sexta-feira, 15 de novembro de 2013




ESSÊNCIA... ETERNA?

Não há poesia sem dor
artista sem desilusão
vida sem paixão
paixão e loucura
viagens alucinadas,
desejos homéricos,
anseios utópicos
nos olhos da criança
nos seios da mãe.

Artista... Poeta
Menino, menina
Dançarinos...

Herói em busca de aventura
vê o âmago da vida
retorna ao ventre
viajante perdido
caminhante sem parada...

Nos seus olhos
a vida
na sua face
a paixão
nos seus gestos
a história.

a essência de tudo
pulsando no peito
início de um fim
fim que não vem

dor
paixão
sorriso...
vida.


Poesias Esparsas – Pedro Paullo – 2.009

Foto: Augusto Cabral – Capela do Espírito Santo – São Vicente de Minas - MG

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O ESCRITOR





Cá estou eu preso no tempo e no espaço, envolto pelos meus fantasmas, um pouco sossegado e, às vezes, melancólico. No fundo, sozinho, carrego meus traumas e são eles os meus fantasmas. Por isso, tornei-me um ermitão. Mas, nunca estou sozinho e posso provar isso ao longo do pouco que tenho para expor meus pensamentos neste instante.

Não faz muito tempo que construí esta minha cabana. Desenhei-a, primeiro, em meus pensamentos e ela foi se erguendo, madeira sobre madeira, madeira ao lado de madeira. Foi até fácil. A paisagem que escolhi, já estava, há tempos, guardada em meu âmago e bastou-me fechar os olhos para encontrar as montanhas verdes e úmidas que pareciam inatingíveis olhadas de longe, azuladas.

Encravei os troncos na terra úmida e logo a cabana estava de pé. Uma construção tosca, quente no inverno e amena no verão. O dormitório, a sala, o escritório e a cozinha formavam um único aposento, cheio de luz e cores. Só o banheiro foi construído separado, espaçoso e bem iluminado, com uma banheira próxima da janela. Nunca gostei de banheiros pequenos. Em volta da casa, construí um jardim; mais ao fundo, um pomar; na frente, deixei as árvores nativas. Minha cabana passou a fazer parte da paisagem.

Francisca, esposa de um lavrador da região, mulher simples, de poucas palavras e muita sabedoria, todos os dias caminha durante uma hora, cuida das minhas refeições, da arrumação da casa, das minhas roupas e, logo depois do meio-dia, despede-se e vai embora.

Levanto cedo, gosto do inverno. A natureza adormecida obriga-me a escrever mais e passo o dia sobre a escrivaninha, ao lado da janela e, de vez em quando, levanto os olhos na direção da paisagem. Durante a noite, aqueço-me diante da lareira lendo Graciliano Ramos ou Gabriel Garcia Marques. 

Quando vem a primavera, tudo muda, o mundo à minha volta se transforma. Deixo um pouco o casulo e vou cuidar das plantas. É quando eu a espero. Sei que ela não virá; está além dos meus braços; e dos meus olhos. Mesmo assim eu a espero e sempre vou espera-la, imaginando que, quando ela chegar, o seu perfume vai se confundir com a fragrância das flores e invadir tudo, tomar conta da minha vida e do mundo. Eu estarei adormecido, ela chegará com um vestido longo e transparente. É como eu gosto de vê-la chegando, provocante, sensual. Abrirei os olhos e verei seu corpo sob o tecido, cortado pela luz do sol da manhã. Tomaremos café juntos e ela me falará das suas viagens, das suas alegrias e das suas tristezas. Depois, suavemente, ela deixará seu corpo pender sobre o meu e, com ardor e paixão, se entregará por inteira aos meus desejos.

Mas, ela se vai, como não veio... É apenas uma miragem, daquelas que vislumbramos no meio do deserto, morrendo de sede. Mesmo assim, gosto da primavera, do cheiro que ela trás, das cores que mudam lentamente, do orvalho que escorre por todos os lados e das primeiras chuvas, batendo no telhado, balançando os galhos desfolhados, formando pequenas poças.

