segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O SILÊNCIO, APENAS



Sou o silêncio 
que adormece em seu colo
para sentir a vida pulsar

Sou o silêncio que pede amor
que pede um toque
uma matiz
um segredo
do coração

Sou o silêncio na noite
na calidez da alcova
sem lençol
desnudo
sem pudor.

Sou o silêncio perpetrado 
no seu olhar
na sua voz calada
no seu gesto mudo
na sua língua molhada.

Quero o silêncio dos seus braços
de um abraço só
entrelaço sem pedaço
sigiloso ardor
do corpo inerte

Sou o silêncio da sua alma
que flutua no espaço
espaço de essências 
lugar de reminiscências
Alma que se perde
leve, sem asas...

Quero o silêncio
apenas o silêncio
da pedra imóvel
da chuva fina
que desce do ceu.

É tudo que quero:
Apenas o silêncio da vida
das mãos que acalentam
dos carinhos que apascentam.


Pedro Paulo e Oliveira.
  

 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O GALO VELHO E O GALO NOVO






Certa manhã o fazendeiro foi até o galinheiro e verificou que as galinhas haviam diminuído a produção de ovos, e pensou: “Esse galo ficou velho. Está na hora de colocar um galo novo no galinheiro e sacrificar o velhote. O danado num tá dando no couro mais.” Pensando assim, selou o cavalo e seguiu até a fazenda do seu compadre que distava a poucas léguas da sua fazenda. Sabia que lá encontraria galos novos.

No final da tarde, voltou carregando um galo novo dentro de um saco. Apeou, abriu o saco onde o novo galo esperneava sufocado e cagando de medo, achando que ia ser a mistura do jantar. Mas, logo percebeu que o seu destino era outro, ao ser jogado no meio de dezenas de galinhas gordas e cacarejando feito loucas ao ver o novo galináceo de penas emplumadas e coloridas pousando na terra após um curto voo.

O galo velho, ao ver o novo morador do galinheiro, entendeu de imediato que ele estava ali para tomar o seu lugar, e pensou: “Que merda! Tô ferrado. Amanhã mesmo viro almoço! Preciso pensar num jeito de me safar desta.”

O Galo novo, com o peito estufado, logo soltou a voz num canto possante para mostrar para as emplumadas que era ele quem mandaria no pedaço a partir daquele dia. As galinhas se arrepiaram e começaram a rodear o novo rei do galinheiro. Emproado, ele levantou a cabeça, deu uma volta para destacar as cores vermelhas e pretas das suas penas; a robustez do seu corpo; e olhou com desdém para velho galo.

Num canto, quieto, o galo velho ruminava um plano para não ir parar na panela. Depois de um tempo, saiu de onde estava, aproximou-se do galo novo e perguntou: “E ai, como vão as coisas?” Orgulhoso e senhor de si, o galo novo respondeu com sarcasmo: “ Bem, velhote, muito bem. Mas, com você as coisas não estão bem. Sou o novo rei do pedaço e, amanhã, você vai pra panela.” O galo velho, em tom conformado e melancólico, respondeu: “É... É a lei da vida. Mas tudo bem. Já que você está tão senhor de si, quero te propor um desafio....” O galo novo interrompeu-o com uma risada e emendou: “Um desafio...hum... Tá bom. Diga lá” O galo velho, sem perder a calma, propôs: “Olha... Vamos apostar uma corrida. Aquele que perder sai do galinheiro.” O galo novo riu sem parar e aceitou o desafio: “Ta feito. Mas você vai passar vergonha. Como vai ser?” O Galo velho olhou para as galinhas, pediu que elas saíssem do meio do galinheiro e respondeu: “ Duas voltas no galinheiro. O que vencer, fica com o reinado. Mas... aqui... Eu to velho. Me dá, pelo menos, uma dianteira de dois metros. O galo novo pensou, calculou o tamanho do galinheiro, olhou o estado de velhice do seu oponente e concordou.

Acertadas as distâncias, galinhas alvoraçadas e nenhuma acreditando que o galo velho pudesse vencer, os dois se posicionaram para a contenda. O Galo velho disse: “Quando eu contar até três, começamos a corrida.” As galinhas iniciaram uma gritaria sem fim e a corrida começou com o galo velho na dianteira.

