sexta-feira, 19 de julho de 2013

NOITE, DESAMBIGUAÇÃO DOS DESEJOS.



Noite, tu és mulher voluptuosa,
mulher charmosa,
mulher dengosa,
mulher cheirosa.

Por que a noite sempre nos trás lembranças,
o gosto de alecrim e de alfazema?
Seria a noite o instante supremo da vida?
Ou seria a noite o momento mágico
quando desnudamos nosso eu
de convenções e proibições?

Noite, desambiguação de desejos contidos,
contidos pela luz do dia,
pela terra que gira na direção do sol.

Nós, humanos, somos seres notívagos,
ofuscados pela luz do dia
encontramos na noite
nosso eu suprimido.

Noite... de lua cheia, de via láctea
não apetece que chova
e que chova, mas não na minha alcova
onde meu corpo estremece de desejo
muito embora possa estar distante
dos meus olhos em danação.

A danação não me deixa ir embora
enquanto na noite eu não encontrar
seu corpo nu e sem demora
perder-me sem demora
que perdido na noite quero ficar
até que chegue, devagar, a aurora.


Somos filhos da noite, com certeza
de encontros ardentes e alucinados,
e da ânsia danada que viceja
de dois seres apaixonados.

É na noite que a (o) procuro
na penumbra tateio suas artes pudendas
despido (a) de opróbrio e de medo
sentindo o odor de barrela
atiçando ainda mais o meu fogo,
subindo a febre que toma meu corpo.

Venha, entregue-se, encontre-se na noite,
a noite é feita para os perdidos.



Pedro Paulo de Oliveira
Direitos Autorais

quarta-feira, 17 de julho de 2013

VIDA




O que busco?
A minha alma.
O que quero?
A vida.
O que olho?
O mundo,
A vida.
O que sinto?
A vida indo, indo e indo...
É bom?
Ah, é sim, é a vida!

Pedro Paulo de Oliveira.
Direitos autorais.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

O TURVO E O TEMPO



São muitas vidas, mil amores,
Ventos vindos do tapanhú
Muitas estradas, muitos morros,
Muita gente vinda do matutú.

No céu infinitamente azul,
Que brilha no rio sinuoso,
O voo eterno do urubu,
Gari negro e charmoso.

Igreja, igrejinhas, portas abertas pra rezar,
No dia que finda de luz dourada
De sossego na pracinha pra esperar
Deus, Virgem Maria e a pessoa amada.

O apito apita de longe e vem do trem...
Lembranças de um tempo distante,
Amores que foram e vêm,
No olhar da saudade presente.

Onde estão seus filhos barões?
O que foi feito dos seus sonhos de glória,
Dos escravos presos em grilhões
E das batalhas perdidas na memória?

Para onde foram as guerras
Do Coronel e do Visconde,
Orgulho sobre as terras,
Duelo eterno da fronde?

A resposta vem das pedras enterradas,
Dos gritos das conquistas ecoando,
Das vidas e das almas eternizadas,
Dos homens bravos lutando.

E resta, ainda, eterno, o casarão,
Dos muitos umbrais ungidos de dores,
Nos desenhos da grande embarcação,
Na avenida dos desejos e dos amores.

És tu, Turvo Grande, Turvo pequeno,
És tu que um dia viveu a glória,
Retiro de paz, recanto ameno,
Que levo, para sempre, na memória.


Pedro Paulo de Oliveira
Direitos Autorais.
Imagens: Cássia Aparecida de Oliveira




quinta-feira, 11 de julho de 2013

SEGUINDO EM FRENTE



A estrada, não importa,
Se de terra ou de ferro.
Sigo em frente,
Buscando meu eu.

Deixarei em cada estação
Um pouco dos meus sorrisos,
Meus passos cada vez mais cadenciados
E o calor das minhas mãos.

Por onde andei, fui menino e menina,
Fui homem e fui mulher.
Amei e fui amado
E continuei seguindo em frente

Seguindo em frente sempre,
Na serração da manhã,
No frio que segue a estrada
Sobre a terra, pedra e pedras,

Muitos passos e espaços,
Sob a chuva ou sob o sol,
Em olhares, beijos e abraços
e loucos desejos sob um lençol.

Levo comigo a minha casa,
Por onde entra o sol,
sol que vejo da janela,
Brilhando no arrebol.

Levanto sempre, não posso parar,
A serração dá espaço para a aurora
Ela se vai, diluindo-se no ar
Não há mais tempo, vou embora.

Pedro Paulo de Oliveira.
Direitos Autorais

domingo, 7 de julho de 2013

LUMES DO PASSADO.


O sol arde e queima o horizonte
Últimas faíscas de longo um dia
Do inverno impiedoso sobre o monte
E dos meus olhos que a tudo copia

Vejo o mundo, vejo os sonhos distantes
Na vida que com a luz se esvai
Deixando as lembranças dos instantes
Que só sabemos quando não temos mais

Não tenho mais o colo materno
Não tenho mais o amor perdido
Não tenho o sonho terno
Do menino concebido

Sou adulto andarilho errante
Suplicando um pouco mais de acalanto
Saudoso do passado distante
Deixado no espaço feito pranto.

Texto de Pedro Paulo de Oliveira
Direitos Autorais

domingo, 23 de junho de 2013

OCASO SOBRE O TURVO


O fogo se abre e encerra o dia
Que daqui a instantes trará a noite
Depois da aurora boreal de ouro
Que cinge todos os olhos no entardecer

Teia imensa no horizonte
Relevo da terra antiga
Fim do dia na cidade pequena
Atrás dos montes de Minas

A brisa que chega trás o frio
Do inverno em chamas
Vem de longe o vento ventania
Que venta só aqui, no meu lugar

É quando as maritacas fazem revoadas
É quando os pardais se unem em algazarras
Os urubus fazem silhuetas no horizonte dourado
Num último voo em busca da luz

O rio que corta vales e montanhas
Brilha como prata entre bambuais
Conta as histórias dos meninos
E guarda os segredos dos homens

É o Rio Turvo da cidade que foi Turvo
É o Rio de onde nasceu um povo
É o Rio da cidade, agora, de André
De Manoel, de Barões, do Visconde... Rio que rebrilha o ocaso
Rio do Coronel, dos tenentes e dos capitães

Apetece que a luz vá embora
E adormece a passarada
As montanhas viram sombras
Pela noite enluarada

Vento frio que assobia
Na noite espalha as folhas
Não espalha meus desejos
Traz a mulher amada para aquecer-me

Na madrugada ouço os passos
De séculos de amores
Nesta terra de compassos
De Paixões sem pudores

Casarões, casarios, sobrados nas avenidas
Fantasmas passando ousados
Caminho eterno de tantas vidas
Variante de sonhos enjaulados.


Texto e fotos
Pedro Paulo de Oliveira
direitos Autorais











sexta-feira, 21 de junho de 2013

EXECRADO



Teus olhos são grilhões que me prendem
Tua pele tem gosto do mato
E Tuas mãos me pegam já entregue
Na prisão do teu corpo.

Sou teu dromedário no infinito de areia
Na solidão escaldante do sol do deserto
Tu chegas sem pedir licença e arrasta-me sem piedade
Para teu mundo, dona de dons, bruxa sensual.

O que me importa o teu castigo
Se no final é o gozo que tenho
Animal que sou
Domado por ti?

Sou escravo como todo homem é
sou menino peralta
Sou nada...
Sou servo do desejo da mulher.



Pedro Paulo de Oliveira.
Direitos autorais