segunda-feira, 27 de maio de 2013

DEGREDO


Quando vais embora acorrento meu corpo,
Despedaço-me diante do mundo,
Perdido, sonâmbulo, irrompido para o nada,
Desgraçadamente por tua ausência.

Ausência de que, ausência por quê?
Pergunto-me na noite sem fim.
Ausência de ti,
Que já não sei mais quem é.

Sei apenas da tua ausência,
Porque fostes borbotada como a brisa
Ou, talvez, como o rocio da manhã
Que evapora, perfuma e vai-se embora.

Não há piedade na despedida
E o gosto desaparece com o desgosto
Da execrada distância que separa os corpos
E o meu suplica pelo que não mais tem.

E o ter, de repente,
Já não é mais poder, é despedida...
Despedida... Todos os dias eu despeço
E fico saudoso.

Não há mais como bulir
Não há como embriagar
Degredado estou,
Preso ao meu passado,
Ao que tive e ao que poderia ter.



Pedro Paulo de Oliveira
Direitos Autorais.




O AMOR, UMA SEMENTE



A semente não brota na pedra fria e seca.

O amor que deres hoje, será como a semente jogada na terra.

Se a terra for fértil, o amor florescerá e dará fruto.
Se a semente secar, tal como o amor,
mesmo assim não perecerá,
aguardando o dia de brotar.

Pedro Paulo de Oliveira.
Direitos Autorais.

sábado, 25 de maio de 2013

ESTRADA DE TERRA DE MINAS GERAIS


São estradas de terra,
Estradas de pedregulhos,
Estradas de poeira bruta,
Estradas para os pés do matuto.

Estradas cercadas de paus tortos,
Caminhos de arame farpado
Para o canto choroso do carro-de-boi,
Caminho eterno do gado.

É Minas Gerais de estradas de terra,
É Minas na curva da montanha,
Minas dos riachos e pontes de madeira
Lugar de povoados atrás das matas.

Minas Gerais das muitas fazendas
Sítios de histórias dos meus avós.
São tantas estradas em Minas Gerais!
Caminhos do ouro, caminho dos escravos,
Trilha das mulas e dos cavaleiros.

Estrada de terra comprida,
Estrada de terra envelhecida,
Estrada de terra endurecida.
Sua idade é a de Minas.

Leva-me pra cidadezinha,
Lá no alto da montanha,
Pra eu na noite de lua,
Escutar a arenga do caipira.


Guarda a alma do seu povo maneiro, mineiro que só.
Leva minha vida, que de cá, um dia, serei esse seu pó.

Pedro Paulo de Oliveira – Poema revisado
Direitos autorais


quinta-feira, 23 de maio de 2013

FILHO DO DESEJO


Olhe dentro dos meus olhos,
Verá o mundo inteiro,
O meu amor infinito
O meu desejo latente

Desejo ardente, premente.
Por que?
Porquê sou filho do desejo,
Desejo de vida, que dói, que vai.

Sou filho da luz e do vento,
Sou filho do tempo.
Que tempo?
Tempo que não conta, que não passa.

Sou filho do eterno, do infinito.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

A INOCÊNCIA E O ÓBVIO DA VIDA



Era uma daquelas tardes frias de primavera, quando a natureza, refletindo o resto da luz do dia, exala uma fragrância suave e enternecedora. Havia caído uma chuva leve e minha pequena neta Ana Clara olhou para o céu e me disse, com os olhos brilhando:

---Vovô, o céu está arrepiado e cheio de carneirinhos!

Algo extraordinário ocorreu naquele instante. Compreendi, um pouco, o sentido da vida, o porquê do amor que nutrimos pelas pessoas e a razão dos sentimentos que nos transformam em seres melhores, dotados de enternecimento e vontade de lutar e aprender. Aquela menina pequena, morena, de cabelos longos e olhos negros e amendoados, representava a inocência.

Depois, ela sorriu, abraçou minhas pernas e eu fiz uma viagem interior por países como a Etiópia, Haiti e Angola; e no Brasil, pelo Vale do Jequitinhonha e favelas espalhadas pelas grandes metrópoles. Vislumbrei tantas vidas olhando o céu, inocentes, em primaveras com gosto ocres, sobre escombros formados por bombas, em meio a corpos mutilados, ensanguentados e sem vidas. Vislumbrei existências órfãs, com o mesmo brilho nos olhos da minha pequena Ana Clara. Indaguei-me das razões que levam os seres humanos a se tornarem tão cruéis e insensíveis. Naquele instante não encontrei a resposta. Mas os pássaros me responderam no final do dia. Vi-os cantando para a vida, ajudando a perpetuar a primavera. Simplesmente faziam isso sem precisar destruir a natureza. Percebi que a ambição é a causa dos maiores males da humanidade. O ser humano jamais se contentará em tornar sua existência como a da criança e a do pássaro, por que o mundo está nas mãos de pessoas incapazes de ver que a nossa vida é apenas um momento sublime de encontro com a terra; que a vida é a dívida da própria vida, principalmente quando tentamos encontrar o nosso eu e nos deparamos com o inusitado: um olhar, um toque, uma estrela cadente... E temos vontade de abandonar tudo e partir em busca do desconhecido, sem compreender a razão.

É preciso coragem para sentir como as crianças e eu parabenizo a todos os heróis dotados de sentimentos puros que, mesmo sabendo que o perigo sempre os acompanhará, teimam em continuar a lutar pela preservação de uma existência digna para todos os seres humanos e, mesmo que lhes custe a vida, lutarão até o fim.



Pedro Paulo de Oliveira
Direitos Autorais

sábado, 18 de maio de 2013

NASCER E MORRER POR AMOR


Já é inverno e esqueço o verão
Procuro seu corpo nos campos dourados
Campos de milho feitos grãos vermelhos
Como seus lábios de vida, ardor e desejos.

Sinto o rocio na pele e arrepio diante do sol,
Você vem, caminha, não vejo mais nada,
Só quero seu seus braços e abraços
E perder-me nas suas entranhas molhadas.

Seus olhos me olham e flamejam
Suas garras me agarram
Seu corpo me envolve
Minha vida se esvai.

Choro e as lágrimas descem silenciosas,
lágrimas que prenunciam o gozo, o início e o fim,
meu ser vai se esvaindo,
perco o sentido, flutuo no meio da luz.

Morrer? O que me importa morrer depois do prazer,
Se vivi cada fugaz momento por este instante?
Minhas lutas, vitórias e derrotas que foram tantas
Só existiram para entregar-me a você.

Pedro Paulo de Oliveira – 18 de maio de 2013.
Direitos Autorais.

terça-feira, 14 de maio de 2013

O DOCE E INFINITO ORVALHO


O orvalho, doce infinito de uma obra prima,
Gota de cristal escorrendo lentamente
Condensada na penumbra do ocaso
Diante da luz, para diluir-se, desvanecer-se como um sopro.

Flui e percorre o caminho que escolheu para si.
Mas, prefere a folha e a pétala para a fecundação,
Deseja, infinitamente, para sempre, a vida,
E rola, desliza como uma pérola solta por casualidade da concha escura.

Num instante, ainda presente, de vida ardente,
Rola o orvalho e cai sobre o solo como chuva fina.
Fecunda a terra, húmus que se espalha,
A menina que olha e sonha todos os sonhos de criança,
Sonhos eternos como o orvalho.

Pedro Paullo – Outubro de 2012