O fazendeiro, ouvindo a baderna no galinheiro, pensou que tivesse ladrão na fazenda, pegou a espingarda e saiu da casa em louca carreira. Chegando no galinheiro, presenciou a cena inusitada: o galo velho correndo feito louco e o galo novo atrás dele quase o alcançando. Sem hesitar, engatilhou a espingarda, mirou e atirou. Acertou em cheio o galo novo, e exclamou, em tom de desânimo: “O raio do galo era viado! É melhor ficar com um o galo velho e pouco ovo do que um viado com ovo nenhum!


MORAL DA ESTÓRIA: MAIS VALE A EXPERIÊNCIA E A ASTÚCIA DO QUE A FORÇA E A OUSADIA.


Pedro Paulo de Oliveira

Direitos reservados

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

UM SONHO DE AMOR NO NATAL



Eu queria que neste NATAL e, a partir do ANO NOVO, todos soubessem que a vida nada mais é do que pensamentos esparsos, sonhos espalhados ao vento, metáforas do que parece realidade.

Eu queria que todos os seres humanos se sentissem responsáveis pelo destino do universo.

Eu queria que as pessoas acreditassem na vida como um presente único, onde as forças seguem para um só rumo.

Eu queria poder ver cada ser humano cumprindo a sua parte, respeitando os direitos dos seus semelhantes.

Eu queria ver as pessoas olhando para o mundo sabendo que a existência é efêmera e que a qualquer instante poderemos fazer parte de um mistério que apaga os nossos pensamentos.

Eu queria que a palavra AMOR habitasse todos os corações humanos.

O mundo poderia ser melhor se as almas fossem reais, a paixão não fosse proibida e todos pudessem viver segundo as leis do AMOR.

O mundo poderia ser melhor se as pessoas não roubassem, não se matassem e não precisassem explorar ou humilhar seus semelhantes.

Os seres humanos, como senhores do PLANETA TERRA seriam mais felizes se respeitassem todas as plantas - por mais minúsculas que elas sejam; se respeitassem as águas das fontes, dos córregos, dos rios, dos lagos e dos mares; e se entendessem que a terra e o céu também não são eternos.

Mas eu queria, ainda, que todos os seres humanos lutassem pela vida, vivendo pouco ou não, mas que fizessem dessa luta um ideal a ser cumprido todos os dias.

Enfim, eu queria que as pessoas não mais se unissem para construir grandes impérios para impor suas ideias e subjugar os mais fracos e desafortunados em razão da miséria e da fatalidade.

Eu acredito que muitos também acreditam. É possível realizar esse sonho de amor.





PENSAMENTOS ESPARSOS,

Pedro Paullo – 24 de dezembro de 2.015.

Imagem: G1 Globo.com

domingo, 30 de agosto de 2015

DO LIVRO O TURVO E O TEMPO



(...) "O Cachorro é o melhor amigo do homem até que conheça o poder do dinheiro" - Disse o Coronel olhando a matilha de viadeiros correndo atrás da caça que fugia apavorada, embrenhando-se nas capoeiras. (...)

 
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                   (...) O negrinho Teté saiu correndo, todo doido de alegria, pisou na bosta de vaca e se estatelou com a fuça na pinguela. Ficou por lá, dependurado e flácido lavando os pés no córrego. Uma brecha se abriu na sua testa e o sangue escorreu tingindo a água que desembocava na bica. Zenda olhou de esguelha e pensou: "destino bão só tem é coroné. Negro num vale pra nada neste mundo." Os outros negrinhos chegaram alvoraçados, gritando e rindo, e rodearam o amigo sem entender muito bem o que estava acontecendo. Zenda chegou mais para perto, esparramou a horda, catou o menino no colo e olhou na direção da casa por onde surgia o Visconde já arrumado para sair.  Os dois olhares se encontraram, se fixaram por um instante, até que Zenda se foi na direção oposta levando a massa mole de vida nos braços. (...)


Pedro Paulo de Oliveira.

sábado, 8 de agosto de 2015

DO LIVRO "O TURVO E O TEMPO" - Quase pronto. Em fase de revisão.

