quinta-feira, 18 de abril de 2013

O PROFUNDO DO MEU SER




Enquanto seus olhos me fitam,
Encarnam a profundidade do abismo.
É nesse instante, de desejo constante,
que a fera indomada aflora
Seduzida pelo aroma da carne fresca
Que se espalha e invade a alcova,
Gruta de segredos e desejos.


Vem o perfume das roseiras,
Um hálito que passa pelas frestas da janela,
Vindo do jardim cercado de grades,
Molhado pela chuva fina de verão.


Lá fora o soldado também se molha
E dorme sobre a calçada despedaçada.


Quero, também, adormecer. Adormeço.
Seus olhos velam meu sono,
Meu sono cheio de sonhos,
Carregado de desejo e passado.


Viajo descalço e posso voar.
No sonho eu flutuo, eu mergulho no espaço,
Caminho pelas pedras
em alamedas compridas, íngremes...
Ruas de pedra, becos estreitos.

Sinto o cheiro de pólvora,
Sinto o gosto de sangue e ouço gemidos,
A lama entra pelos meus dedos
E eu escuto o choro dos órfãos
E o grito das meninas violadas.

A guerra me envolve, não termina nunca!
Melancólica e desgraçada guerra!
Quero permanecer quieto na alcova.
Minha vista arde
e você me acaricia voluptuosa.
Tenho medo da guerra, esqueço a guerra.

Pedro Paulo de Oliveira - 18 de abril de 2013

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