No verão faço longas caminhadas e recomponho-me nas águas do lago, por longas horas, completamente nu. Quando vem o outono, algo novo me contagia: meu ser se prepara para uma espécie de hibernação. Volto a escrever freneticamente e, nas vezes que saio, junto madeira para o inverno – fico meio parecido com as formigas. - e caminho sobre as folhas secas. A chuva, que no verão me manteve tantas vezes dentro de casa, está longe, caindo em outras plagas, regando outras plantas, acordando outras vidas.

Pressinto que logo voltará o inverno e terei, talvez, terminado mais um livro. Não sei se o mundo vai aprecia-lo. Espero que sim, pois é o que melhor sei fazer, é o que melhor posso deixar para a posteridade. Vivo com os meus personagens. Eles são gerados e vivem à minha volta, riem, choram, amam, matam, violentam; são pobres, ricos, formam exércitos; e são mortais, tal como eu. Essa é a minha vida, essa é a minha sina... Eu sou o escritor.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: superdowload

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

DESVELO DE UM ADEUS





Quisera eu que não te fosses
entremeado pela multidão inquieta...

Era apenas uma tarde,
de um dia qualquer de verão,
o trem vindo, apitando sobre os trilhos,
as pedras alisadas sob nossos pés
e o sino de bronze da estação.

Lembro-me da janela de madeira cor de vinho
com as suas bandeiras abertas olhando as almas
de tantas vidas passadas em idas e voltas.
Ouço o soluço das despedidas e o gemido da chegada
misturados ao ruido das rodas de ferro arrancando fogo
sobre pedras e madeiras.

O sol se dividia sobre os telhados
criando sombras, imagens fugidias,
seus olhos me olhavam,
seus dedos tateavam o espaço vago,
indecisos, ainda meninos, ainda carentes.

Quisera que ficasses para sempre
acalentando meus sonhos,
preso em meus abraços.

O apito corta o ar, ecoa, retine nos ouvidos.
Última chamada para a despedida,
acalento seu abraço e me afasto.
o trem se move no atrito sobre o ferro,
a janela nos separa,
distancia seus olhos dos meus olhos,
o vagão vai, arrastado pelo trem,
vai subir a montanha,
vai buscar o mar.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: realmazen

sábado, 2 de novembro de 2013

O MATADOR DE SONHOS - PARA ISABELA


Para Isabela Pavani Castilho, 18 anos, que foi baleada na cabeça na rodovia Presidente Dutra, em Guarulhos (SP), na noite de terça-feira (29), e que morreu na madrugada deste sábado. Seus órgãos foram doados para que outros sonhos possam continuar vivos





Meus olhos espreitam...

Quero roubar o sonho,
Quero arrancar o sorriso
Quero levar a vida.

Eu não sonho,
Eu não tenho vida,
Miserável que sou
Nas entranhas das trevas
Que me consome,
que me leva.
Eu bebo, eu cheiro
Eu sorvo,
Eu roubo.

Minha alma se perdeu,
não tenho piedade,
não sou filho, não sou pai...
meus irmão se foram...
Esqueci do amor,
perdi o perdão.

Sou o atroz...
Covarde desgraçado!...
Minhas palavras são poucas

Consumidas pelo ópio.
Meu olhar não gosta do seu olhar.
Não me olhe!
Sou o seu juiz
Sou o seu carrasco.

Por quê?
Não me pergunte.
Aprendi a matar,
Sou o espírito das trevas,
Seu desassossego,
Seu terror,
Seu cadafalso,
Sua pena de morte.

Quero matar seu sonho,
Por que não posso sonhar;
Quero sua vida,
Por que não tenho vida.

Hoje, vou caçar
Destroçado pela alucinação...
Pego a estrada,
Escolho a vítima,
Quero tudo que ela tem...
A vítima?...

Não merece viver.
Escuto suas súplicas...
Que idiota!
Eu sou o senhor da vida.

É uma donzela
Seus olhos brilham,
Ela é bonita,
Ela tem sonhos...
Mas seus sonhos não são meus,
Ela me olha nos olhos,
Não gosto, sou escória.
Decido se ela vai viver.

Tenho o poder nas mãos,
Sinto-me excitado...
Comprimo meus dedos,
Escuto a explosão...
A donzela ainda me olha,
Ela chora.
Lágrimas no brilho do olhar que se apaga.

Eu sou o mal encarnado,
a sua desventura...
não cruze o meu caminho,
Não me olhe,
Eu não gosto do seu olhar,
se cruzar o meu caminho
eu levo a sua vida,
eu mato os seus sonhos.


COMENTÁRIOS:

Após ponderar sobre tantas tragédias e tomar conhecimento da morte de Isabela, de forma brutal e covarde, tentei, como escritor, transcrever o que sente um assassino mordaz, cruel e implacável diante das vítimas indefesas. Quero, com isso, mostrar para o mundo, do outro lado, do lado do carrasco, que todas essas mortes foram praticadas de forma covarde e que alguma coisa tem que ser feita para mudar a situação de horror que a nossa sociedade está vivendo. Talvez, com um olhar mais profundo sobre os sentimentos desses algozes, as autoridades possam mudar essa realidade brutal e sanguinária vivida pela maioria dos brasileiros.


Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: R7

NO FIM, O ÊXTASE




Parece que tudo já foi dito,
poucos sabem alguma coisa.
muitos têm algo a dizer
poucos dizem alguma coisa

Muitas imagens, muitos desejos
quase nenhuma verdade
Muita procura
Poucos encontros

Toques, retoques
no sibilar das vozes,
no extremo das volições,
nos achados e perdidos
de noites mal dormidas,
Achaques expressos
nos olhares esguios,
promessas esvaídas
nas almas caídas,
nas penumbras vividas.

No fim, enfim...
Nada a dizer.
O que restou? O clamor...

Sentidos abertos... instintos,
pernas abertas...Absinto.
Torpor... Mentira do amor.

Pedro Paulo de Oliveira.

www.escritoresnovos.blogspot.com.

Imagem: portodefatima

DEPOIS, A CASA.





Ato, desato, vivo,
escrevo a ata,
atos em lírios
nos meus olhos,
puros delírios
no côncavo convexo
da minha mão,
do meu plexo,
cansaço do sexo,
momento sem nexo.

Brilho dos bugalhos,
ponte estreita,
travessia de retalhos,
olhos à espreita,
os lírios abertos
escondem desejos
dantes cobertos
por nuvens e lampejos.

Depois da ponte
tem a casa aberta
onde jorra a fonte
da vida incerta.

Atravessar o rio,
para trás a solidão,
noite e frio,
a densa serração,
a casa espera,
lume...
vida... Você está lá...
foi-se a quimera...
Vida... Olhos que espreitam...
Você voltou...
O mundo mudou...

A vida não para,
mas tem a ponte,
o colo que ampara
tem a casa, o calor
tem a fonte...
Tem o amor.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: wallpapers

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

JANELA DA VIDA





Ouço o sussurro das vozes
que me restaram como dádivas
no parapeito da sala
na paisagem eterna...

Não me causa espanto
o cheiro das rosas
que vem do canto
do jardim molhado
bem ali do lado
da janela acortinada
de cetim branco rendado...

Você vem sempre, teimosa,
imagem tão nítida,
não é uma só,
são tantas, de tantos amores,
desejos fugidios,
encontros, despedidas.

Meu cérebro é um álbum
de fotos e filmes,
folheio sem parar
e assisto pela tela
que se abre para o mundo
no espaço da janela,
do eu mais profundo.

Este é o lugar onde estou,
tenho a janela e a avenida
caminho do restou
do tudo, da minha vida,
vida de um tempo,
vida vivida, vida metida,
vida dividida,
a minha vida.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira.

Imagem: Busca no Google.