... e a noite se fez presente trazendo consigo os fantasmas, lembranças, imagens perdidas no espaço, desenhos impalpáveis e flutuantes. O sussurro do Rio Turvo, cortando os barrancos, misturava-se ao som do vento frio vindo do sul, passando pela serra dos índios e tomando conta das casas, murmurando nas frestas dos sobrados. Alexandre olhou fixamente, mais uma vez, a água reverberando a lua de inverno. Aquela lua - a mesma lua - que iluminara o corpo branco e sensual da sua amada. Odiou o rio, odiou a lua, cúmplices do seu amor proibido. Tudo estava amaldiçoado. Desejou o mesmo destino do seu amor: desaparecer nas águas turvas do rio. Seria a vingança perfeita contra aqueles que proibiram seu amor e decretaram o destino trágico da sua amada. Todos eles teriam que conviver com o remorso de os terem sentenciado à morte. O tempo, esse relógio que só anda para frente levando-nos de forma tão cruel, poderia estar nas suas mãos e ele voltaria tudo e, antes que as águas levasse sua amada, ele a abraçaria e a levaria consigo para sempre, até o fim do próprio tempo.

Antônio acordou e ficou paralisado por um momento olhando o breu e escutando o silêncio. Embora o vento zumbisse do lado de fora, suava por todo corpo. Sua boca estava seca, pegajosa e dolorida. Levantou-se e foi até a cozinha tomado pela sede. Bebeu duas canecas de água. Mas não era somente a sede que o havia acordado. Um pressentimento o assaltava e seguiu para o quarto de Alexandre. O lampião tremulava na sua mão formando sombras disformes. A cama vazia deu-lhe a certeza de que seu irmão, tomado pelo desespero, devia estar zanzando pelas margens do Rio Turvo.

Pedro Paulo de Oliveira.

VÉNUS E MARTE - AMOR E PAIXÃO


houve um tempo
um tempo de amor e paixão...
dois Deuses
Vénus e Marte...
eles se amaram intensamente...


Zeus - o Deus Supremo -
por capricho - proibiu esse amor.


O amor, mais forte que tudo,
uniu-os em louca paixão.


Zeus - cruel - condenou-os à perdição
Separou-os no firmamento.
Vénus brilha intensamente e bela
acordando quando o dia esmorece
e ganhando vida
reluzente - ao lado
da lua.

Marte - o Deus da Guerra -
com a cor do fogo - foi colocado
bem distante, admirando sua musa
Vénus - a Deusa da Beleza -
chorando a perda do seu amado.

Nas noites frias de outono ou inverno
com o céu límpido
os dois apaixonados podem se ver
e homens e mulheres na terra
da mesma forma
podem sentir a força
desse amor
e entender que a vida é nada sem amor e paixão.


Escrito por Pedro Paulo de Oliveira.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

MEMÓRIAS - INAUDITA SAUDADE



"E as vozes perpassavam pela sua alma, como vento que leva a poeira e as folhas secas"

É apenas e nada mais que um ancião...
Ouço sua respiração, 
seus movimentos cadenciados
pisando no assoalho, retumbando no porão,
derrubando o cocô dos cupins 
da madeira envelhecida
sob o peso dos anos contados e rendados na pele,
maracujá de gaveta com o sumo preservado.

Restou-lhe o imenso casarão, sobrado que sobrou...
As paredes, as portas, as janelas, a cortina balançando,
alcovas, salas, corredores, cozinha, fogão a lenha adormecido,
lembranças de café no bule verde esmaltado,
angu borbulhando e espirrando,
A negra bunduda e sorridente fritando carne de porco
e os olhos pequeninos e famintos esperando a comilança.

Nas paredes cheias de vozes,
ele vê desenhos, marcas de pés e costas
e as portas que se abrem e se fecham
são testemunhas das estações
do vai e vem de existências
das permanências, das despedidas... 
e das ausências que ele não consegue mais agarrar.
Vento que passa causando calafrios
emoções, saudades – saudade de cá e de...
essa coisa que incha no peito, que aperta o coração.
O assoalho range, parece chorar pela vida
a vida que vai sempre, indo num se sabe pra onde...
mas indo, com o vento que leva a poeira e as folhas secas. 


Pedro Paulo de Oliveira.
Escritor, Poeta, Acadêmico de Direito, Palestrante e Consultor Parlamentar e Executivo.