pulou sobre a terra fofa da rua. Encontrou o sol, a brisa e as cores do céu. Sentiu-se livre, dono da sua vida, o príncipe da corte do Turvo. Seus cabelos cacheados e penteados cuidadosamente pela negra Zenita se soltaram, caindo sobre sua fronte larga. Seus olhos avistaram do outro lado da rua a figurinha de Miltão esperando-o ansioso e acenando-lhe timidamente.
O som de um tambor parou o mundo, interrompeu os sonhos dos meninos. As patas dos cavalos levantaram poeira e retumbaram na terra seca de outono. João Gualberto surgiu na porta do sobrado e olhou para o alto. Seus olhos depararam-se com os soldados descendo perfilados, alguns a pé e outros sobre cavalos e mulas. Antônio olhou curioso e assustado para o pai que desceu o degrau, foi na sua direção e o levantou no colo. Abraçou-o com força e lhe disse:
---- Fica com Deus, meu filho. Toma conta da sua mãe.
Antônio contentou-se em olhar para o pai que o colocou de volta no solo e montou no cavalo que o negro Jacinto lhe entregou. Em seguida, foi encontrar-se com os soldados que gritavam palavras de ordem e vivas à Revolução Liberal. No meio do caminho, o menino viu o pai encontrar-se com Bonifácio Azevedo e tentou compreender aquela amizade momentânea, aquele encontro circunstancial em prol de uma revolução que somente muito mais tarde ele viria a compreender.
...
Autor: Pedro Paulo de Oliveira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário